O amor ao pobre
- IL
O burguês socialista adora viajar para as praias nordestinas onde a
cerveja, a comida, a maconha e a pousadinha na praia são quase de graça.
Ele pode pagar muito mais por tudo o que consome no paraíso, mas faz
questão de pagar pouco. De vez em quando até dá uma gorjeta, mas sempre
em tom de esmola.
O burguês socialista ama o povão, mas fica feliz mesmo é com uma praia deserta, só para ele.
O burguês socialista passa uma ou duas semanas em alguma vila
miseravelmente paradisíaca tecendo longas poesias sobre a pobreza ao
redor. “Quanta dignidade!”, não cansam de exclamar. Sim… todos eles
querem que aquele bichinho (o pobre) tenha um pouco mais de conforto –
um banheiro melhor, um posto de saúde melhor, uma escola melhor… – mas
nada além disso. Asfaltamento da estrada que leva ao paraíso? Nunca! A
construção de uma fábrica? Jamaix! O burguês socialista não admite que
nada ameace acabar com pobreza daqueles que lhe servem tão bem, por tão
pouco. Não quer saber das dificuldades dos dias de chuva, quando
estradas de terra são interditadas. Não quer saber da falta de opções de
trabalho. Não quer saber da baixa renda da população. O burguês
socialista quer ter a certeza de que todos os anos encontrará aquela
vila de pescadores do mesmo jeito, com sua economia resumida à meia
dúzia de quitandas, pousadas e botecos, com a metade da população
sobrevivendo à custa do governo e com a outra metade trabalhando duro
para oferecer peixe fresco e barato para os turistas.
O burguês socialista se posiciona contra a construção de resorts
simplesmente porque cada resort remete à sua própria vida burguesa,
burguesíssima! O quarto do hotel é igual ao seu quarto!
Auge de uma aventura entre os pobres: ser convidado por uma Dona
Maria qualquer a tomar um cafezinho em seu barraco, comendo aquela broa
de milho que ele nunca compraria se fosse vendida na padaria da rua onde
mora.
Apesar de gostarem mesmo é de gastar dinheiro na Europa esnobe e
liberal, o burguês socialista também vai, de vez em quando, a paraísos
de pobreza mais distantes como Bolívia e Índia, onde repetem os mesmos
suspiros de prazer diante da pobreza dos outros. Assim como muitos
muçulmanos sentem-se obrigados a ir a Meca pelo menos uma vez na vida,
alguns representantes da esquerda caviar vão à Cuba sentir os ares
socialistas, mas sempre voltam rapidinho para o conforto capitalista.
De volta a sua cidade, o burguês socialista junta os amigos num bar
bacana para esnobar o quanto “se deu bem” nas férias. Saboreando
maravilhosas cervejas importadas, relembra das cervejas vagabundas que
tomou junto com pobres num boteco. Para comprovar, tira seu Iphone do
bolso e mostra as fotos: o lugar lindo, as coisas baratas e as pessoas…
Pessoas humildes! O burguês socialista ama a humildade alheia.
O burguês socialista também ama a cultura popular, desde que seus
artistas não se libertem da pobreza. Sua perversão ideológica cobra que o
artista popular passe a vida na favela, morando no mesmo barraco,
vestindo as mesmas roupas, pegando os mesmos ônibus lotados. O burguês
socialista ama o samba e odeia pagode. O burguês socialista respeita o
gosto do povo, menos seu interesse por novela, por programa de
auditório, por programa de fofoca e de comédia da… Rede Globo, claro.
“Artista vendido”, é como se refere a todos os artistas que permitem a
divulgação de seus trabalhos em programas de televisão. As exceções:
artistas que, mesmo sob os confortos e sob as mídias capitalistas,
adotam discursos socialistas e que manifestam apoio a partidos de
esquerda.
O burguês socialista também apoia os movimentos de afirmação
afrodescendente. Ele até transa com uma ou outra neguinha de vez em
quando, mas por puro fetiche. Sua masturbação cotidiana é pelas eslavas
dos sites pornôs americanos; e só se junta com branquinhas, tão
burguesas quanto, claro – ou alguém já viu algum burguês socialista se
casando com favelada e indo morar na favela?
A burguesia socialista carioca é a que, de longe, melhor representa
esse “amor” ao pobre. Nascidos e criados ao nível do mar da zona sul do
Rio de Janeiro, enxergam as favelas penduradas nos morros ao redor como
zoológicos. Cobram respeito ao favelado assim como cobramos respeito aos
animais. Cobram melhoria de vida para os favelados, assim como cobramos
melhores condições de cativeiro para os macacos. Agora, que algumas
comunidades têm seus imóveis valorizados por causa da implantação das
UPPs, a burguesia socialista carioca está preocupadíssima diante da
possibilidade da… “burguesiação” do morro! Vejam que absurdo:
Empresários capitalistas estão seduzindo os humildes moradores das
favelas a venderem seus imóveis para transformá-los em pousadas para os
gringos! “Não pode!”. Gritam. Aquela favela tem que ser preservada em
toda sua pobreza. Seus moradores não podem vender seus imóveis para
tentarem a vida noutro lugar. A cerveja, a maconha e a cocaína vão
disparar de preço! A roda de samba, antes apreciada apenas por moradores
e pela burguesia socialista, passará a contar com a presença de
alemães, suecos, franceses e até de americanos! As pousadas e os bares
que os gringos pretendem montar acabarão se parecendo, vejam só… com
qualquer apartamento ou bar da zona sul do Rio! Que absurdo!
A cretinice ganha novos desenhos quando alguns urbanistas cobram
políticas públicas que preservem as favelas como favelas, a despeito do
que viram na faculdade: que as cidades são organismos mutáveis, que se
constroem e se reconstroem sobre suas próprias histórias – ou alguém
acha que Paris surgiu linda e chique do dia para a noite, após um
estalar de dedos de um Deus bom vivant?
A verdade: Enquanto a burguesia capitalista deseja que o indivíduo
saia da pobreza para poder consumir seus produtos e serviços, a
burguesia socialista deseja que o indivíduo permaneça pobre por toda a
vida, assim lhe servindo como a principal inspiração para suas
masturbações filosóficas.
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