A morte da borboleta azul
Sobrou a lagarta vermelha, aquela que se transforma, na melhor das hipóteses, numa mariposa cinza
Monica Baumgarten de Bolle - FSP
A redução da meta fiscal para 2015, de 1,1% do PIB para mísero 0,15%,
não é vitória dos refratários à austeridade, tampouco derrota de Levy.
Como bem disse o ministro da Fazenda em recente entrevista, a revisão da
meta foi fruto de um Congresso que "não ajuda", um Congresso em crise.
O que o ministro não disse é que o Congresso hostil reflete o repúdio à
sua chefe, além da completa falta de habilidade política da presidente.
Contudo, não é de hoje que o país está sem meta. Há quatro anos e sete
meses, o Brasil escolheu o caminho que desaguou na pior crise econômica
em 20 anos.
A recessão, o desemprego, a inflação, nada disso é fruto do ajuste
fiscal que nem sequer foi implantado. Os problemas que assombram os
brasileiros são o resultado nefasto de desmandos sobrepostos na condução
da política econômica.
Ao longo dos últimos anos, antes de ser colunista deste jornal, escrevi
muitos artigos sobre a má gestão da economia brasileira. Em um deles,
publicado no "Globo a Mais" de setembro de 2012, tratei da triste
história da borboleta azul.
Fim dos anos 1970, sul da Inglaterra. Infestação inédita de coelhos
ameaçava os prados verdejantes e as plantações das fazendas da região,
levando os produtores a declarar que uma crise ambiental estava prestes a
ocorrer e a pedir socorro ao governo.
Para evitar um massacre possivelmente infrutífero de coelhos, já que a
taxa de reprodução dos animais é quase inigualável na natureza, as
autoridades encontraram uma solução "brilhante". Inocularam os bichinhos
com um vírus que os deixava letárgicos, mais suscetíveis aos seus
predadores naturais, menos libidinosos.
Inicialmente, o experimento foi um sucesso. A população de coelhos caiu,
preservando as plantações e evitando a temida catástrofe. Contudo, a
estrada para o inferno é pavimentada de boas intenções, como diz o
famoso aforismo.
Com menos coelhos, ervas daninhas proliferaram e a grama cresceu mais do
que o normal. O crescimento da grama acabou aniquilando a população de
um tipo de formiga que só sobrevivia alimentando-se da grama mais baixa.
Infelizmente, essa formiga tinha laços estreitos com a borboleta azul,
carregando seus ovos para o formigueiro e cuidando de suas larvas até
que se tornassem lagartas adultas. Sem a proteção das formigas, os ovos
da borboleta azul ficaram expostos aos predadores. Um dia, a borboleta
azul sumiu para sempre do sul da Inglaterra.
A presidente Dilma Rousseff passou quatro anos inoculando a economia com
o vírus da letargia. Fez transformação radical na condução da política
macroeconômica brasileira, assessorada por renomados "heterodoxos".
Introduziu medidas protecionistas, piorando a conhecida falta de
competitividade das empresas nacionais. Turbinou o crédito público
desarrumando os mercados e enfraquecendo os juros como instrumento de
combate inflacionário. Obliterou a credibilidade fiscal do Brasil ao
permitir "pedaladas" e outras formas sórdidas para mascarar a implosão
dos alicerces das contas públicas brasileiras. Matou a borboleta azul.
Ao falar sobretudo isso em 2012, afirmei que mataríamos a borboleta azul
e sobraria a lagarta vermelha, aquela que se transforma, na melhor das
hipóteses, apenas numa mariposa cinza. Dito e feito.
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