Mudança de planos
Com habilidade insuspeitada para os que não estão nos bastidores da
Câmara, Rodrigo Maia vem ganhando terreno nas negociações e, nos últimos
dias, encarregou-se de assumir as reivindicações do Rio, além de tentar
fortalecer o DEM e montar uma base política que viabilize uma eventual
interinidade no Palácio do Planalto caso o presidente Michel Temer não
consiga resistir aos processos do Procurador-Geral da República Rodrigo
Janot.
O presidente Michel Temer, que também conhece como poucos os
movimentos das bases na Câmara, já resolveu dar a Maia a alternativa que
mais convém a ele, Temer, que é o governo do Estado, dando razões para
que Rodrigo Maia deixe como plano B a sua substituição na presidência da
República.
Não foi por acaso que o anúncio da vinda para o Rio de homens da
Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal foi feito dias depois que
Maia publicou no Facebook uma cobrança de medidas do governo federal
para reforçar a segurança pública no Rio. O anunciado Plano Nacional de
Segurança começaria pelo Rio, mas até ontem nada havia sido anunciado.
Maia também esteve na negociação para permitir que a Cedae seja
privatizada com o apoio do BNDES, o que dará uma aliviada nas contas
públicas do Estado. Para Temer, o arrefecimento das negociações de
bastidores da sua base política em torno de Rodrigo Maia é um alívio, e o
apoio político que dá ao presidente da Câmara custa bem menos do que as
vantagens que os membros do Centrão pedem para apoiá-lo.
A indicação de Sérgio Sá Leitão para o Ministério da Cultura, em
lugar da filha de Roberto Jefferson do PTB, além de ser um ganho de
qualidade relativo, deixa também o ministério para o Rio de Janeiro,
embora Rodrigo Maia diga que não teve nada a ver com a nomeação.
O interessante é que o pai de Rodrigo, o vereador Cesar Maia,
preparava-se para se candidatar ao governo do Rio, mas deve ter dado uma
pausa nas articulações devido ao fato novo dentro da família, que é a
possibilidade de seu filho se fortalecer nessa corrida governamental.
O presidente Temer vem trabalhando com habilidade nas negociações
partidárias para desamarrar eventuais nós nos partidos que o apóiam,
usando os instrumentos que tem à mão, como distribuição de cargos. A
questão será resolvida na volta dos deputados do recesso parlamentar,
pois, dependendo das pressões que sofrerem, tudo pode mudar, inclusive a
data de 2 de agosto, marcada para a votação da autorização para que o
presidente seja processado no Supremo Tribunal Federal (STF).
Há no governo quem defenda a tese de que seria melhor adiar a votação
para depois da chegada da segunda ação do Procurador-Geral da República
Rodrigo Janot. Embora não seja possível votar conjuntamente os dois
processos, eles podem ser votados separadamente, e se o ambiente
político estiver favorável ao governo, o assunto poderia ser resolvido
no mesmo dia, em sessões distintas.
Não há uma decisão sobre o assunto, e os partidos que fazem parte da
base poderão ter uma idéia melhor da situação ao fim do recesso.
Certamente a escolha do novo ministro da Cultura deve ter deixado mágoas
no PTB de Roberto Jefferson, que esteve com o presidente Temer na
véspera do anúncio. O aumento de impostos, por exemplo, pode mexer
também com os deputados em suas bases. Esse e outros mal-entendidos
ocorrerão até o dia da votação, num governo que tem uma base fluída e
muito sujeita aos humores da baixa política.
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