Reinaldo Azevedo - VEJA
Consta que a advogada Beatriz Catta Preta, que celebrou oito acordos de delação premiada e que, subitamente, anunciou que vai deixar o país, dará uma entrevista de alcance nacional nesta quinta em que exporá as alegações de sua decisão. Nos bastidores, comenta-se que ela teria se sentido ameaçada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Bem, nesse caso, parece-me, para alguém com a sua expertise, com a sua trajetória e com os amigos que tem, o mais fácil teria sido, desde logo, botar a boca no trombone, em vez de renunciar à clientela e anunciar o caminho do sol.
Vamos lá… A
ser verdade o que se anda comentando nos becos e nos botecos, o alvo da
moça vai ser mesmo Cunha, que vê, assim, nuvens negras se armando no céu
contra ele. Julio Camargo, ainda como cliente de Catta Preta, desde a
celebração do acordo de delação premiada, demorou nada menos de nove
meses para mudar a versão dos fatos: de um Cunha que não havia recebido
propina, passou para outro que teria recebido US$ 5 milhões.
O fato de eu
fazer restrições a procedimentos que ferem o Estado de Direito leva
imbecis — ou gente de má-fé — a inferir que quero livrar a cara deste ou
daquele. Que cada um pague por aquilo que fez. Eu só me pergunto — e o
farei porque é da minha natureza estranhar o estranhável — como pode um
acordo de delação premiada lidar com a mentira com esse desassombro.
Ora, ou Camargo mentia antes ou mente agora. Logo, devo supor que, mesmo
amparado por um procedimento que o beneficia, ele antepõe algum outro
interesse à verdade. Mais: é lícito mentir num processo de delação
premiada, antes ou agora?
O episódio
sobre Beatriz Catta Preta, quando o petrolão já for história, dará
certamente algum trabalho aos que forem reconstituir os fatos. Para
começo de conversa, será preciso deixar claro que a advogada que
celebrou oito acordos, com honorários milionários (e, quanto a esse
particular, não há nada de errado), era tida como uma espécie de quarto
pilar da Operação Lava Jato. Os outros três são a Polícia Federal, o
Ministério Público e o juiz Sergio Moro.
E a coisa
não é leve. Julio Camargo, antes defendido por Beatriz, tem agora como
advogados Antônio Figueiredo Basto e Adriano Bretas, também defensores
de Alberto Youssef. Nas alegações finais em defesa de seu novo cliente, o
alvo principal é o presidente da Câmara, que agiria segundo “moral da
gangue”. Para os doutores, Cunha atua “astuciosamente” para desacreditar
os depoimentos de seu cliente, usando desde a maledicência até a CPI da
Petrobras.
Antes de
Cunha entrar na mira de Rodrigo Janot, ele já estava na mira de Dilma
Rousseff e de todo o PT. E, a ser verdade o que vai por aí, pode vir a
receber agora um novo petardo. “Ah, então você diz que tudo é
conspiração contra Cunha, que ele não fez nada?” É a leitura que os
imbecis fariam do que vai aqui. Só estou caracterizando a conjunção de
fatores que concorrem para minar o seu poder e a sua influência. Para a
felicidade do Planalto.
É apenas um
fato. E fica a advertência para Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do
Senado. Ele também é investigado e costuma criar problemas para o
Planalto. Aguardem. O que vem por aí não é bonito.
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