Fragilidade das regras
Rodolfo Coelho Prates - Gazeta do Povo (PR)
Quando vamos à feira ou
ao supermercado, por exemplo, é recorrente nos defrontarmos com preços
diferentes daqueles que encontramos então da última vez. O sobe e desce
dos preços significa que as leis da oferta e da demanda estão em pleno
funcionamento. E isso é natural, pois advém das condições de produção e
de consumo. Nesse caso, não há muitas medidas a serem tomadas, a não ser
o consumidor substituir o bem mais caro por um bem mais barato.
Essas
variações tão frequentes nos preços não se relacionam em nada com a
inflação, é um processo normal de alteração dos preços relativos da
economia. Por sua vez, a inflação é o aumento generalizado e contínuo de
todos os preços dos produtos de uma economia. Num ambiente de inflação,
como dos anos 1980 e parte dos anos 1990, ir à feira ou ao supermercado
implica encontrar necessariamente preços superiores ao encontrados na
última vez. E a substituição por produtos mais baratos não resolve, pois
todos estão mais caros. É o governo, por meio da autoridade monetária,
que deve adotar medidas econômicas para controlar a inflação.
Saindo
do âmbito puramente econômico, podemos perceber que o Brasil está se
deparando com um problema semelhante à inflação, mas no contexto social.
É normal e legítimo grupos de pessoas se organizarem e reivindicarem
algumas questões. Se tais reivindicações são legítimas ou não é outra
discussão, mas o ato de reivindicar faz parte de sociedades
democráticas. Sendo assim, conviver, principalmente nas grandes cidades,
com manifestações de qualquer natureza é inerente ao desenvolvimento
social. Se um grupo de trabalhadores decide realizar uma paralisação
para discutir melhores condições de trabalho, isso deve ser uma decisão
entre trabalhadores e a empresa. Não há necessidade de o governo
intervir em um assunto privado dessa natureza, a não ser quando há
desdobramentos em outros campos.
No entanto, o que se pode
observar atualmente no Brasil é uma erupção de manifestações e de
reivindicações sem precedentes. É algo preocupante e indica que há algo
errado com a estrutura social. E isso se relaciona diretamente com o
governo brasileiro, pois ele não tem demonstrado a habilidade necessária
para convergir os diversos interesses sociais.
Em uma sociedade,
as pessoas reconhecem a importância da cooperação, mas diferentemente
de alguns animais, não temos o instinto natural de cooperar. E sempre
ficamos tentados a burlar qualquer ação cooperativa, ou seja, ao
contrário de valorizarmos a coletividade, tomamos ações baseadas no
nosso instinto egoísta, priorizando ganhos imediatos.
É
justamente este o ponto central do governo: estabelecer as regras nos
diversos âmbitos para harmonizar o convívio de pessoas que naturalmente
pensam e agem distintamente. De maneira simplificada, estabelecer regras
para uma sociedade é como implantar um semáforo em duas ruas que se
cruzam. Quando o semáforo entra em pane há vários tipos de transtornos: o
trânsito se torna imensamente mais complicado, a agressividade surge
entre inúmeros motoristas e a insegurança e os riscos de acidente
aumentam. E no contexto atual, podemos perceber justamente que o
semáforo que orienta o “tráfego” brasileiro está com problemas. E é
particularmente esse ponto que o governo precisa se articular para
conseguir coordenar as ações necessárias para estabelecer regras que
visem harmonizar os interesses tão plurais e desiguais como os da
sociedade brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário