Um chamado ao capital externo
CARLOS LIMA E GUIDO SOLARI - FSP
O Brasil enfrenta o colossal desafio de recolocar a economia no rumo do
crescimento consistente e contínuo. Só assim será possível superar
graves problemas que afligem a sociedade, como o desemprego que atinge
13 milhões de pessoas.
Nesse esforço, não podemos abrir mão do investimento externo, sobretudo
numa conjuntura em que a União, os Estados e os municípios apresentam
baixa capacidade de investimento.
O que vemos, porém, é uma retração no fluxo de recursos externos para o
Brasil. Em 2016, o volume caiu para US$ 50 bilhões, contra US$ 65
bilhões registrados no ano anterior, segundo a Unctad (Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) —uma queda de 23%, bem
superior à média global de 13%.
Mesmo assim, o Brasil foi o sexto principal destino de investimentos
externos no mundo, demonstrando que, apesar da instabilidade política e
econômica, o país desperta o interesse dos investidores.
Ou seja, a atração desse capital é factível e deveria constar da agenda
deste e do governo que será escolhido pela população nas eleições do
próximo ano.
É certo que o ambiente de negócios brasileiro não é amigável em função
da burocracia, da carga tributária e da complexidade da estrutura
fiscal. Por outro lado, o Brasil possui um mercado interno de enorme
potencial e com grandes oportunidades de negócio.
Sua liderança econômica no continente também o credencia a se tornar base de exportação para os demais mercados da região.
Assim, além de começar a remover os obstáculos já citados, o país
deveria assumir uma atitude ousada na disputa pelos recursos disponíveis
para investimentos ao redor do mundo, promovendo eventos e "roadshows"
para apresentar as oportunidades e potencialidades encobertas nos
últimos anos pela recessão e por acontecimentos negativos, como a
corrupção exposta pela Lava Jato.
Pode parecer irreal defender a alocação de dinheiro público para essa
tarefa num momento de forte restrição orçamentária. Há, porém, programas
de atração de investimentos baseados em parcerias com empresas
privadas, que não requerem grandes volumes de dinheiro.
Em 2014, por exemplo, o governo do Reino Unido promoveu uma licitação
pública para selecionar consultorias que conduzissem o processo de busca
de investimentos em diversas regiões do planeta.
Na América Latina, com exceção do Brasil e do México, a escolhida foi a consultoria brasileira Integration.
Os resultados obtidos com esse trabalho, que motivou mais de 50 empresas
latino-americanas a se instalarem no mercado britânico, revelam que
parcerias bem construídas e criativas podem ser um importante aliado na
atração do capital externo e na recuperação do crescimento econômico,
sem a necessidade de investimentos vultosos.
Eis aí um debate obrigatório para um país que, como o Brasil, necessita
urgentemente retomar o desenvolvimento e se integrar à economia mundial,
assumindo um protagonismo que perdeu nas últimas décadas.
No próximo ano, graças à campanha eleitoral, a sociedade mergulhará num
profundo processo de reflexão sobre grandes temas nacionais. Este é um
ponto que deverá estar presente na agenda de todos os candidatos e ser
exaustivamente debatido em função de sua importância para o futuro do
país.
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