Pasadena era chamada de ‘ruivinha’ após Petrobras constatar que ela estava enferrujada
Apelido, dado mesmo antes da compra, foi
revelado pelo diretor financeiro da Petrobras em depoimento à Comissão
Interna de Apuração da estatal
Eduardo Bresciani - O Globo
A polêmica refinaria de Pasadena já era malvista pela área técnica da
Petrobras desde o início do processo de avaliação para a aquisição. O
desconforto era tal que a refinaria americana tinha um curioso apelido
dados por funcionários antes da realização da compra. O diretor
financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, que no cargo desde 2003, contou
em depoimento à Comissão Interna de Apuração que a refinaria era
chamada de “ruivinha”, e explicou o motivo mostrando o desconforto com o
negócio: Pasadena estava toda enferrujada.
“Pessoas desta sede viajaram para avaliação in loco, e houve reação
negativa dessas pessoas, que não gostaram do que viram e apelidaram a
refinaria de ruivinha, porque estava tudo enferrujado. Havia sentimento
muito negativo, mas também desejo muito forte da área Internacional de
que o negócio ocorresse”, disse Barbassa em 13 de maio deste ano.
Apontado no relatório da comissão como principal articulador do
negócio e responsável em dez das 11 irregularidades levantadas pela
investigação interna, o ex-diretor da área Internacional Nestor Cerveró
atribuiu o mau estado de conservação à falta de preocupação dos
americanos com “aparência”. Ele foi ouvido antes de Barbassa, em 5 de
maio.
“Questionado sobre as recomendações iniciais das avaliações, com
itens apontando deficiências, o depoente declara que as refinarias nos
EUA não têm a mesma preocupação com a aparência como ocorre com as da
Petrobras (meio-fio pintado de branco, tanques pintados etc.)”, registra
o extrato do depoimento do ex-diretor internacional. Cerveró foi além,
dizendo que eventuais problemas nunca foram apontados pela área técnica
como “algo inaceitável ou irreparável”. Destacou que a refinaria nunca
tinha sido proibida de operar nos EUA.
PREJUÍZO CHEGA A US$ 530 milhões
O GLOBO teve acesso ao relatório da comissão e aos extratos dos
depoimentos prestados. Além de Cerveró, foram apontados como
responsáveis pelas irregularidades o ex-presidente José Sérgio
Gabrielli, os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Jorge Zelada e cinco
funcionários. O documento foi encaminhado à área jurídica, para se
avaliar a obrigatoriedade de enviá-lo ao Ministério Público Federal. A
refinaria foi comprada da belga Astra Oil por US$ 1,25 bilhão, em 2
operações. A Petrobras já reconheceu prejuízo contábil de US$ 530
milhões.
Em seu depoimento, Barbassa fez diversas críticas ao negócio. Para
ele, o processo de compra foi “bem rápido”, e a Diretoria Internacional
tinha autonomia “muito grande” e adotava procedimentos “mais
simplificados”. Destacou que a compra da 1ª metade começou a ser
negociada no fim de 2005, e em fevereiro de 2006 já foi aprovada pela
Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração. Barbassa disse que
a diretoria, em fevereiro, não sabia das cláusulas Marlim e “put
option”, que garantiam rentabilidade mínima à sócia e obrigavam a
Petrobras a comprar a 2ª metade em caso de desacordo comercial. Afirmou
que as cláusulas estavam no anexo XXX e só foram conhecidas após
aprovado o negócio. Mas frisou que isso ocorreu antes da assinatura do
contrato, em setembro de 2006. Disse que o negócio não foi desfeito
pois, na Diretoria Internacional, “havia muita vontade de levar
adiante”.
Barbassa contou que só em 2007 sua diretoria conseguiu precificar a
cláusula Marlim, e passou-se a saber quanto representariam os 6,9% de
rendimento mínimo à Astra. Não disse qual seria esse custo, mas frisou
não ser usual que se oferecesse ao vendedor parte do que seria ganho no
futuro. Observou que a ampliação da refinaria para 200 mil barris/dia
foi adiante mesmo estando no contrato a manutenção em 100 mil
barris/dia. Isso gerou briga com a sócia. Afirmou que a compra da 2ª
metade foi negociada para se livrar das duas cláusulas. Barbassa disse
que Pasadena deu prejuízo todos os anos até 2013 e defendeu seu
fechamento.
Cerveró apoiou a condução do negócio. Disse não ser comum se alongar
sobre “cláusulas de saída” quando se negocia proposta de compra. Seu
advogado, Edson Ribeiro, enviou depois carta registrando que a
responsabilidade pela compra era do Conselho de Administração, então
presidido pela presidente Dilma. Gabrielli também defendeu na comissão a
lisura da compra. Em depoimento em 7 de maio, destacou a necessidade
de, naquele momento, investir-se em refino no exterior. Costa respondeu a
perguntas da comissão antes da delação premiada. Seu atual advogado,
João Mestieri, disse que o ex-diretor “não teve nada a ver” com a compra
de Pasadena. Mas não comentou a informação de que na delação Costa
admitiu ter recebido US$ 1,5 milhão para não atrapalhar o negócio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário