A indústria emagrece
CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Ano a ano, a indústria brasileira vai perdendo
participação na economia. À parte a repetida reclamação de que a falta
de ação do governo produz desindustrialização, o empresário, em geral,
não sabe o que quer e, quando quer, muitas vezes quer a coisa errada.
Tende a dar mais valor a picolés e cala-bocas oficiais do que a
políticas estruturantes de longo prazo.
São raros os que partem do diagnóstico correto, como começa a fazer o
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi). O
ponto de vista recorrente é que a indústria está nessa paradeira porque o
câmbio e os juros estão "fora de lugar". Em vez de entender qual a
função do câmbio e dos juros no arranjo macroeconômico e de pedir
consequência, o empresário clama por desvalorização cambial (alta do
dólar) e juros baixos para lhe dar competitividade artificial, sem
considerar a arrumação da casa.
O pressuposto dessas reivindicações é o de que qualquer governo põe o
câmbio e os juros onde quer e o interesse máximo da política econômica
não é dar condições sustentáveis ao crescimento econômico e ao emprego,
mas fornecer andadores apenas para a indústria, eterna adolescente.
O modelo recorrente é a China, cujo governo definiu, sim, o que quer e
põe o câmbio e os juros onde têm de estar para garantir o efeito
pretendido. Mas o Brasil não é a China, não tem uma poupança equivalente
a 51% do PIB e, por isso, não pode empilhar reservas à vontade nem
operar permanentemente com uma moeda desvalorizada. Bastou, por exemplo,
que, a partir de maio de 2013, o governo brasileiro passasse a manobrar
para puxar as cotações do dólar para que, logo em seguida, o Banco
Central tivesse de trabalhar para evitar que a disparada do câmbio
provocasse uma inflação insuportável. Além disso, não está claro que uma
forte desvalorização do dólar seja do interesse de uma indústria que
pretende se inserir no sistema global de produção e distribuição e que,
portanto, depende de suprimento externo de equipamentos, matérias-primas
e de certo endividamento em moeda estrangeira.
Com os juros ocorreu quase o mesmo. Por um momento, as lideranças da
indústria imaginaram que a política monetária não tem importância no
processo de controle dos preços. Assim, os juros poderiam ser baixados
até os níveis internacionais sem que produzissem inflação significativa
no Brasil. A experiência foi feita, o Banco Central derrubou os juros a
2% reais e, a partir de abril de 2013, foi obrigado a puxá-los para os
níveis anteriores porque a inflação disparou.
Durante anos, os chefões da indústria também repeliram propostas de
abertura comercial, sob o argumento de que tiravam mercado em vez de
proporcionar novos acessos a consumidores. O resultado é que, junto com o
Brasil, a indústria brasileira ficou do lado errado. Tem agora como
clientes preferenciais argentinos e venezuelanos que não podem pagar por
encomendas. A indústria automobilística em parte modernizou suas
carroças, mas não consegue competir nem mesmo com uma tarifa
alfandegária de 35% mais proteção extra proporcionada por sobrecarga de
IPI cobrados sobre as vendas de veículos importados.
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