A figura do bobo da corte, que divertia o rei e seus áulicos no final da Idade Média, carregava consigo mais nobreza do que os bajuladores de hoje
Sandro Vaia - Blog do Noblat
A adulação talvez seja uma das práticas mais antigas na história da humanidade.
Também pode ser definida ou identificada como bajulação, culto à
personalidade, idolatria, ou mero puxa-saquismo, para usar uma expressão
mais rudimentar.
Quem adula alguém o faz ou por simples espírito subalterno ou por interesse, para abrir caminho para extrair do bajulado alguma vantagem material.
O sótão do universo da prática política é um ambiente adequado para o desenvolvimento desse tipo de comportamento moralmente degenerado. Caudilhos, salvadores da pátria, líderes providenciais, condottieri, fuhrers, duces, guias geniais, costumam reunir em torno de si os mais diversos tipos de aduladores- desde os justificadores intelectuais pretensamente sofisticados até os bajuladores mais vulgares.
Czeslaw Milosz, poeta polonês, Nobel de Literatura de 1980, escreveu “Mentes Cativas”, onde descreve com precisão assustadora como essa prática, que ele conheceu de perto no ambiente intelectual da Polônia ocupada por um regime totalitário,” cria separadamente os estágios sobre os quais a mente dá passagem à compulsão do nada”.
A rendição intelectual, segundo Milosz, cria um “universo de sombras ambulantes”. Ele se referia ao ambiente intoxicado de um regime de partido único instalado à força, num país dominado e subjugado de fora para dentro. Mas nem sempre a força é ferramenta indispensável para subjugar as mentes. A rendição pode ser voluntária, como é voluntária a rendição aos dogmas de fé das religiões.
Esse tipo de rendição suprime o senso crítico, que é fundamento da independência intelectual, e produz abjeções como o discurso póstumo de Lavrenti Béria no funeral de Stálin - “o grande arquiteto do comunismo, guia genial”, por quem “nossos corações estão cheios de tristeza infinita”. Essa obra prima da bajulação não impediu que oito meses depois do enterro do guia genial, Béria fosse fuzilado por traição.
A grandiloquência retórica- Guia, Timoneiro, Grande Líder, Comandante, Chefe Supremo - quase sempre conduz ao ridículo.
O manifesto de apoio a Lula assinado pelos senadores do PT (apoio por que? contra quem?), beira perigosamente o kitsch político e literário:
"Luiz Inácio Lula da Silva, nosso querido Lula, é uma das raras e fantásticas lideranças que conseguem transcender os limites de sua origem social, de sua cultura e do seu tempo histórico. Ele figura no rol escasso dos líderes que rompem os limites, mudam a realidade, fazem a diferença na vida das pessoas, fazem História.”
A prestimosa rapidez com os tradutores juramentados do dialeto dilmês saíram em defesa do peculiar senso de humor da presidente (a mulher sapiens era apenas uma refinadíssima tirada de humor, destinada a mentes privilegiadas e sofisticadas) e de sua profunda erudição (a referência à saga da mandioca tem profundas raízes na história da formação agrícola do país), foi tão abjeta que chega a ganhar tons caricaturais de comédia italiana.
A figura do bobo da corte, que divertia o rei e seus áulicos no final da Idade Média, carregava consigo mais nobreza do que os bajuladores de hoje. Ele tinha agudo senso crítico e fazia o papel de bufão porque tinha licença para criticar e ser mordaz.
O “universo de sombras ambulantes” de que falava Milosz é apenas patético.
Quem adula alguém o faz ou por simples espírito subalterno ou por interesse, para abrir caminho para extrair do bajulado alguma vantagem material.
O sótão do universo da prática política é um ambiente adequado para o desenvolvimento desse tipo de comportamento moralmente degenerado. Caudilhos, salvadores da pátria, líderes providenciais, condottieri, fuhrers, duces, guias geniais, costumam reunir em torno de si os mais diversos tipos de aduladores- desde os justificadores intelectuais pretensamente sofisticados até os bajuladores mais vulgares.
Czeslaw Milosz, poeta polonês, Nobel de Literatura de 1980, escreveu “Mentes Cativas”, onde descreve com precisão assustadora como essa prática, que ele conheceu de perto no ambiente intelectual da Polônia ocupada por um regime totalitário,” cria separadamente os estágios sobre os quais a mente dá passagem à compulsão do nada”.
A rendição intelectual, segundo Milosz, cria um “universo de sombras ambulantes”. Ele se referia ao ambiente intoxicado de um regime de partido único instalado à força, num país dominado e subjugado de fora para dentro. Mas nem sempre a força é ferramenta indispensável para subjugar as mentes. A rendição pode ser voluntária, como é voluntária a rendição aos dogmas de fé das religiões.
Esse tipo de rendição suprime o senso crítico, que é fundamento da independência intelectual, e produz abjeções como o discurso póstumo de Lavrenti Béria no funeral de Stálin - “o grande arquiteto do comunismo, guia genial”, por quem “nossos corações estão cheios de tristeza infinita”. Essa obra prima da bajulação não impediu que oito meses depois do enterro do guia genial, Béria fosse fuzilado por traição.
A grandiloquência retórica- Guia, Timoneiro, Grande Líder, Comandante, Chefe Supremo - quase sempre conduz ao ridículo.
O manifesto de apoio a Lula assinado pelos senadores do PT (apoio por que? contra quem?), beira perigosamente o kitsch político e literário:
"Luiz Inácio Lula da Silva, nosso querido Lula, é uma das raras e fantásticas lideranças que conseguem transcender os limites de sua origem social, de sua cultura e do seu tempo histórico. Ele figura no rol escasso dos líderes que rompem os limites, mudam a realidade, fazem a diferença na vida das pessoas, fazem História.”
A prestimosa rapidez com os tradutores juramentados do dialeto dilmês saíram em defesa do peculiar senso de humor da presidente (a mulher sapiens era apenas uma refinadíssima tirada de humor, destinada a mentes privilegiadas e sofisticadas) e de sua profunda erudição (a referência à saga da mandioca tem profundas raízes na história da formação agrícola do país), foi tão abjeta que chega a ganhar tons caricaturais de comédia italiana.
A figura do bobo da corte, que divertia o rei e seus áulicos no final da Idade Média, carregava consigo mais nobreza do que os bajuladores de hoje. Ele tinha agudo senso crítico e fazia o papel de bufão porque tinha licença para criticar e ser mordaz.
O “universo de sombras ambulantes” de que falava Milosz é apenas patético.
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