O espanto de quem votou no PMDB
Alvaro Costa e Silva - FSP
O que mais espanta na revelação do tamanho da corrupção fluminense é a
reação: um fim de mundo que surpreendeu a todos. A estupefação é de
quem é confrontado com algo inconcebível, inacreditável, terrível. Há
quem pense que, por paroxismo, tudo não passa de mais um bem bolado
esquema de "fake news": ninguém está preso e mais ninguém irá preso.
Mas a verdade que mais dói são os votos dados ao PMDB. Sérgio Cabral se
transformou numa espécie de soba cleptomaníaco depois de ter sido eleito
deputado estadual três vezes, senador da República e governador duas
vezes. Sua reeleição ao cargo, em 2010, quando tinha 47 anos, deu-se em
primeiro turno, com 66,08% dos votos válidos. Em toda sua trajetória
política, contou com amplo apoio da sociedade, sobretudo da mídia. As
coisas só mudaram com sua chegada triunfal a Bangu.
Pezão, atual governador cujo mandato foi cassado pelo TRE, é cupincha de
Cabral. Chegou ao cargo com 55,78% dos votos. Prefeito do Rio entre
2008 e 2016, Eduardo Paes foi considerado um novo Pereira Passos (como
se a comparação fosse elogiosa). Mas isso antes de ter o nome incluído
na lista de Janot e deixar como legado a ciclovia Tim Maia, que custou
R$ 45 milhões e expõe a população ao risco. Coitado do Tim, que não
votou nele.
Eduardo Cunha, condenado a 15 anos de xilindró, começou a montar seu
curral de influência no Rio. Assim como seu vizinho num condomínio de
luxo na Barra da Tijuca, Jorge Picciani, acusado de organizar o esquema
de propinas no TCE.
Todos tiveram a confiança dos eleitores cariocas e fluminenses, hoje
espantadíssimos com tantos escândalos. A revolta é quase geral. Não vale
para a maioria dos deputados estaduais que aplaudiu Picciani na tribuna
da Alerj, como se ele fosse um Cícero de papadas. Estes, ao menos, são
coerentes em sua falta de espanto.
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