Contra o voto em lista
Como a lista fechada dá às direções partidárias um poder que será de
vida ou morte em relação aos candidatos, a fragilização moral e política
dos partidos leva a que esse sistema seja rejeitado pelos eleitores e
encontre dificuldades de aprovação no Congresso.
Agora mesmo a Comissão de Reforma Política da OAB-SP, presidida pelo
jurista Ives Gandra Martins, decidiu se manifestar publicamente contra o
voto em lista fechada. É um voto de sistema parlamentar de governo,
onde há partidos políticos definidos, comenta o jurista, que é direto em
sua crítica: “No fundo o que eles estão querendo é perpetuar os donos
dos partidos, principalmente os partidos recentemente criados sem base
nenhuma. São pessoas sem nenhuma expressão, que não venceriam o teste de
uma eleição, que vão ficar no topo da lista”.
Além dessa particularidade de nosso precário sistema partidário, que é
a facilidade com que se criam partidos que, em grande parte, viverão
das verbas do Fundo Partidário e das negociações de tempo de televisão
nas campanhas eleitorais, como ficou claro pelas delações dos executivos
da Odebrecht, Ives Gandra ressalta que “os partidos mais antigos querem
o voto em lista para esconder dos eleitores os políticos atingidos pela
Lava Jato”.
Há voto em lista nos países em que existe o sistema parlamentar de
governo, onde os partidos são ideológicos, reafirma. Não pode haver esse
estelionato eleitoral como no Brasil, em que o deputado é eleito por
uma legenda e em seguida muda para outra. “O cidadão tem que fazer
carreira dentro do partido. Em Portugal, ninguém muda de partido
enquanto é deputado”, ressalta Ives Gandra.
Mesmo na Itália, que tem igual número de partidos, cerca de 35, que
o Brasil, só 8 têm assento no Congresso. No Brasil, sem cláusula de
barreira, são nada menos que 28 partidos atuando no Congresso. A
Comissão de Reforma Política da OAB de São Paulo tem como membros, entre
outros,Nelson Jobim, Dalmo Dallari, Almino Affonso, Cláudio Lembo, e
Alexandre de Moraes até ser nomeado ministro da Justiça.
O cientista político Luiz Felipe d’Avila, Diretor-Presidente do
Centro de Liderança Pública, fez uma apresentação para a Comissão no dia
em que ficou decidido que haveria uma manifestação pública contra o
voto em lista fechada. Ele lembrou que no nosso sistema proporcional 70%
dos eleitores não recordam no candidato que votaram para o Parlamento,
por isso são cada vez mais frequentes os protestos de “Eles não me
representam”.
Para o cientista politico, o desinteresse do eleitor e a pressão do
corporativismo colaboram para distanciar o Congresso da sociedade e
transformá-lo em defensor de privilégios de corporações e grupos
organizados. A alta fragmentação partidária no Parlamento leva a que o
eleitor não acompanhe quem elegeu, ou às vezes nem saiba para onde foi
seu voto.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem a campanha parlamentar mais cara do
mundo, frisou Felipe D’Avila. A eleição de 2014 teve 6178 candidatos
(513 eleitos) a um custo total de R$ 5,1 bilhões. A eleição municipal de
2016, com restrição ao financiamento privado, baixou o custo para R$
2,2 bilhões.
A Comissão também está a favor do voto distrital misto, como na
Alemanha, o que, na opinião de Felipe D’Avila, faria aumentar a
responsabilização dos nossos representantes, permitindo o eleitor a
fiscalizar e cobrar o seu parlamentar. Contribuiria, juntamente com o
fim das coligações, também para reduzir o número de partidos no
Congresso, além de reduzir o custo da campanha.
A cláusula de barreira, com a exigência de 2% de votos, levaria a que
apenas 13 partidos pudessem ter atuação no Congresso. A adoção do voto
distrital já para a eleição de 2018 é considerada difícil pelo debate
que acarretará a definição dos distritos, com critérios geográficos e
demográficos a serem estebelecidos pelo TSE e IBGE.
Distritos precisam formar unidades geográficas contínuas, lembrou
Felipe D’Avila, e sua divisão terá que ser feita idealmente de acordo
com números próximos aos quocientes para eleição de deputado federal ou
estadual ou vereador. De qualquer maneira, o voto em lista terá mais
dificuldade ainda de ser aprovado caso não introduza a obrigatoriedade
do voto distrital a partir da próxima eleição.
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