O perigoso custo das ‘bondades’ de Temer
Ao sinalizar que não respeitará limites para
se defender, presidente ameaça se tornar fator de intranquilidade para a
economia, o oposto do que era quando assumiu
O Globo
O presidente foi muito claro ao indicar que fará tudo para se manter no
Planalto até 31 de dezembro do ano que vem. Na segunda-feira, em
solenidade no Palácio, bradou que ninguém os “destruirá”, ele e seus
ministros. No dia seguinte, depois do encaminhamento ao Supremo, e
divulgação, da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele,
pelo crime de corrupção passiva, fez um irrefletido pronunciamento em
que confirmou não se preocupar com a sensatez para se defender.
Só mesmo sob influência de um espírito guerreiro descuidado o
presidente iria acusar, de forma enviesada, sem provas, o
procurador-geral Rodrigo Janot de receber parte do dinheiro supostamente
pago por serviços advocatícios prestados na assessoria da assinatura do
acordo de delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, do
grupo JBS. Ou desconsideraria o laudo de peritos da Polícia Federal
atestando a ausência de adulteração na gravação da conversa nada
republicana entre ele e Josley, noite alta, no porão do Palácio do
Jaburu.
Este comportamento causa preocupação sobre o que o governo pode fazer
no uso da máquina para defender Temer. A fim de garantir votos na
Câmara dos Deputados, seja na Comissão de Constituição e Justiça ou, em
seguida, no plenário, há tecnologia consolidada e bem conhecida pelos
grandes partidos, entre eles o PMDB do presidente, de como conseguir
apoio com a manipulação de orçamentos, empreguismo etc.
Existe, ainda, a tentação de o Planalto, além de “bondades”
distribuídas no Legislativo, procurar estendê-las à população, na
tentativa perigosa de reverter índices recordes de rejeição ao governo. O
perigo está em que surtos de benevolências populistas só agravarão a
crise fiscal em que o país continua. Não esquecer que a Previdência, sem
reforma, continua a acumular déficits crescentes, sem perspectiva de
equilíbrio.
Enquanto Temer arma barricadas no Planalto, o ministro do
Planejamento, Dyogo Oliveira, busca receitas adicionais para compensar
frustrações na arrecadação tributária. Segundo o último relatório
bimestral, deixaram de ser arrecadados R$ 7 bilhões do total previsto,
ao mesmo tempo em que os gastos ficaram acima da meta em R$ 3,7 bilhões,
muito devido à Previdência, seguro-desemprego e benefícios
assistenciais. Por isso, a meta fiscal do ano — um déficit de R$ 139
bilhões — já está sob risco.
A caneta de um Temer acuado pode tornar o trabalho de Dyogo Oliveira e
o resto da equipe econômica ainda mais árduo. No saco de presentes do
Planalto há um aumento de 4,6% no Bolsa Família, R$ 1 bilhão a fundo
perdido para financiar reformas de imóveis pela Caixa, e assim por
diante.
Quem aposta na manutenção de Temer como fator de garantia da
estabilidade pode se surpreender com um efeito bumerangue: o presidente,
na luta pela sobrevivência, virar o oposto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário