A sortida herança de problemas para 2015
O Globo
Além do represamento
de tarifas e da desarrumação do setor elétrico, espera o próximo
presidente, tudo indica, uma conta bilionária de gastos correntes
postergados
Seja qual for o
presidente a partir de 1º de janeiro, já se sabe que a — ou o — esperará
no principal gabinete do Palácio do Planalto uma lista razoável de
questões intrincadas no campo da economia. Todas derivadas de erros
cometidos no presente governo.
Ultimamente, quando se fala em
“herança maldita” para o próximo presidente, pensa-se no setor elétrico.
De fato, a desarrumação patrocinada por Dima, ao intervir de maneira
radical no setor e forçar um corte eleitoreiro nas tarifas conjugado com
a renovação de concessões, não será de simples conserto.
Com a
infeliz coincidência de uma seca histórica no Sudeste — potencializada
pela teimosia eleitoreira do governo em não recuar no corte e/ou fazer
campanhas de moderação do consumo —, as termelétricas, de custo
operacional mais elevado, são forçadas a operar em três turnos e, com o
veto palanqueiro ao repasse às contas de luz, cria-se no armário das
contas públicas um “esqueleto” fiscal de grandes dimensões.
O
represamento desta e de outras tarifas, como os preços de combustíveis,
subsidiados pela já sobrecarregada Petrobras, precisa ser equacionado
logo no início do governo. Para fugir de um tarifaço — possibilidade não
afastada —, quem estiver com a faixa presidencial em 1º de janeiro
precisará escalonar o ajuste.
Mas há outros ingredientes também
preocupantes neste pacote de heranças. A própria “contabilidade
criativa” é um deles, porque continua em funcionamento a usina de
produção de números pouco ou nada confiáveis sobre o fluxo de dinheiro
público, embora tenha sido este jogo de ilusionismo estatístico um dos
fatores que contribuíram para o rebaixamento da nota de risco do país
pela agência S&P.
Reportagem do GLOBO da última segunda-feira
revelou que continua o represamento artificial de despesas, feito pelo
Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro na virada do ano, para
maquiar as contas públicas.
Um dos truques — além da
subestimativa de gastos feita no Orçamento — é retardar repasses
obrigatórios. O Tesouro nega que a Previdência padeça do problema. Mas a
operação-tartaruga neste fluxo financeiro, sempre com o objetivo de
melhorar a aparência do superávit primário, iria além. Atingiria, por
exemplo, o programa Minha Casa, Minha Vida, até mesmo o Fundo de Amparo
ao Trabalhador (FAT).
Trabalho feito pela Consultoria de
Orçamento da Câmara, a partir de dados do Sistema Integrado de
Administração Financeira (Siafi), detectou que o Tesouro empurrou de
janeiro para fevereiro 5,66% dos desembolsos previstos. Em fevereiro,
18,9%, e, março, 10,86%.
Nesta progressão, o próximo presidente
também herdará uma conta bilionária postergada para 2015 nas despesas
correntes. Já ampliadas pelo pacote populista-eleitoreiro de 1º de Maio.
Sem falar, nas tarifas irreais. Trabalho e dores de cabeça não
faltarão.
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