Ex-diretor da Petrobrás diz que líder do PT no Senado recebeu R$ 1 milhão
Em delação premiada,
Paulo Roberto Costa afirma que Humberto Costa foi destinatário, em 2010,
de parte das 'comissões' pagas por empreiteiras a partir de contratos
da estatal
Fausto Macedo, Ricardo Brandt - O Estado de S. Paulo
O líder do PT no Senado, Humberto
Costa (PT-PE), recebeu R$ 1 milhão do esquema de propinas e corrupção na
Petrobrás para sua campanha em 2010, segundo afirmativa do ex-diretor
de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa em um dos seus
depoimentos da delação premiada.O
senador Humberto Costa, líder do PT no Senado, foi acusado pelo
ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, de receber R$ 1 milhão do
esquema de propina na estatal.
O petista integra uma extensa lista de políticos acusados pelo
ex-diretor da Petrobrás na delação por meio da qual espera ter sua pena
reduzida. Dos depoimentos sigilosos, já vieram à tona outros nomes de
supostos beneficiários de dinheiro de propina dos contratos da
Petrobrás, como o da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, também
do PT, o do ex-senador, já morto, Sérgio Guerra, do PSDB, e o do
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, que também já
morreu.
Gleisi e Campos teriam recebido o dinheiro, por meio de
intermediários, para campanhas políticas. No caso de Guerra teria sido
para abafar as investigações de uma CPI sobre a Petrobrás instalada no
Congresso Nacional no ano de 2009. Gleisi, o PSDB e o PSB negam ter
recebido propinas, assim como o líder do PT no Senado.
Empresário. No caso de Humberto Costa, o
ex-diretor da estatal disse que o dinheiro foi solicitado pelo
empresário Mário Barbosa Beltrão, amigo de infância do petista e
presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco
(Assimpra).
Paulo Roberto Costa disse que o dinheiro saiu da cota de 1% do
PP (Partido Progressista),que tinha o controle político da diretoria de
Abastecimento da estatal.
Ainda segundo o ex-diretor, outras unidades da companhia foram
loteadas para o PT (Serviços) e o PMDB (Internacional). Cada diretoria
arrecadava 1% de cada grande contrato.
A Diretoria de Serviços, sob o comando político do PT,
realizava todas as licitações das demais unidades e, por isso, o partido
recebia outros 2% sobre os contratos da estatal, segundo o ex-diretor
de Abastecimento.
Paulo Roberto Costa assumiu o cargo em 2004, por indicação
pessoal do então deputado José Janene (PP-PR), que integrava a base
aliada do Palácio do Planalto na gestão do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Janene, que foi réu no processo do mensalão, morreu em 2010.
Segundo o delator, o PP decidiu ajudar a candidatura de
Humberto Costa, razão pela qual teria cedido parte de sua comissão.
Paulo Roberto Costa afirmou ainda que, se não ajudasse, seria demitido.
Humberto Costa, o primeiro senador pelo PT de Pernambuco, foi
eleito em 2010. Havia exercido antes o cargo de secretário das Cidades
de Pernambuco (2007 a 2010) no governo Eduardo Campos e foi ministro da
Saúde no primeiro mandato de Lula, de janeiro de 2003 a julho de 2005.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás relatou que
conheceu Humberto Costa quando ele chefiava o Ministério da Saúde. Em
sua delação, disse que “um amigo” de Humberto Costa, o empresário Mário
Beltrão, lhe pediu colaboração de R$ 1 milhão para a campanha do petista
ao Senado, em 2010.
Ele não soube informar como ocorreu o repasse do dinheiro, mas
declarou que o empresário lhe confirmou o pagamento. Disse também que o
seu contato era sempre com Mário Barbosa Beltrão, que dirige a
Associação das Empresas do Estado de Pernambuco, “entidade sem fins
lucrativos” e que anuncia como meta “a prestação de serviços aos seus
associados e a defesa dos seus interesses legítimos junto aos órgãos
governamentais”.
A associação criou o “Grupo de Trabalho pelo Desenvolvimento
de Pernambuco” que promove reuniões mensais “com a participação de
empresários, políticos, formadores de opinião, com a finalidade de
discutir os problemas de Pernambuco e apontar soluções”.
Parlamentares. A lista de parlamentares que
teriam sido beneficiados pelo esquema da Petrobrás, segundo a delação de
Paulo Roberto Costa, tem 32 nomes, entre deputados e senadores. Parte
das revelações do ex-diretor da estatal petrolífera foi confirmada pelo
doleiro Alberto Youssef, antigo parceiro de José Janene – ambos
apontados como mentores da Lava Jato. O doleiro está preso na sede da
Polícia Federal em Curitiba, base da Lava Jato, desde 17 de março. Paulo
Roberto Costa está em regime de prisão domiciliar, em seu apartamento,
no Rio.
Caso de políticos está no Supremo. Após
cumprir 7 fases, nas quais mirou em doleiros, lobistas, agentes
públicos, ex-diretores da Petrobrás e empreiteiros envolvidos na trama
de propinas e corrupção na estatal petrolífera, a Operação Lava Jato
passará a lidar com políticos citados por dois delatores do caso. Paulo
Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, por exemplo,
apontou 32 parlamentares, entre deputados e senadores, como
beneficiários de dinheiro ilícito arrecadado por meio de fraudes em
contratos.
O doleiro Alberto Youssef confirmou parte das revelações de
Costa. Como os políticos têm foro privilegiado, as denúncias contra eles
foram enviadas ao Supremo. Ao homologar o acordo de delação de Costa, o
relator da Lava Jato na Corte, ministro Teori Zavascki, anotou: “Há
elementos indicativos, a partir dos termos do depoimento, de possível
envolvimento de várias autoridades, inclusive de parlamentares
federais”.
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