Graça Salgueiro - MSM
O
presidente Donald Trump exibe a ordem executiva assinada em 16 de junho
de 2017 que modifica a política dos Estados Unidos à Cuba, ladeado por
cubano-americanos e cubanos da “velha guarda” exilados há décadas em seu
país. (Foto: Lynne Sladky, AP.)
Desde que tornou-se presidente dos Estados
Unidos em janeiro deste ano, Donald Trump dizia que iria desfazer os
acordos que seu antecessor, Barack Obama, havia feito com os ditadores
da ilha de Cuba. Fiquei ansiosa por ver se, finalmente, alguém teria a
coragem de chamar as coisas por seus nomes reais e fazer algo por
aqueles 11 milhões de escravos de uma ditadura sexagenária, sanguinária e
que sempre foi protegida por países que gozam de liberdade e têm seus
direitos respeitados.
Então vieram as ameaças do delinqüente da Coréia do Norte, as crises
na Síria e Líbano e nada do magnata-presidente olhar para o outro lado.
Em 16 de junho, entretanto, em um evento no teatro Manuel Artime em
Miami, ladeado por ilustres cubanos e cubano-americanos, Trump falou
para uma platéia repleta que iria cancelar todos os acordos feito por
Obama. É necessário deixar claro que não houve um “rompimento”, uma vez
que as relações diplomáticas e comerciais permanecem intactas.
Quando Obama anunciou em 14 de outubro de 2016 que Cuba e Estados
Unidos refizeram suas relações diplomáticas e comerciais, lembro de ter
escrito um artigo denunciando as manobras protecionistas que o muçulmano
fazia à ditadura mais antiga do continente em detrimento do povo
sofrido, espoliado, massacrado, pois os Estados Unidos cederam a todas as exigência feitas por Raúl Castro sem nenhuma
contrapartida. Numa relação entre dois países é de se supor que
qualquer acordo seja feito bilateralmente. Mas com Cuba não foi assim. Raúl Castro fez todas as exigências que quis e Obama apenas disse sim.
Para que se tenha idéia da nocividade que foi esse malfadado acordo, a
repressão se intensificou de tal maneira que só em março deste ano
foram presas mais de 3.000 dissidentes que tudo o que desejam – e
cobravam – era liberdade, em todos os níves.
A repressão cubana continua.
(Foto: Adalberto Roque AFP/Getty Images)
Mas Trump não agiu sozinho porque, provavelmente, não tinha
conhecimento da realidade daquela ditadura. Ele contou com o apoio do
senador Marco Rubio e dos deputados Mario Diaz-Balart e Ileana Ros
Lehtinen, além de vários respeitados membros da comunidade
cubano-americana. Segundo Diaz-Balart, Trump vinha tendo essas conversas
desde o período de campanha, de modo que quando resolveu fazer o
anúncio estava bem preparado.(Foto: Adalberto Roque AFP/Getty Images)
Em seu discurso a primeira coisa que Trump disse foi que estava “cancelando” todos os acordos feitos por Obama e que negociaria um acordo “muito melhor”, para o povo cubano, não para a ditadura. Algumas de suas frases foram de grande impacto, tanto para a platéia que o aplaudia a cada anúncio, quanto para os ditadores e aqueles que apóiam a desgraça alheia.
Disse Trump: “Não levantaremos as sanções a Cuba até que todos os prisioneiros políticos sejam livres, todos os partidos políticos sejam legalizados, se programem eleições livres e supervisionadas internacionalmente e a entrega à Justiça americana de criminosos e fugitivos que encontraram refúgio na ilha”. Ele ainda desafiou Cuba a se sentar na mesa para negociar um novo acordo que seja do melhor interesse dos cubanos como dos americanos.
Trump foi enfático quando disse que qualquer mudança de sua postura em relação a Cuba dependerá dos avanços concretos que o ditador faça em direção aos objetivos propostos por ele. “Quando os cubanos derem passos concretos estaremos prontos, preparados e capazes de voltar à mesa para negociar esse acordo, que será muito melhor. Nossa embaixada permanece aberta com a esperança de que nossos países possam forjar um caminho muito melhor”. Disse ainda que restringirá muito robustamente o fluxo de dólares norte-americanos aos serviços militares, de segurança e inteligência da ilha e dará “passos concretos para se assegurar de que os investimentos de empresas americanas fluem diretamente para o povo. Implementaremos a proibição do turismo e implementaremos o embargo”.
Mas a pergunta que se impõe, é: esse acordo é melhor para quem? No mesmo dia o “Governo Revolucionário” emitiu uma nota [1] onde se coloca como uma super potência de quem os Estados Unidos dependem e cujo prejuízo com as novas exigências será dos americanos. Diz parte desse comunicado: “O Governo de Cuba reitera sua vontade de continuar o diálogo respeitoso e a cooperação em temas de interesse mútuo, assim como a negociação dos assuntos bilaterais pendentes com o Governos dos Estados Unidos. Nos dois últimos anos demonstrou-se que os dois países, como expressou reiteradamente o Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, General de Exército Raúl Castro Ruz, podem cooperar e conviver civilizadamente, respeitando as diferenças e promovendo tudo aquilo que beneficie ambas as nações e povos, porém não se deve esperar que para isso Cuba realize concessões inerentes à sua soberania e independência, nem aceite condicionamentos de nenhuma índole. Qualquer estratégia dirigida a mudar o sistema político, econômico e social em Cuba, quer seja a que pretenda consegui-lo através de pressões e imposições, ou empregando métodos mais sutis, estará condenada ao fracasso”.
Quer dizer, Castro II reitera que, ou é do jeito deles, ou não tem acordo. Porque a ditador nenhum interessa que seu povo viva bem e feliz, que tenha os mesmos direitos e liberdades que eles da Nomenklatura se outorgaram. Para disfarçar, a Assembléia Nacional do Poder Popular está anunciando eleições para 14 de julho próximo, mas isso não é novidade. Sempre houve eleições. O “inusitado” disso é que os candidatos não são escolhidos pelo povo, mas pelos “conselhos”. O povo é obrigado a ir ratificar a escolha – que ele não fez – para os candidatos do partido único, o Partido Comunista Cubano, cujo mandatário sempre teve 100% dos votos. Dessa vez Raúl Castro não vai concorrer pois há tempo anuncia sua resignação em fevereiro de 2018 quando termina seu mandato. Mas isso é assunto para outro artigo.
Trump disse que esse decreto entraria em vigor dentro de 30 dias mas que já seria posto em prática a partir de seu anúncio. Resta saber se ele vai se manter firme em sua palavra de não fazer concessões enquanto suas exigências não forem plenamente acatadas, ou se pelo caminho – ou por pressão de algum lado – mudará de idéia e afrouxará o torniquete. Deus permita que ele se mantenha firme e tenha êxito!
Nota:
[1] Ver documento completo aqui: http://www.granma.cu/cuba/
Graça Salgueiro, escritora e jornalista, é autora do livro ‘O Foro de São Paulo – A Mais Perigosa Organização Revolucionária da América Latina‘, e apresenta o programa Observatório Latino, na Rádio Vox.
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