Viagem por outro rumo
FSP
A visita da presidente Dilma Rousseff (PT) aos Estados Unidos possui ao
menos dois significados importantes. O primeiro é a superação definitiva
do episódio que há dois anos abalou a relação entre os parceiros
históricos.
Soube-se, em meados de 2013, que comunicações e dados de cidadãos e
empresas do Brasil haviam sido ilegalmente monitorados pela Agência de
Segurança Nacional norte-americana. A própria presidente caiu na rede de
vigilância.
A revelação levou ao cancelamento da viagem que Dilma faria aos EUA em
outubro daquele ano e obstruiu seriamente os canais de diálogo entre os
dois países.
Iniciativas comerciais já acordadas ficaram travadas no período. Além
disso, o Brasil tornou-se mero espectador de eventos relevantes no
continente, como a crise institucional na Venezuela e a reaproximação
entre EUA e Cuba. Eivada de desconfiança, a relação bilateral atingiu
seu pior momento em mais de duas décadas.
O reatamento dos laços, entabulado na Cúpula das Américas deste ano,
assume no contexto de crise econômica um caráter crucial --e nisso
reside o segundo sentido da visita da presidente.
Os Estados Unidos são o segundo maior destino para produtos brasileiros,
atrás da China, mas com uma diferença fundamental em relação ao gigante
asiático, que compra sobretudo matérias-primas: os manufaturados, de
maior valor agregado, representam 50% das importações norte-americanas.
Faz todo o sentido que Brasília se movimente no sentido de explorar melhor esse potencial.
A visita, entretanto, dificilmente resultará de imediato em grandes
acordos, embora negociações antigas, como a da liberação da carne
brasileira, devam enfim chegar a bom termo. Espera-se também um pacto de
facilitação alfandegária, cujo objetivo é reduzir o tempo de importação
e exportação.
Os Estados Unidos, ademais, são o palco ideal para que Dilma Rousseff
inicie um esforço para restaurar a confiança externa sobre a economia
brasileira. Sua viagem deve buscar passar a mensagem de que o Brasil
está aberto a negócios.
Não é de hoje o interesse de empresários em reforçar a aproximação entre
os dois países, em geral prejudicada por contenciosos setoriais e
incapacidade de criar um amplo plano de intercâmbio bilateral. Já passou
da hora de essa relação com os Estados Unidos render melhores frutos ao
Brasil.
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