Isolado, o prefeito Fernando Haddad cogitou deixar o PT e saiu em busca de novos aliados para campanha à reeleição
DANIELA LIMA/BELA MEGALE - FSP
Na manhã do dia 20 de maio, duas das três entradas da Prefeitura de São
Paulo foram fechadas por causa de um protesto de funcionários públicos,
que ameaçavam entrar no prédio para falar com o prefeito da cidade.
"Tenho uma pergunta para o Fernando Haddad", disse o sindicalista ao
microfone. "Quero saber se o Haddad ainda é do PT. Aliás, o PT ainda é o
PT?"
O prefeito não ouviu e nenhum de seus subordinados mais próximos se
alarmou, já que os protestos se tornaram uma rotina para Haddad.
Recentemente, o petista foi vaiado no fim de uma apresentação teatral e se envolveu numa discussão com um eleitor quando comia em um bar tradicional da cidade. Externando uma irritação à qual seus aliados já se acostumaram, escreveu no Twitter que foi abordado por "um coxinha", expressão pejorativa usada para definir as elites.
Pessoas próximas afirmam que Haddad tem demonstrado cansaço e sente-se injustiçado. "Tem dia que ele chega e fala que a vida dele não é isso aqui, que não precisa concorrer à reeleição", conta um integrante do primeiro escalão da administração.
Parte da insatisfação tem a ver com sua relação difícil com o próprio partido. Na prefeitura, a avaliação é que os aliados criam mais dores de cabeça do que a oposição. Já os vereadores do PT dizem que Haddad se isolou na prefeitura e não tem paciência para o varejo da política.
"Muitos acreditam que ele não sairá candidato porque não se comporta como tal", afirma um dirigente municipal do partido. "Os vereadores organizam eventos nas suas regiões, o convidam, recebem a confirmação, mas no fim ele não aparece."
Para o presidente municipal do PT, Paulo Fiorilo, são apenas rumores. "A candidatura à reeleição do prefeito é natural", afirmou. "O PT trabalha com esse cenário."
O desgaste com a sigla é tamanho que Haddad chegou a cogitar a possibilidade de deixar o PT. No fim de 2013, quando o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) começou a se afastar dos petistas para lançar sua candidatura presidencial, o prefeito flertou com a ideia de se unir à caravana.
A morte de Campos no início da campanha presidencial interrompeu esse processo. O grupo de Haddad cogitou também uma negociação com o PSOL, sigla criada por dissidentes do PT no início do governo Lula, mas o plano foi abortado logo. "O PSOL ia fazer um coletivo para decidir a cor da camisa que ele iria usar. Não dá", resume um subordinado do petista.
Numa conversa recente, o prefeito descartou qualquer negociação com outras legendas. "É mais fácil deixar a vida pública do que sair do PT."
'DESTROÇADO'
Haddad acha que seu partido está "destroçado" e, sem promover uma forte autocrítica, corre o risco de acabar. Na última semana, viu suas reclamações veladas se tornarem públicas na boca do mais poderoso de seus poucos aliados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Temos que decidir se queremos salvar nossa pele e nossos cargos ou o nosso projeto", disse Lula.
Haddad é o produto do que foi a primeira tentativa da sigla de se reinventar. Ascendeu após o mensalão e foi apresentado ao eleitor em 2012 como o "homem novo", uma versão moderna, técnica e refinada do petismo, que prometia solucionar as dificuldades financeiras da cidade e transformá-la num canteiro de obras com ajuda do dinheiro do governo federal.
Sua vitória, mesmo em meio à condenação de líderes do mensalão, alimentou grandes esperanças no PT.
De lá para cá, no entanto, a popularidade de Haddad derreteu e estacionou num patamar alarmante para os aliados. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 44% dos paulistanos avaliam sua administração como ruim ou péssima, e só 20% a aprovam.
A crise que atinge o PT, com a economia estagnada e o partido novamente no centro de um rumoroso escândalo de corrupção, só aumentaram as dúvidas sobre suas chances na próxima eleição.
Isolado, nos últimos meses Haddad se movimentou para buscar novas parcerias. Nomeou Gabriel Chalita como secretário da Educação para ter o PMDB a seu lado e entregou cargos a outros partidos, como o PR e o PDT, que podem ajudá-lo a montar uma campanha com mais tempo de propaganda na TV.
Em conversas reservadas, ele avalia de forma realista as suas chances. Acha que, se a eleição fosse hoje, o deputado Celso Russomanno (PRB) largaria na frente. A senadora Marta Suplicy, que deixou o PT para entrar no PSB, estaria em segundo lugar. Ele começaria em terceiro.
'MÁGOA'
Haddad atribui boa parte de suas dificuldades à presidente Dilma Rousseff. Foi a pedido dela que ele segurou o aumento da tarifa de ônibus no início de 2013. Ao autorizar o reajuste meses depois, criou o pretexto que deflagrou os protestos de junho daquele ano e se viu sozinho quando foi obrigado a recuar.
O prefeito reclama a liberação de verbas prometidas para investimentos em São Paulo. Acha que, se Dilma entregasse R$ 2 bilhões dos R$ 8 bilhões que prometeu à cidade, ele poderia acelerar o ritmo das obras e aumentar suas chances na disputa eleitoral.
A presidente também sancionou a lei que permite renegociar as dívidas de Estados e municípios com a União, mas a crise econômica a obrigou a adiar a aplicação da norma. Haddad, que prevê uma economia de R$ 26 bilhões com a operação, foi à Justiça contra o governo.
"Há mágoa em ambos", diz um ministro de Dilma. "Aqui, a percepção é que ele se envolveu pouco na campanha em 2014." Aliados da presidente acham que ela não pode ser responsabilizada pelas dificuldades do petista. "O problema é que Haddad não tem a periferia e também não tem os Jardins", rebate o ministro.
A opinião de que o prefeito é incapaz de autocrítica é quase unânime no PT. Haddad não cumpriu várias promessas que o ajudaram a se eleger, como a expansão das creches e o Arco do Futuro, plano para criação de um novo eixo de desenvolvimento entre as zonas Sul e Leste.
Um vereador petista diz que Haddad não soube construir uma marca para sua administração e contribuiu para o próprio desgaste associando-se a iniciativas mal recebidas por parte da população, como as ciclovias e a proibição das sacolinhas plásticas nos supermercados.
Haddad acha que os críticos exageram ao enfatizar questões menores, e alimentam um debate "emburrecido".
Em março, o prefeito voltou às salas de aula. Ele, que fez carreira na academia antes da política, agora passa quatro horas a cada duas semanas com alunos do departamento de ciência política da Universidade de São Paulo (USP). A um conhecido que lhe perguntou outro dia o motivo da mudança na rotina, Haddad ofereceu uma resposta simples: "Voltei a dar aulas para ter com quem conversar".
Recentemente, o petista foi vaiado no fim de uma apresentação teatral e se envolveu numa discussão com um eleitor quando comia em um bar tradicional da cidade. Externando uma irritação à qual seus aliados já se acostumaram, escreveu no Twitter que foi abordado por "um coxinha", expressão pejorativa usada para definir as elites.
Pessoas próximas afirmam que Haddad tem demonstrado cansaço e sente-se injustiçado. "Tem dia que ele chega e fala que a vida dele não é isso aqui, que não precisa concorrer à reeleição", conta um integrante do primeiro escalão da administração.
Parte da insatisfação tem a ver com sua relação difícil com o próprio partido. Na prefeitura, a avaliação é que os aliados criam mais dores de cabeça do que a oposição. Já os vereadores do PT dizem que Haddad se isolou na prefeitura e não tem paciência para o varejo da política.
"Muitos acreditam que ele não sairá candidato porque não se comporta como tal", afirma um dirigente municipal do partido. "Os vereadores organizam eventos nas suas regiões, o convidam, recebem a confirmação, mas no fim ele não aparece."
Para o presidente municipal do PT, Paulo Fiorilo, são apenas rumores. "A candidatura à reeleição do prefeito é natural", afirmou. "O PT trabalha com esse cenário."
O desgaste com a sigla é tamanho que Haddad chegou a cogitar a possibilidade de deixar o PT. No fim de 2013, quando o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) começou a se afastar dos petistas para lançar sua candidatura presidencial, o prefeito flertou com a ideia de se unir à caravana.
A morte de Campos no início da campanha presidencial interrompeu esse processo. O grupo de Haddad cogitou também uma negociação com o PSOL, sigla criada por dissidentes do PT no início do governo Lula, mas o plano foi abortado logo. "O PSOL ia fazer um coletivo para decidir a cor da camisa que ele iria usar. Não dá", resume um subordinado do petista.
Numa conversa recente, o prefeito descartou qualquer negociação com outras legendas. "É mais fácil deixar a vida pública do que sair do PT."
'DESTROÇADO'
Haddad acha que seu partido está "destroçado" e, sem promover uma forte autocrítica, corre o risco de acabar. Na última semana, viu suas reclamações veladas se tornarem públicas na boca do mais poderoso de seus poucos aliados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Temos que decidir se queremos salvar nossa pele e nossos cargos ou o nosso projeto", disse Lula.
Haddad é o produto do que foi a primeira tentativa da sigla de se reinventar. Ascendeu após o mensalão e foi apresentado ao eleitor em 2012 como o "homem novo", uma versão moderna, técnica e refinada do petismo, que prometia solucionar as dificuldades financeiras da cidade e transformá-la num canteiro de obras com ajuda do dinheiro do governo federal.
Sua vitória, mesmo em meio à condenação de líderes do mensalão, alimentou grandes esperanças no PT.
De lá para cá, no entanto, a popularidade de Haddad derreteu e estacionou num patamar alarmante para os aliados. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 44% dos paulistanos avaliam sua administração como ruim ou péssima, e só 20% a aprovam.
A crise que atinge o PT, com a economia estagnada e o partido novamente no centro de um rumoroso escândalo de corrupção, só aumentaram as dúvidas sobre suas chances na próxima eleição.
Isolado, nos últimos meses Haddad se movimentou para buscar novas parcerias. Nomeou Gabriel Chalita como secretário da Educação para ter o PMDB a seu lado e entregou cargos a outros partidos, como o PR e o PDT, que podem ajudá-lo a montar uma campanha com mais tempo de propaganda na TV.
Em conversas reservadas, ele avalia de forma realista as suas chances. Acha que, se a eleição fosse hoje, o deputado Celso Russomanno (PRB) largaria na frente. A senadora Marta Suplicy, que deixou o PT para entrar no PSB, estaria em segundo lugar. Ele começaria em terceiro.
'MÁGOA'
Haddad atribui boa parte de suas dificuldades à presidente Dilma Rousseff. Foi a pedido dela que ele segurou o aumento da tarifa de ônibus no início de 2013. Ao autorizar o reajuste meses depois, criou o pretexto que deflagrou os protestos de junho daquele ano e se viu sozinho quando foi obrigado a recuar.
O prefeito reclama a liberação de verbas prometidas para investimentos em São Paulo. Acha que, se Dilma entregasse R$ 2 bilhões dos R$ 8 bilhões que prometeu à cidade, ele poderia acelerar o ritmo das obras e aumentar suas chances na disputa eleitoral.
A presidente também sancionou a lei que permite renegociar as dívidas de Estados e municípios com a União, mas a crise econômica a obrigou a adiar a aplicação da norma. Haddad, que prevê uma economia de R$ 26 bilhões com a operação, foi à Justiça contra o governo.
"Há mágoa em ambos", diz um ministro de Dilma. "Aqui, a percepção é que ele se envolveu pouco na campanha em 2014." Aliados da presidente acham que ela não pode ser responsabilizada pelas dificuldades do petista. "O problema é que Haddad não tem a periferia e também não tem os Jardins", rebate o ministro.
A opinião de que o prefeito é incapaz de autocrítica é quase unânime no PT. Haddad não cumpriu várias promessas que o ajudaram a se eleger, como a expansão das creches e o Arco do Futuro, plano para criação de um novo eixo de desenvolvimento entre as zonas Sul e Leste.
Um vereador petista diz que Haddad não soube construir uma marca para sua administração e contribuiu para o próprio desgaste associando-se a iniciativas mal recebidas por parte da população, como as ciclovias e a proibição das sacolinhas plásticas nos supermercados.
Haddad acha que os críticos exageram ao enfatizar questões menores, e alimentam um debate "emburrecido".
Em março, o prefeito voltou às salas de aula. Ele, que fez carreira na academia antes da política, agora passa quatro horas a cada duas semanas com alunos do departamento de ciência política da Universidade de São Paulo (USP). A um conhecido que lhe perguntou outro dia o motivo da mudança na rotina, Haddad ofereceu uma resposta simples: "Voltei a dar aulas para ter com quem conversar".
Nenhum comentário:
Postar um comentário