Cabral confirma R$ 2,5 milhões de caixa dois para campanha de Pezão
Também em depoimento, ex-governador negou ter feito dossiê contra Bretas
Juliana Castro e Marco Grillo - O Globo
O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) disse nesta quarta-feira, em
depoimento à Justiça Federal do Rio, que, em 2013, procurou o empresário
Miguel Skin para pedir recursos para a pré-campanha do então
vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que concorreria à sucessão
estadual em 2014. Cabral afirmou, no entanto, que não estipulou um
valor, mas que, no fim, Skin repassou R$ 2,5 milhões para a campanha de
Pezão e mais R$ 500 mil para um partido aliado.
- Expliquei para ele que teríamos uma parada dura pela frente, uma
eleição majoritária da minha sucessão. Eu disse: vou sair em abril de
2014, nós precisamos pagar a pré-campanha. Eu nunca pedi propina, sempre
pedi apoio. Pedi ao Skin, e ele foi receptivo à ideia e nos apoiou com
alguma coisa em torno de R$ 3 milhões, sendo que R$ 2,5 milhões em caixa
dois e R$ 500 mil para um dos partidos que faziam parte da nossa
coligação - disse Cabral.
Skin está preso e responde a processo, acusado de pagar R$ 16 milhões
em propina para o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes e a Cabral. O
depoimento do ex-governador foi no âmbito dessa ação.
"ESTAMOS DE BEM"
Essa
foi a primeira vez que Cabral e Bretas ficaram frente a frente
novamente depois do último depoimento, há duas semanas, em que o juiz
determinou a transferência do ex-governador para um presídio federal. A
decisão de Bretas foi, posteriormente, derrubada pelo ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
Cabral aproveitou a audiência para se desculpar da referência que fez a familiares de Bretas em uma audiência anterior:
- Até me exaltei, o senhor me desculpa, naquela situação...
- Está superado - disse Bretas.
Em seguida, Cabral negou ter mandado fazer um dossiê contra o juiz e sua família:
-
Obrigado. Não há nada meu pessoal contra o senhor, dossiê, eu nunca fiz
isso com ninguém. Acredite em mim, na minha índole - pediu Cabral.
- Eu não teria o que dizer, se é que existe alguma coisa - disse Bretas.
- É factoide, terrorismo, feito por alguém maldosamente.
Em
outro momento, Cabral voltou a tocar no assunto e disse que estava
"exaltado" e havia "cometido uma indelicadeza" e sido "infeliz na
colocação". Bretas respondeu:
- Eu não espero que o
senhor esteja feliz da vida. O que não afasta o respeito que deve haver
partindo de mim e vice-versa - disse o magistrado.
- O senhor nunca faltou com o respeito comigo, por isso peço desculpa - afirmou Cabral.
- Essa é a minha meta, está superado. Estamos de bem - retrucou Bretas.
A
transferência de Cabral foi determinada por Bretas numa audiência
tensa, que teve bate-boca entre os dois. Na ocasião, o peemedebista
acusou o juiz de querer projeção com seus casos e disse que a família do
magistrado tem uma empresa de bijuterias e que seria a maior do estado.
O Ministério Público Federal (MPF) pediu a transferência de Cabral para
um presídio federal sob o argumento de que o ex-governador, mesmo na
prisão, estava tendo acesso a informações privilegiadas.
Nesta quarta-feira, a TV GLOBO divulgou que a Polícia Federal
investiga, a pedido do MPF, a produção de dossiês contra Bretas e contra
procuradores da força-tarefa da Lava-Jato no Rio. Há a suspeita de que
Cabral, preso desde 17 de novembro do ano passado, esteja por trás dos
movimentos, usando sua influência como ex-governador do estado.
Requisitada a prestar informações sobre o caso, a Secretaria de
Segurança Pública do Rio informou em relatório à PF que um inspetor da
22ª DP, na Penha, fez pesquisas no sistema interno da Polícia Civil em
busca de anotações criminais nos nomes de Bretas e de sua mulher, a
também juíza Simone Bretas. As informações são da TV Globo, e as
pesquisas ocorreram pelo menos em janeiro, maio e setembro de 2017,
quando o ex-governador Sérgio Cabral já estava preso.
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