O Brasil não tem ideia
Partidos e lideranças não têm programa para lidar com a crise político-econômica
Vinicius Torres Freire - FSP
O BRASIL VIVEU tumultos políticos imensos em cada vez que a economia
passou por baixas grandes, tal como deve ser a de 2014-2015, quem sabe
com 2016 no pacote.
A frase embute bobices, a começar pela vaga palavra "economia". Mas a
estatística do efeito dos PIBs velhos na política não deixa de ser uma
assombração.
Em 1963-64 (golpe), 1981-83 (estertor da ditadura) e 1990-92 (Collor)
houve confluência de crises políticas e econômicas. A mera lembrança
desses anos tão horríveis desacredita a comparação com 2015. Com todas
as suas selvagerias, o Brasil não seria mais assim tão primitivo.
Se a comparação é descabida, também não tem cabimento a atenção menor
que se tem dado aos efeitos do ajuste-arrocho sobre o brasileiro comum,
que só começou a ser esfolado. De resto, há nova confluência de crises
econômica e política.
Sim, o Brasil é mais rico: há muito menos gente no limiar da
sobrevivência. É algo menos desigual. Não há inflações mortais. Há
amortecedores sociais como nunca antes.
Há 30 anos de experiência democrática e válvulas de escape, eleições
bienais, embora o Congresso flerte com a ideia idiota de realizá-las
apenas em anos de Copa.
Mas a crise econômica de fundo é difícil, "estrutural". Resulta em parte
da ideia de que se vai dar jeito na pobreza e na desigualdade apenas
por meio de mera e rápida redistribuição de renda (isto é, via Estado.
Assim só não dá, falta crescimento). Nessa tentativa, nem se promoveu
redistribuição maior (o gasto público e a tributação são ainda
porcamente injustos) e menos ainda se procurou reformar a economia de
modo que ela funcione por si só de modo a promover menos desigualdade e
que cresça mais rápido.
Nos anos finais de Lula 2 e sob Dilma 1 essa ilusão foi sustentada a
base de drogas, dívidas, o que nos levou à beira da quebra e ao arrocho.
Sair do impasse, parar de tomar drogas, é politicamente conflituoso.
Mais ainda em um país que pode ficar socialmente conturbado por três
anos de empobrecimento e estagnado por meia década. Para piorar, nossa
democracia padece de fadiga de material político e, como se sabe pelo
menos 2013, de desconexão entre "ruas" e política formal.
Faltam novidades políticas, como o PT dos 1980, o que suscita temores de
uma novidade do gênero Collor. Não há movimento de renovação nos
partidos que temos, seja por meio de lideranças, seja por correntes
vindas "da base" ou "das ruas".
Desgraçada e infelizmente, diga-se, o PT afunda no seu lodo e na
ignorância espantosa do que sejam políticas públicas, para ficar em
problemas imediatos. Desgraçada e infelizmente, o PSDB "não tem projeto
de país", para resumir o problema no clichê de uma de suas lideranças;
afunda em oportunismo eleitoreiro e ressentimento udenista derrotado.
Quase todo o resto é ainda mais indizível, nanico ou doidivanas. Como se
não bastasse, o sistema incentiva a fragmentação parlamentar, a maior
desde a redemocratização, ao menos. Em tempos de presidente sem
prestígio, política desacreditada e lideranças pequenas, isso induz mais
confusão.
Temos ainda mais problemas políticos e institucionais. Mas conviria
prestar atenção a essa conjunção de crise econômica com falta de rumo
político e de imaginação programática.
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