Eu também trabalho diariamente com presos e detentos do sistema carcerário brasileiro, aqui em Santa Catarina, e vejo de perto as mazelas humanas do sistema carcerário. Logicamente que a diferença entre meu local e o dele não faz a mínima importância, porque os seres humanos demonstram comportamentos muito semelhantes. Só não faço tratamento e medico como o Dr. Theodore Dalrymple, mas cuido dos direitos na execução da pena, principalmente certo cuidado para que não venham reincidir e a sociedade não continue convivendo com delinquentes. E já adianto que, cem por cento pobres, da chamada sub-classe pelo Dr. Theodore Dalrymple, eles não entram no crime porque são pobres no sentido material. Essa nem de longe é a causa.
Os presos se defendem e fazem de tudo para se livrar dos malefícios da pena criminal, visando excluí-los de sua responsabilidade pessoal e direta (família sem afeto, sem teto, em desarmonia, na miséria, etc.). A cor de pele ou raça, principalmente negra, também são fatores comumente invocados. A sociedade constantemente também leva a culpa, assim como as amizades, as drogas, as más companhias, o sistema, o próprio Estado, o governo, o juiz, etc. e etc. Dificilmente algum desses detentos se assume como o causador de sua dor pessoal. Alguns reconhecem isso, mas a grande e esmagadora maioria quer sair de fininho da pena e de suas consequências (perda de liberdade e de dignidade).
Por outro lado, virou moda xingar o sistema carcerário brasileiro. De fato, há inúmeros casos de corrupção que o faz parecer viciado e vicioso. Além disso, fede muito, é apertado demais para juntos conviverem humanos, ratos e baratas. Isso é uma grande verdade. E quem está nele cumprindo pena só com muito esforço pessoal sai das facções criminosas e ganha a liberdade para sempre. É uma força tão grande para mantê-los nessa prisão (física e espiritual) que só com muito poder de fé e sacrifício mental eles conseguem enxergar uma outra cosmovisão. Tanto isso é verdade que o Supremo Tribunal Federal chegou a declarar o estado de coisas inconstitucional, decidindo que o Poder Público cumpra as leis em benefício de estabelecimentos penais dignos.
Pois bem. Dito isso, passo a dizer que tanto os detentos e pobres de espírito de Theodore Dalrymple quanto os meus são muito semelhantes. Além disso, os casebres onde cumprem pena são verdadeiros chiqueiros. Ambos merecem a mesma proteção e tratamento, para que venham conhecer a realidade em que se encontram e alguma saída. Ora, a dignidade humana dos detentos implica potencializar o pensamento reflexivo e de autodeterminação. Continuar com essa realidade romântica e sentimental é avivar a inveja e o ressentimento que todo ser humano possui dentro de si. A lógica é uma só: ninguém gosta de se sentir injustiçado. Muitos representantes do Estado aproveitam esse estado mental anormal e jogam uns contra os outros.
Ou seja, essas pessoas da chamada sub-classe (vou continuar usando a expressão cunhada por Theodore Dalrymple) precisam saber que são capazes de criarem, por conta própria, um mundo diferente. A responsabilidade pessoal e direta por tudo que cometeram é uma condição direta de ressocialização. Elas precisam saber que a maior causa de suas prisões não é a pobreza material, e sim do espírito. É preciso dar um basta nesse comportamento autodestrutivo.
A par desse sentimento de vitimização, o Estado de Bem-estar Social, a bem da verdade, é que coopera mais ainda com dor e sofrimento, agravando a situação de penúria. Todos queremos certo bem-estar sem compromissos e responsabilidades, o bônus sem o ônus. Mas isso é impossível sem luta e sacrifícios pessoais. A história e a natureza humana confirmam que a intervenção estatal só complicou e trouxe acomodação aos indivíduos.
Temos muitos exemplos de pessoas que saíram da miséria onde estavam e deram a volta por cima, apesar da grave e caótica situação em que estavam em termos materiais e, sobretudo, pela desesperança psicológica. Deram a volta por cima porque perceberam de que são indivíduos portadores de uma grande capacidade de reinventar a vida, acreditando em si mesmos como pessoas capazes e responsáveis.
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