Ana Meireles - DN
Sánchez está a ser pressionado pelos barões do partido a não se aliar com o Podemos. Ele não afasta a ideia | REUTERS/Sergio Perez
Sánchez e Rajoy vão recandidatar-se à liderança dos partidos. Iglesias impõe condições aos socialistas, enquanto Rivera avisa que não irá para o governo
No meio da incerteza
política saída das eleições em Espanha deste domingo, ontem havia já
duas certezas: o PSOE vai votar sempre contra um governo de Mariano
Rajoy e do PP, o partido mais votado, mas com apenas 123 dos 176
deputados necessários para uma maioria absoluta, enquanto Albert Rivera
garante que o Ciudadanos vai estar na oposição. O Podemos de Pablo
Iglesias, o grande vencedor deste escrutínio, está disposto a apoiar um
executivo socialista, mas mediante algumas condições. Proposta que Pedro
Sánchez não rejeita por completo.
"O
PSOE atuará com prudência e responsabilidade e é o PP que deve tentar
formar governo, mas o PSOE vai votar não à tomada de posse de Mariano
Rajoy", afirmou ontem o secretário de Ação Política do PSOE, César
Luena, transmitindo uma decisão de Sánchez.
Como
partido mais votado, cabe ao PP tentar formar governo. Mas a perda da
sua maioria absoluta obrigará Mariano Rajoy a negociar alianças -
precisaria do apoio ou abstenção do Ciudadanos e a abstenção do PSOE
para evitar que todas as outras forças políticas bloqueassem a sua
tomada de posse.
"Deve
governar o partido com mais votos. Desde 1977 que sempre governou o
partido com mais apoio", afirmou Rajoy, ontem ao início da noite, numa
reunião da comissão executiva do PP. "Não falei nem tomei a decisão de
começar negociações, mas não vou aceitar que se viole a soberania
nacional", acrescentou, referindo que já havia falado com Sánchez,
trocado mensagens com Rivera e recebido um sms de Iglesias. E admitiu
que "não se pode governar sem apoio".
Esta
reunião do PP ficou marcada pela presença de José María Aznar, após uma
ausência de quatro anos. O ex-governante pediu a Rajoy para realizar um
congresso "aberto" e garantiu que não iria candidatar-se à liderança.
No final do encontro de ontem, Rajoy anunciou que vai recandidatar-se à
chefia do PP no congresso, que se realiza na primavera, mas não disse se
iria fazer a vontade a Aznar.
Do lado
do Ciudadanos, agora o quarto maior partido de Espanha, com 40
deputados, uma coligação com o PP é carta fora do baralho. "Não vamos
fazer parte de nenhum governo. Estaremos na oposição", declarou ontem à
tarde o líder do partido.
Albert Rivera
pediu ainda aos socialistas para esclarecerem o mais depressa possível
se vão coligar-se à esquerda para formar governo, pois "a Espanha não
pode esperar". "Precisamos de saber se o PSOE quer esta legislatura ou
bloqueá-la, levando a novas eleições", afirmou. "Este país não pode
estar parado. Peço ao PP e ao PSOE que pensem em Espanha e permitam o
início da legislatura", acrescentou.
Outro cenário possível é uma coligação entre PSOE e Podemos, algo que, de acordo com o ABC,
Pedro Sánchez admite como possibilidade, apesar da pressão de Felipe
González e outros barões socialistas. Do lado dos socialistas, sabe-se
já também que Sánchez irá concorrer à reeleição como secretário-geral no
próximo congresso do partido.
Enquanto
o PSOE não se decide publicamente sobre uma coligação com o Podemos,
Pablo Iglesias garantiu ontem que não irão viabilizar, "nem com voto
contra nem com abstenção", qualquer governo de Rajoy. E deixou um recado
aos socialistas: só terão o apoio do Podemos se concordarem com um
referendo na Catalunha.
Derrota da austeridade
Bruxelas
reagiu ontem com cautela aos resultados das eleições em Espanha,
pedindo que o novo governo seja "estável" apesar de "todas as
dificuldades". "A Comissão Europeia toma nota dos resultados das
eleições em Espanha. Felicitamos o presidente Rajoy por ter ganho o
maior número de deputados", declarou uma porta-voz comunitária.
Cautela
também parece ser a palavra de ordem na Alemanha. "A situação neste
momento só nos permite felicitar o povo espanhol pela elevada
participação, no entanto, não é claro quem se deve felicitar nesta
situação", afirmou fonte do gabinete de Angela Merkel.
Já
para o primeiro-ministro italiano, de centro-esquerda, o falhanço do PP
em manter a maioria absoluta é a prova da insuficiência da austeridade
implementada pela União Europeia. "Vai ser interessante ver se a Europa
se aperceberá de que a política tacanha de rigor económico e austeridade
não leva a lado nenhum", disse Matteo Renzi.
Também
Alexis Tsipras, que ao contrário de Pablo Iglesias nas legislativas
gregas não apoiou presencialmente a campanha do Podemos, considerou que
os resultados das eleições espanholas foram um sinal de que "a Europa
está a mudar". "A austeridade foi derrotada politicamente também em
Espanha. As forças da defesa da sociedade entraram ativamente na cena
política", afirmou o primeiro-ministro grego e líder do Syriza.
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