Peter Baker - NYT
Mas o desdobramento apresentou um enigma complicado para o presidente Barack Obama e seus aliados europeus. Mesmo que a Rússia deixe o leste da Ucrânia em paz e evite aumentar sua intervenção militar, será que manterá efetivamente sua ocupação da península da Crimeia?
Desde que as forças russas assumiram o controle da Crimeia, os assessores de Obama admitiram em privado que reverter a ocupação no curto prazo seria difícil, se não impossível, e se concentraram em traçar um limite para evitar que Putin fosse mais longe.
Se a Crimeia permanecer isolada nas próximas semanas, será necessário um esforço para forçar a Rússia a recuar suas tropas, um esforço que poderia distanciar os Estados Unidos de seus aliados europeus, talvez mais dispostos a aceitar o novo status quo.
Até agora, a Casa Branca estava focada em impedir que o confronto se agravasse e, apesar de chocada e até surpresa com a belicosidade e as justificativas das ações de Putin, as autoridades americanas tiraram algum consolo quando ele disse que não vê necessidade, neste momento, para uma intervenção nas áreas de língua russa da Ucrânia oriental.
Os membros da Casa Branca também foram encorajados pela aparente aceitação de Putin de novas eleições em maio como uma forma de legitimar um novo governo ucraniano e por sua decisão de cancelar um exercício militar perto da fronteira. E não detectaram mais tropas na Crimeia.
Enquanto o secretário de Estado John Kerry visitava Kiev nesta terça-feira (4) para demonstrar apoio ao seu governo pró-ocidental sitiado, Obama consultou a chanceler da Alemanha Angela Merkel por telefone para encontrar uma maneira de salvar as aparências para Putin se retirar em favor de monitores internacionais.
Falando com repórteres, Obama disse que alguns haviam interpretado as observações de Putin mais cedo como "uma pausa por um momento para refletir sobre o que aconteceu".
Outros foram contra tirar muitas conclusões das declarações de Putin. "Seria um erro da nossa parte olhar para o que ele está dizendo e achar que esta crise está quase no fim : 'OK, nós perdemos a Crimeia, mas o resto do país está conosco'", disse Ivo Daalder, primeiro embaixador de Obama na Otan e atualmente presidente do Conselho de Chicago para Assuntos Globais.
Ele disse que a Crimeia se tornaria um precedente. "A Crimeia tem grande importância. Significa que um país pode ser invadido e uma grande parte dele pode ser roubada sem qualquer custo.
Em segundo lugar, isso não é apenas sobre a Crimeia. Trata-se de quem, em última instância, está no controle da Ucrânia", disse.
A situação permaneceu tensa, enquanto membros do governo Obama avançavam com planos de sanções que poderiam ser impostas pelos Estados Unidos em conjunto com os aliados europeus. O governo está desenvolvendo planos de medidas crescentes, que se agravariam caso a Rússia continuasse a deixar suas forças na Crimeia, uma região autônoma da Ucrânia.
Arsenal
Obama tem autoridade para tomar várias medidas, sem precisar da aprovação de novas leis pelo Congresso. Para começar, sob uma lei chamada Magnitsky, o Departamento de Estado já elaborou uma lista de cidadãos russos ligados a casos de abusos contra os direitos humanos.O governo poderia prontamente barrar a entrada desses russos nos Estados Unidos, congelar seus bens no país e cortar seu acesso aos bancos americanos.
O presidente também tem o poder, sob as sanções sírias, de ir atrás de indivíduos e instituições russas envolvidas no envio de armas para ajudar o presidente Bashar Assad esmagar a rebelião.
O governo vinha evitando impor essas medidas em uma tentativa de trabalhar com a Rússia no sentido de uma resolução da guerra civil síria. Se forem aplicadas, contudo, podem tirar certos bancos russos do sistema financeiro internacional.
Uma ex-república soviética, a
Ucrânia está no meio de uma disputa de forças entre grupos que querem
mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidade
com a Rússia.
Em fevereiro, Yanukovich foi deposto, um governo interino foi empossado e novas eleições foram convocadas.
As atenções agora se viraram para a Crimeia, região autônoma da Ucrânia de maioria alinhada à Rússia e que convocou um referendo sobre sua soberania.
Tropas russas já assumiram controle sobre a região, apesar dos protestos da comunidade internacional ,e há temores de que possam tentar avançar sobre outras partes da Ucrânia.
Em fevereiro, Yanukovich foi deposto, um governo interino foi empossado e novas eleições foram convocadas.
As atenções agora se viraram para a Crimeia, região autônoma da Ucrânia de maioria alinhada à Rússia e que convocou um referendo sobre sua soberania.
Tropas russas já assumiram controle sobre a região, apesar dos protestos da comunidade internacional ,e há temores de que possam tentar avançar sobre outras partes da Ucrânia.
Em teoria, isso poderia incluir todos, inclusive o próprio Putin, mas as autoridades indicaram que trabalhariam de baixo para cima.
Os líderes da Europa, dependentes do gás natural da Rússia e com laços econômicos muito mais profundos com o país, relutaram em aderir a sanções mais duras neste momento.
Mas uma eventual ordem norte-americana declarando a violação por parte de um banco russo seria enviada a todos os bancos ao redor do mundo, forçando-os a cortar os laços com essa instituição russa ou serem impedidos de fazer negócios com o setor financeiro norte-americano.
"Minha opinião é que a Rússia pode ser forçada a sair da Crimeia com uma combinação de sanções financeiras e ações duras de diplomacia", disse Anders Aslund, especialista de longa data na Rússia e na Ucrânia do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.
Outros duvidam, observando que Obama pode não estar disposto a ir tão longe quanto necessário sem o apoio dos aliados. Sua relutância viria, sobretudo, da possibilidade de pôr em risco a cooperação da Rússia em uma série de questões, incluindo a Síria, o Irã, o Afeganistão e a paz no Oriente Médio.
O precedente pode ser encontrado nos casos da Abkházia e da Ossétia do Sul, duas regiões pró-Moscou que se separaram da Geórgia, uma antiga república soviética.
Após a guerra da Rússia com a Geórgia em 2008, o Kremlin desafiou os Estados Unidos e o resto do mundo com o reconhecimento de sua independência e deixou tropas no local como garantia. Apesar dos protestos, os Estados Unidos e a Europa, por fim, voltaram a fazer negócios como sempre com a Rússia.
Os assessores de Obama disseram que a Ucrânia era diferente e que tinham dificuldade em imaginar um retorno a uma relação normal enquanto as tropas russas ocupassem a Crimeia.
Sua prioridade é evitar que a Rússia anexe a península diretamente, mas acrescentaram que tampouco seria aceitável que ela fique como um enclave sob o controle de Moscou.
Autoridades da Casa Branca disseram que há três possibilidades daqui para frente. A primeira seria um avanço da Rússia para a Ucrânia oriental, mas esperam que as palavras de Putin estejam sinalizando que o presidente russo não tomará este caminho. A segunda seria a Rússia decidir ficar na Crimeia, seja pela anexação ou por um comando de facto.
A terceira seria a Rússia pegar o que autoridades norte-americanas chamam de "saída", permitindo que monitores internacionais substituam as tropas russas nas ruas para evitar ataques contra os habitantes que falam russo e aceitando o governo ucraniano que emergirá das eleições de maio.
Obama disse na terça-feira que reconhecia que a Rússia tem interesses naturais em seu vizinho. Mas complementou que não iria aceitar a violação do direito internacional. "Eu sei que o presidente Putin parece ter um conjunto diferente de advogados que fazem um conjunto diferente de interpretações, mas, em minha opinião, ele não está enganando ninguém".
Obama acrescentou que os ucranianos deveriam ter o direito de determinar seu próprio destino. "Putin pode dizer muitas coisas, mas os fatos neste instante indicam que ele não está respeitando esse princípio", disse ele.
"Ainda há uma oportunidade para a Rússia fazer isso, trabalhando com a comunidade internacional para ajudar a estabilizar a situação".
Tradutor: Deborah Weinberg
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