Crise destaca agenda da reforma do Estado
A dificuldade para ser atingida a meta
fiscal, mesmo com déficit, comprova serem incompatíveis o tamanho das
despesas públicas e a renda do contribuinte
O Globo
grande elevação das alíquotas do PIS/Cofins sobre combustíveis, para
ajudar no fechamento das contas fiscais deste ano dentro da meta —
déficit de R$ 139 bilhões —, deve ser absorvida sem maiores impactos na
inflação, por contingências conjunturais. O fato de as tarifas
praticadas pela Petrobras estarem em tendência de baixa, assim como a
própria inflação, compensa a elevação do tributo.
Mas este aspecto isolado, específico, nada significa diante da
constatação de que o peso do Estado sobre os contribuintes chegou ao
insuportável. Nenhuma novidade, mas tem-se, agora, uma prova concreta
desta impossibilidade.
Os números são irrefutáveis. Mesmo com um contingenciamento de R$ 39
bilhões, ampliado agora para R$ 45 bilhões, cifras grandes em si, mas
pequenas diante de um Orçamento de R$ 3,5 trilhões, a máquina federal,
no meio do ano, já rateia: postos da Polícia Rodoviária Federal
desativados, dificuldades também na PF, obras paralisadas e diversos
problemas no abastecimento de insumos, em serviços públicos.
A crise fiscal é estridente demonstração de que o Estado brasileiro
precisa ser reformado, porque está claro que ele é grande demais para
ser sustentado pelos impostos pagos pela sociedade, por pessoas físicas e
jurídicas.
Pode-se argumentar que basta a economia ganhar fôlego, para o
dinheiro voltar a fluir rumo ao Tesouro. Porém, enquanto houver, no
plano econômico, incertezas fiscais, investimentos e consumo ficam
travados. Sem falar da crise política. E, além de tudo, não adiantará
apenas a volta de um fluxo razoável de arrecadação se reformas para
atenuar o custo do Estado não forem feitas. A crise voltará.
Os políticos têm hoje oportunidade de entender o que a crise aponta: é
preciso pautar mudanças estruturais, porque, mesmo com uma carga
tributária muito elevada, de 35% do PIB, ainda há déficit primário. É
certo que os desarranjos do “novo marco macroeconômico” de Dilma
Rousseff e PT desequilibraram de forma grave as contas públicas, mas há
também mecanismos que impulsionam os gastos de forma autônoma, além de
despesas injustificáveis e engessadas.
Um ponto estratégico desta agenda começou a ser atacado, a reforma da
Previdência, paralisada pelo imbróglio político. Ela é fundamental para
evitar que por volta de 2022, como projeta o Ministério do
Planejamento, todos os recursos disponíveis, atendido o teto
constitucional dos gastos, tenham de ser destinados a benefícios
previdenciários.
Mecanismos de correção de benefícios pela inflação ou salário mínimo
precisam ser revistos. Como também normas que engessam de tal forma o
administrador público que ele só tem livres para gerenciar 10% do
Orçamento.
A crise força, ainda, olhar-se o universo de empresas estatais.
Segundo o Planejamento, são, na esfera federal, 159. Apenas 89 têm
orçamento próprio, e 70, portanto, vivem do Tesouro, numa relação
promíscua e sem transparência. Também são as estatais ambiente adequado
para a corrupção: nele falta transparência, há subordinação a políticos e
existe dinheiro do contribuinte.
A dificuldade de o governo fechar as contas, mesmo com déficit, reforça a urgência da reforma do Estado.
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