Por que só agora?
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma autorizou ontem o aumento da
participação de biodiesel na mistura com o óleo diesel, utilizada tanto
nos motores dos caminhões, como em boa parte das termoelétricas.
A partir de 1.º de junho essa participação irá de 5% para 6%; e, a
partir de 1.º de novembro, de 6% para 7%. O anúncio foi feito como se
tratasse de uma decisão de excelência técnica que só trará benefícios:
diversificará a matriz energética, reduzirá o consumo de derivados de
petróleo, cria mais um mercado cativo para o setor da soja e melhora as
condições operacionais da agricultura familiar.
Se é tudo isso - e, de fato é -, por que então esse aumento da adição
do biodiesel não foi providenciado antes, uma vez que há anos o setor
enfrenta forte capacidade ociosa?
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, calcula que deixará de
ser importado 1,2 bilhão de litros de óleo diesel por ano, o equivalente
a uma despesa de US$ 1 bilhão, a preços de hoje, não incluídas aí as
despesas com frete e seguros. Lobão também lembrou que mais biodiesel na
mistura contribui para a redução de emissões de gás carbônico na
atmosfera. Se é assim, por que o governo não reconheceu esses benefícios
mais cedo, quando poderia ter reduzido ainda mais as importações de
óleo diesel e ter contribuído também mais para preservar o meio
ambiente?
Mais interessado, no momento, em quebrar a resistência e a irrigação
do agronegócio, que vem tratando a presidente Dilma com vaias e
protestos explícitos ou difusos, o governo desconsiderou de repente dois
argumentos a que vinha se agarrando para negar esse aumento da
participação do biodiesel no coquetel com o óleo diesel: o primeiro
deles, o de que encareceria demais os combustíveis, e o segundo, o de
que os preços da mistura final ficariam mais vulneráveis aos vaivéns das
cotações internacionais da soja, especialmente em períodos sujeitos a
drásticas oscilações climáticas.
Ontem, a presidente Dilma preferiu dizer que o impacto da nova
mistura sobre a inflação "é insignificante". Se, ao contrário do que
vinha sustentando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, "é
insignificante", especialmente diante dos demais benefícios
proporcionados, por que - outra vez - essa autorização veio só agora?
No que diz respeito à vulnerabilidade das cotações da soja a períodos
de seca dos grandes produtores mundiais, como Estados Unidos, Brasil e
Argentina, ninguém chegou a levá-la em consideração.
Curiosamente, os mesmos argumentos usados pelo governo Dilma para
justificar esse aumento de biodiesel na mistura com o diesel impõem-se
na defesa das vantagens de outro biocombustível, o etanol. E, no
entanto, ao obrigar a Petrobrás a pagar parte da conta do consumidor de
gasolina, além de avançar sobre o caixa da Petrobrás, a política do
governo prostrou o setor do etanol, sem acenar até agora com nenhuma
perspectiva de redenção.
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