Comissão do Senado aprova reforma trabalhista, proposta segue para plenário
Projeto foi aprovado na CJJ com 16 votos favoráveis, 9 contrários e uma abstenção
Bárbara Nascimento / Geralda Doca - O Globo
Em seu primeiro teste de força após a denúncia da
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, o
governo conseguiu nesta quarta-feira aprovar a reforma trabalhista na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O placar foi de 16
votos favoráveis, 9 contrários e uma abstenção. O Palácio do Planalto,
contudo, teve que se mobilizar em uma força tarefa durante todo o dia
para evitar perder votos e garantir o resultado.
No meio da tarde, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR),
apresentou uma carta de Temer se comprometendo a realizar, por veto ou
medida provisória, as mudanças que o Senado acordar necessárias. E leu
ainda um documento listando os pontos que deverão ser mudados no
projeto.
O governo teve que ceder a novos ajustes pedidos pelos
senadores no texto. Inicialmente, os pedidos de mudança somavam seis,
todos listados no parecer do relator de mérito da proposta, senador
Ricardo Ferraço (PSDB-ES). Isso foi ampliado. Entre as novidades estão,
por exemplo, o veto ao trecho que estabelece que indenizações por dano
moral serão proporcionais ao salário do empregado. E o veto à exigência
de exclusividade a trabalhadores autônomos. Ambos são pontos que foram
repetitivamente criticados na proposta.
A
intenção é que o documento lido por Jucá funcione como um “acordo de
entendimento” entre os parlamentares das mudanças que deverão ser
pedidas ao Palácio do Planalto. O acordo é que o presidente vete os
trechos apontados ou faça alterações via medida provisória. Caso as
alterações fossem feitas diretamente no texto, o projeto teria que
voltar para a Câmara dos Deputados. Aprovado na CCJ, o projeto segue
agora para o plenário. Para que se cumpra o objetivo de votar na semana
que vem, o governo deve se mobilizar para votar um requerimento de
urgência nos próximos dias, possivelmente ainda hoje.
O acordo traz ainda uma recomendação para que o Planalto
estude a possibilidade de tornar gradual o fim da contribuição sindical
obrigatória. O governo sabe que isso desagrada a deputados, responsáveis
por incluir o fim do imposto no projeto. Na queda de braço entre a
opinião de senadores e deputados, a estratégia utilizada deve ser
incluir o dispositivo em medida provisória e deixar a Câmara votar o
assunto.
— Para avançar na proposta, o presidente decidiu mediar essa
questão. Em tese, a palavra final será da Câmara, quando for apreciar a
MP — disse um interlocutor do governo.
O texto traz ainda mudanças já conhecidas, como a restrição da
jornada intermitente aos setores de comércio e serviços, e o
estabelecimento de que a jornada de 12 horas de trabalho por 36 de
descanso só possa ser fixada por acordo coletivo.
Em relação a gestantes e lactantes, a mudança deve ser
parcial. De acordo com o documento lido por Jucá, continuará vedado a
mulheres nessas condições trabalhar em locais insalubres. Mas ficará
aberta uma exceção para que possam trabalhar em locais de insalubridade
mínima e média caso apresentem atestado médico liberando o trabalho. A
senadora Marta Suplicy (PMDB/SP) saiu em defesa desse item e disse que
as mulheres acabam sofrendo preconceito na contratação em algumas
profissões de insalubridade reduzida por terem que se afastar durante
todo o período de gestação e lactação.
OPOSIÇÃO REBATE ACORDO
A
oposição, no entanto, e até alguns parlamentares da base, como a
senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), não ficou satisfeita com o acordo e
sublinhou que não há nenhuma segurança de que o presidente cumprirá o
acordo ou mesmo que ainda ocupará o cargo quando o projeto deixar o
Congresso Nacional. As posições foram rebatidas pelo líder do governo,
que disse ter autoridade para falar por Temer no Congresso.
— O dia em que eu não puder mais falar pelo presidente da República, eu deixo de ser líder — rebateu Jucá.
Na carta de Temer, lida pelo líder na CCJ, o presidente diz
“reafirmar o compromisso de que os pontos tratados como necessários para
ajustes e colocados ao líder do governo, senador Romero Jucá, e a
equipe da Casa Civil serão assumidos pelo governo”. Segundo assessores
do Planalto, inicialmente a ideia era que o ministro da Casa Civil,
Eliseu Padilha, assinasse a carta. A estratégia, no entanto, foi mudada
na última hora para dar maior "conforto" aos senadores.
Para agravar as dificuldades, o governo teve ontem que
enfrentar uma nova turbulência dentro de sua base. O então líder do
PMDB, Renan Calheiros (AL), deixou o cargo após meses articulando contra
a reforma. Um dia antes, ele entrou em uma discussão no plenário com
Jucá e chegou a ameaçar trocar membros da CCJ para atrapalhar a votação.
Ele defendeu a postergação para a construção de um outro texto e disse
que, se o cargo de liderança o impedisse de tentar modificar o projeto
na comissão, então não gostaria mais de ser o líder da bancada.
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