sábado, 8 de março de 2014

A cabeceira desocupada mostra que a presidente nem ousa fingir que governa quando quem manda está por perto
Augusto Nunes - VEJA
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(Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Vista superficialmente, a foto parece apenas registrar um momento de alguma exposição de sorrisos improvisada na sala de reuniões do Palácio da Alvorada. Há o sorriso hipócrita de Lula, o sorriso insosso de Dilma Rousseff, o serviço de aeromoça de João Santana, o sorriso servil de Rui Falcão ou o sorriso raro de Franklin Martins,  que identifica os incapazes de afetos reais. Examinada com a merecida atenção, contudo, a imagem embute pelo menos três informações relevantes sobre o estado das coisas no coração do poder.
Primeira: Lula está mesmo cismado com Aloizio Mercadante, revela o recado visual em código. O Herói da Rendição tem caprichado na na pose de primeiro-ministro desde que assumiu o comando da Casa Civil de Dilma Rousseff. Apesar disso, ou por isso mesmo, o Mercadante visto pelo chefe está tão mal no retrato que nem aparece na foto divulgada pelo Instituto Lula. Sobraram as mãos e nacos dos antebraços. O resto foi escondido pela camisa tamanho GG usada como tarja preta.
Segunda: Lula está tentando ser mais gentil com a sucessora. Como sempre acontece quando o padrinho está por perto, a afilhada tratou de deixar a cabeceira da mesa para quem manda de fato. Lula entrou e saiu com o jeitão de quem sempre morou ali, mas a foto comprova que, no Carnaval deste ano, resolveu fantasiar-se de cavalheiro. Tanto assim que evitou ocupar o lugar reservado ao mais importante entre os presentes. Desta vez, o presidente de fato preferiu continuar governando o PT, o Palácio da Alvorada e o país sentado no meio da mesa. Como se fosse uma Dilma Rousseff.
Terceira: os companheiros acampados na sala se acham mesmo acima de qualquer código legal, fora do alcance da Justiça. Todos sabem que uma reunião como aquela, convocada para tratar da candidatura à reeleição de Lula com o codinome Dilma Rousseff, reduz a residência oficial do chefe de governo a um comitê eleitoral do PT. Todos sabem que estão debochando, simultaneamente, do Judiciário em geral e do TSE em particular, dos partidos de oposição e de milhões de brasileiros decentes que bancam, com o dinheiro dos impostos, até o que beberam e comeram os risonhos participantes do encontro dos aparentemente inimputáveis.
Os Altos Companheiros se  julgam condenados à perpétua impunidade e à eternização no poder. Podem descobrir em outubro que erraram duplamente. Basta que mais eleitores tenham vergonha de votar em gente que não se envergonha de tratar o Brasil como se fosse um vilarejo de faroeste sob o domínio de um bando fora-da-lei.

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