Cerco de depoimentos confirma Lula como o chefe
O tamanho do petrolão mostrou que era impossível o então presidente não saber do esquema
O Globo
No escândalo do mensalão, denunciado em 2005, faltou uma peça, o chefe
do esquema. No encaminhamento das denúncias pelo MP contra aquela
“organização criminosa”, o ex-ministro José Dirceu parecia caminhar para
este patíbulo, em silêncio como disciplinado militante, mas, em
julgamento de recurso, a responsabilidade de ser o capo do esquema lhe
foi tirada, e o espaço ficou vago. Mas apenas nos autos processuais,
porque nunca fez sentido tudo aquilo acontecer sem a aprovação e o
acompanhamento de alguém centralizador e vertical como Luiz Inácio Lula
da Silva.
O surgimento do petrolão — construído paralelamente ao mensalão, com
muitos zeros a mais — foi a estridente evidência de que Lula não podia
desconhecer aquilo tudo. A leitura benevolente do mensalão era que
desfalques no Banco do Brasil, dados pelo militante Henrique Pizzolato,
mancomunado com Marcos Valério, se justificavam pela “causa”. O partido
tinha um projeto de poder longevo, para “acabar com a pobreza e a
miséria”. Não serve de atenuante na Justiça criminal, mas aliviava a
culpa moral de petistas, com injeções de ideologia.
O enredo, porém, não fechava. Dirceu voava em jatinhos particulares,
morava em condomínio de alto padrão. E este lado “burguês” do
lulopetismo — já detectado por Golbery do Couto e Silva, na década de
70, segundo Emílio Odebrecht — precisava ser custeado.
Ficou, então, tudo misturado: dinheiro surrupiado de estatais
aparelhadas por companheiros, e drenado por meio de conhecidas
empreiteiras e seus contratos superfaturados, parte para campanhas
petistas e de aliados, parte desviada para bolsos privados de
comissários. A “causa” continuava presente — era preciso manter uma
grande bancada no Congresso, como já conseguira a Arena/PDS na década de
70, para sustentar a ditadura com fachada de democracia representativa.
Mas, desta vez, havia Lula de ego nas alturas, chamado de “o cara” por
Obama, com o desejo de ter sítio em Atibaia, tríplex no Guarujá, um
instituto para ajudar países subdesenvolvidos a superar a pobreza,
também uma adega bem abastecida etc.
O efeito da videoteca das delações da Odebrecht e da decisão de Léo
Pinheiro, da OAS, construtora do prédio do tríplex, de fazer delação
premiada na Lava-Jato, foi desmontar o jogo de espelhos que Lula,
advogados e militância manipulada ainda tentam jogar, e continuarão
insistindo. Só fé de religioso sectário para continuar a acreditar.
Virou, há tempos, questão de dogma.
Lula tem quase nada em seu nome. Usufrui do patrimônio de amigos e
compadres, o advogado Roberto Teixeira o principal deles. A quem Lula
indicou para a Odebrecht, a fim de idealizar uma fraude contratual com a
finalidade de esconder que a empreiteira gastara bem mais que R$ 500
mil, o orçamento inicial, na reforma do sítio de Atibaia, a pedido da
ainda primeira-dama Marisa Letícia, segundo delação da empreiteira.
O GLOBO revelou o tríplex do Guarujá em 2010. Veio uma contínua
avalanche de desmentidos, alguns arrogantes e agressivos. Mesmo com o
vídeo em que Léo Pinheiro mostrava o imóvel ao ainda presidente da
República. O casal Luiz Inácio e Marisa pediu obras, devidamente
executadas. Depois, foi dito que a OAS era a real proprietária do
imóvel.
Na verdade, era mesmo de Lula e família, acaba de confirmar Léo
Pinheiro, perante o juiz Sérgio Moro. E também coube à OAS parte da
reforma do sítio em Atibaia, executada, em maior proporção, pela
Odebrecht. As cozinhas modeladas do sítio e do tríplex do Guarujá foram
compradas no mesmo lugar.
Tanto a empreiteira multinacional Odebrecht quanto a OAS, ambas
fundadas na Bahia, utilizaram o mesmo sistema contábil: o custo de
reformas em imóveis para Lula e outras despesas pessoais dele foram
debitadas de propinas arrecadadas em estatais, por meio de contratos
superfaturados. Ou seja, dinheiro público também elevando o padrão de
vida de Lula, família e outros lulopetistas, por certo.
Os depoimentos que foram divulgados nos últimos dias da Odebrecht e
agora de Léo Pinheiro não surpreendem pelos fatos em si, muitos deles já
ventilados, mas pela dimensão do esquema, pela riqueza de detalhes
sórdidos na forma como os governos Lula e Dilma foram corrompidos e
também corromperam. Não há inocentes na história. Seja em nome da
“causa” ou da boa vida.
O desnudamento de Lula em carne e osso, em praça pública, com os
pecados da baixa política brasileira, parece apenas começar. Afinal, não
se pode admitir que tudo o que foi falado até agora por Marcelo, Emílio
Odebrecht e seus executivos, sobre o toma lá dá de cá com o presidente e
ex-presidente, não tenha sustentação em provas documentais. O mesmo
vale para Léo Pinheiro. Empreiteiros não só sabem fazer contas, como são
precavidos. Mas os simples testemunhos já são arrasadores.
Outra grave ameaça a Lula é o depoimento de Léo Pinheiro de que o
ainda presidente mandou-o eliminar provas de remessas de dinheiro ilegal
para João Vaccari, tesoureiro do PT, há algum tempo na carceragem de
Curitiba. Será a segunda denúncia de tentativa de obstrução da Justiça,
depois da sua participação, segundo Delcídio Amaral, na manobra para
calar Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, um dos dutos do desvio de
dinheiro da estatal para o lulopetismo e aliados.
Completando o cerco a Lula, há o ex-ministro Antonio Palocci, também
preso em Curitiba, e que estaria negociando um acordo de delação
premiada. Seria uma espécie de mãe de todas as delações. Ou uma dessas
mães. Foi ministro da Fazenda de Lula, homem de confiança do
ex-presidente, escalado por ele para tentar gerenciar a imprevisível
Dilma Rousseff. Mas as “consultorias” de Palloci o derrubaram.
Importante é que Palocci surge nas delações da Odebrecht como
homem-chave no relacionamento financeiro entre a empreiteira e o
ex-presidente. Gratos, os Odebrecht abriram um crédito de R$ 40 milhões
para Lula, a serem movimentados por meio de Palocci. Assim, seu cacife
aumentou bastante como arquivo de preciosas informações. Mas nada
garante que as fornecerá, mesmo que esteja sendo insinuado pelo
lulopetismo, como forma de salvar o chefe, que o ex-ministro embolsou
dinheiro pedido em nome de Lula.
Emerge desta história a constatação de que os projetos de poder e
pessoais do PT e de outros partidos esbarraram em instituições que
continuam a funcionar por sobre a maior crise econômica do Brasil
República, com sérios desdobramentos políticos. Incluindo um
impeachment, justificado pelo atropelamento voluntarioso da Lei de
Responsabilidade Fiscal, de mesma inspiração ideológica do aparelhamento
de estatais e assaltos realizados em associação com empresários
privados. A ordem jurídica se fortalece.
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