SUELY CALDAS - OESP
Dilma Rousseff passou a campanha eleitoral
inteira demonizando Armínio Fraga, apresentado por Aécio Neves como seu
futuro ministro da Fazenda. Entre profecias e caneladas, ela disse aos
eleitores que Armínio seria uma ameaça aos programas sociais e ao Bolsa
Família e que sua gestão seria pautada pelos interesses dos bancos e do
mercado financeiro. Reeleita, a própria Dilma reconhece agora ter
chegado "a hora da verdade" e partiu para buscar no mercado financeiro
um banqueiro para comandar a economia e assumir o poderoso Ministério da
Fazenda. Presidente do Bradesco, maior banco privado do País, Luiz
Trabuco recusou o convite e sugeriu o nome do economista Joaquim Levy,
ex-secretário do Tesouro no primeiro governo Lula e hoje diretor-gestor
de fundos do Bradesco.
No período em que ocupou a Secretaria do Tesouro, Levy foi o anti-Arno Augustin, o amigo gaúcho da presidente que vai deixar o cargo. Fortalecido por Palocci, ele negava com firmeza e sem recuos propostas de aumento de gastos do PT. Uma delas - a capitalização do BNDES, que receberia injeção de dinheiro público - teve resistência implacável de Levy e não saiu enquanto ele ocupou a função. Augustin não só liberou verbas bilionárias, como usou o BNDES em operações triangulares para falsear as contas públicas.
O currículo de Levy é recheado de experiências variadas. Hoje com 53 anos, graduou-se engenheiro naval, mas tornou-se mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e doutor pela Universidade de Chicago (foco da ideologia liberal), abandonando a engenharia. Exerceu funções no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Central Europeu. De volta ao Brasil, ocupou cargos relevantes nos Ministérios da Fazenda e do Planejamento na gestão FHC. Em 2003, tornou-se o primeiro secretário do Tesouro do governo Lula, de onde saiu em 2006, com a demissão de Antonio Palocci, que na época andava às turras com a ministra Dilma Rousseff em razão de um plano de corte de gastos rechaçado por ela. Indicado por Palocci, Levy voltou a Washington, para ocupar a vice-presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), retornando em seguida ao Brasil para organizar as finanças do governo Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro. Desde 2010, ocupa a direção de gestão de fundos de investimentos do Bradesco.
O primeiro desafio de Levy será restabelecer a confiança no governo. O segundo é sair-se bem-sucedido na relação com uma presidente e um ministro da Casa Civil que parecem hostis à ideia de corrigir erros e cortar despesas - essenciais para recuperar a confiança, estimular investimentos privados e para o País voltar a crescer. Mas no meio disso tudo há uma agenda dificílima e uma crise econômica que não recomendam cortes radicais nas contas públicas. Levy sabe disso. O sucesso (ou fracasso) se dará na dosagem do remédio.
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