Postagens excessivas dos pais podem levar à migração de jovens para redes 'mais teens'
Pesquisa indica migração de adolescentes de
redes sociais tradicionais, como o Facebook e Twitter, para canais mais
como Snapchat, Kiwi e Burnbook
Adolescentes
estão incomodados com a presença dos pais nas redes sociais e, por
isso, estão se afastando dos canais nos quais o resto da família está,
segundo pesquisa da UCL
Ana Clara Otoni - O Globo
Se recentemente a preocupação dos pais era a de que o filho
ingressasse em uma rede social, hoje observa-se um movimento contrário:
os filhos estão incomodados com a presença dos pais nas redes sociais
e, por isso, estão se afastando dos canais nos quais o resto da família
está. Esta é uma das conclusões de uma pesquisa feita pelo departamento
de Antropologia da University College London (UCL) chamada "Global Social Media Impact Study".
Os pesquisadores observaram que os adultos usam as redes sociais, em especial o Facebook (são 80 milhões de mães por lá),
para manter a família conectada, como um modo de estarem mais próximos
dos acontecimentos da vida dos filhos. Talvez seja exatamente por isso
que outros canais tenham se tornado mais atraentes aos jovens como
Snapchat e o Kiwi, rede social teen de perguntas e respostas.
— Várias pesquisas têm mostrado que as crianças estão saindo da rede
por causa de conflitos, “marcações” “ou perseguições” dos seus pais. E
esse é um movimento completamente aceitável, considerando principalmente
que o ideal do “eu” em crianças faz-se necessário em algum momento da
infância, principalmente quando caminham para a pré-adolescência. Essas
crianças querem ser elas, querem uma certa independência, seus cérebros
estão em grande transformação em algumas destas fases de transição e
elas precisam de espaço — comenta Lucas Parisi, psicólogoespecializado
em atendimento de famílias e crianças, cyberbullying e problemas
advindos do uso abusivo da internet.
Há,
contudo, algumas peculiaridades nessas "redes sociais teens" que devem
servir de alerta aos pais. O Snapchat, por exemplo, permite o envio de
fotos com limitação do tempo de exposição, o que pode ser um facilitador
para o envio de conteúdo impróprio, como nudez e pornografia. O Kiwi
expõe o usuário a perguntas de qualquer tipo, por isso, não há como
evitar questões envolvendo preconceitos e/ou mensagens de ódio. E ainda o
"Burnbook", aplicativo que têm feito sucesso entre crianças e jovens
nos EUA e serve para fazer comentários anônimos sobre pessoas
conhecidas, como no filme "Garotas Malvadas". O criador do app, que se
assemelha ao polêmico "Secret", Jonhatan Lucas foi acusado nas redes
sociais de promover o cyberbullying. Em sua defesa, o americano
respondeu que "a privacidade é uma ilusão da nova era". Ele argumentou
que os pais são os maiores responsáveis pelo uso indevido do app por
crianças, uma vez que não deveriam permitir que seus filhos menores de
17 anos baixassem o aplicativo.
UMA VEZ NAS REDES, PAIS DEVEM DAR O EXEMPLO
Embora
a maioria das redes sociais exija que o usuário tenha, no mínimo, 13
anos muitas crianças ingressam no mundo das redes sociais precocemente,
inclusive, com o auxílio dos pais. O último levantamento feito
pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil identificou que 52% das
crianças entre 9 e 10 anos têm um perfil próprio em alguma rede social.
Nas idades de 11 e 12 anos esse percentual sobe para 75%. Em
contrapartida, um entre cada três pais (51% dos pais de crianças de 9 a
12 anos, 15% dos pais de adolescentes de 13 a 16 anos) não queria que
seus filhos usassem redes sociais.
Recentemente, o perfil de uma garota de 9 anos, que se autointitulava 'a primeira blogueira fitness infantil' abriu uma discussão sobre o uso das redes sociais por crianças.
— Esse caso me parece uma situação muito nítida de uma vivência de
uma criança do mundo dos adultos, fenômeno também que vem atraindo
atenção de psicólogos que estudam o “adiantamento da fase adulta” —
comenta Parisi.Relação entre pais e adolescentes quando o assunto é rede social - CGI.br
É comum entre as crianças se inspirar em conteúdos de adultos de seu
círculo de relacionamento, como pais, tios, professores, em seus posts
nas redes sociais. A blogueira Anamaria Mendes diz que sempre há uma
discussão nas comunidades e fóruns dos quais participa sobre aceitar ou
não os filhos dos amigos nas redes sociais:
— Muitas vezes a gente esquece que tem criança ali na nossa timeline e
pode acabar compartilhando um conteúdo impróprio para elas — diz
Anamaria.
Os adultos têm uma responsabilidade dupla quanto à mediação do
conteúdo compartilhado não só por ele como também por seus filhos. No
Brasil, 81% diz conversar com os filhos sobre o que eles fazem na
internet, 43% diz tutelar o uso da web e 41% estimulam as crianças a
explorar e aprender coisas novas na rede, segundo o CGI.br. Entre os
pais ouvidos na pesquisa, 13% declararam não fazer nenhum tipo de
mediação ou conscientização sobre o uso da internet pelos filhos.
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