Isabelle Rey Lefebvre - Le Monde
O decrescimento demográfico e o declínio econômico vêm tomando conta das cidades da França. Mais de um terço das áreas urbanas estão passando por esse fenômeno, segundo Nicolas Cauchi-Duval, professor no Instituto Demográfico da Universidade de Estrasburgo. Esse especialista calculou para o "Le Monde" que 298 das 771 áreas urbanas da França, principalmente cidades de pequeno ou médio porte, perderam habitantes entre 2006 e 2011, sobretudo famílias jovens, para as metrópoles.
"O fenômeno é antigo, tendo iniciado em 1975 para 22% dessas cidades, como no norte e no centro, e perdurou com uma aceleração nos anos 1900, e depois com a crise de 2008", ele explica. "Agora há 30 novas áreas urbanas nessa condição, que atingem setores como Compiègne, Saint-Malo, Dieppe, Alençon e, no sul, Valréas, Bagnols-sur-Cèze, Nyons..."
Nessas cidades, há moradias vazias aguardando ocupantes, inclusive na habitação social, mas que por falta de candidatos terão de ser demolidas. Até hoje, o tema era tabu entre locadores sociais e representantes governamentais. Os primeiros têm dificuldade em admitir que o futuro não guarda uma perspectiva de inaugurações de novos prédios, e os segundos não querem ouvir falar em declínio, mas sim de "territórios não-tensos" [com demanda atendida]. "Prefiro a expressão 'em transformação'", resume Marie-Noëlle Lienemann, senadora de Paris e presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Moradia Social.
A partir dos anos 2000, Le Creusot teve de demolir moradias operárias e populares: "Deveríamos ter demolido três casas para reconstruir uma única, mas o Estado exigia que fosse uma para uma e concordamos em duas para uma", conta Billardon.
"Estimamos que será necessário demolir entre 10% e 20% desse patrimônio mal situado, obsoleto, inadaptado ao envelhecimento de nossos locatários e custoso por ter um mau isolamento", explica Laurent Goyard, diretor-geral da Federação Nacional das Agências de Habitação, "ou seja, entre 8.350 e 16.700 por ano, durante dez anos. E também é preciso reabilitar 40% dessas unidades. No total, nossas necessidades de financiamentos são de aproximadamente 150 milhões de euros por ano, um objetivo alcançável", ele explica.
"Existe também uma responsabilidade do Estado, que tem tendência a estabelecer objetivos produtivistas, em discrepância com essa realidade, e a orientar os financiamentos para as zonas tensas [com demanda acima da oferta]", acredita Lienemann. "É de uma profunda injustiça que as zonas em dificuldades tenham de pagar pelas metrópoles ricas e em crescimento."
Christophe Bouscaud, diretor-geral da Orne Habitat, confirma: "Foi difícil de aceitar o buraco que o Estado fez em nosso caixa em 2011 e 2012 para realizar o ajuste entre órgãos de moradia social, pois eram reservas constituídas para nossas obras de requalificação, 4 milhões de euros dos quais precisávamos."
Os efeitos foram igualmente nocivos sobre as moradias da iniciativa privada dessas cidades, que precisam concorrer com a iniciativa pública, que é mais barata, muitas vezes com melhor manutenção, e que agora vai buscar clientes com campanhas de comunicação e anúncios na internet. "Isso porque nessas cidades onde os mercados são restritos, qualquer imóvel novo esvazia os antigos e a grande produção de moradias isentas de taxas produziu reações em cadeia devastadoras para todo o setor, seja privado, público, coletivo ou individual, central ou periférico", alerta Goyard, para quem uma regulação se tornou indispensável.
"A França não é o único país que tem enfrentado essa forma de êxodo, essas cidades em retração. Comparado com os Estados Unidos ou à ex-Alemanha Oriental, ela foi afetada mais tardiamente", analisa Sylvie Fol, geógrafa e professora na Universidade Paris-I Panthéon-Sorbonne. "É preciso reconhecer esse decrescimento demográfico, acompanhá-lo e melhorar as condições de vida daqueles que ficam", ela sugere.
"Crise de identidade"
As três famílias da habitação social --agências, empresas sociais de habitação e cooperativas-- se reuniram, no dia 23 de junho, em Creusot (Saône-et-Loire), para abordar de frente o assunto. Não foi por acaso que escolheram Le Creusot, cidade vitimada pela crise siderúrgica dos anos 1980. "Quando a matriz da Creusot-Loire foi embora, tudo afundou, e passamos por uma verdadeira crise de identidade", conta o prefeito André Billardon (Partido Socialista). "Em três décadas, voltamos a criar 5.000 empregos. Não nas pequenas e médias empresas e nos serviços, como havíamos previsto, mas em grandes grupos industriais como Areva, Alstom, General Electric, ArcelorMittal. Ainda estamos com dificuldades para atrair executivos."A partir dos anos 2000, Le Creusot teve de demolir moradias operárias e populares: "Deveríamos ter demolido três casas para reconstruir uma única, mas o Estado exigia que fosse uma para uma e concordamos em duas para uma", conta Billardon.
"Responsabilidade do Estado"
A Federação das Agências de Habitação teve a coragem de realizar uma pesquisa e concluir que metade de suas moradias, ou seja, 835.700 unidades, está situada nessas zonas "não-tensas". Só que quando a vacância passa dos 10%, com as consequentes perdas de alugueis, enquanto os encargos e custos de manutenção permanecem os mesmos, o modelo econômico da moradia social é prejudicado. Sem esquecer os efeitos devastadores que habitações vazias, às vezes muradas, têm sobre a imagem dos bairros em questão."Estimamos que será necessário demolir entre 10% e 20% desse patrimônio mal situado, obsoleto, inadaptado ao envelhecimento de nossos locatários e custoso por ter um mau isolamento", explica Laurent Goyard, diretor-geral da Federação Nacional das Agências de Habitação, "ou seja, entre 8.350 e 16.700 por ano, durante dez anos. E também é preciso reabilitar 40% dessas unidades. No total, nossas necessidades de financiamentos são de aproximadamente 150 milhões de euros por ano, um objetivo alcançável", ele explica.
"Existe também uma responsabilidade do Estado, que tem tendência a estabelecer objetivos produtivistas, em discrepância com essa realidade, e a orientar os financiamentos para as zonas tensas [com demanda acima da oferta]", acredita Lienemann. "É de uma profunda injustiça que as zonas em dificuldades tenham de pagar pelas metrópoles ricas e em crescimento."
Christophe Bouscaud, diretor-geral da Orne Habitat, confirma: "Foi difícil de aceitar o buraco que o Estado fez em nosso caixa em 2011 e 2012 para realizar o ajuste entre órgãos de moradia social, pois eram reservas constituídas para nossas obras de requalificação, 4 milhões de euros dos quais precisávamos."
Os efeitos foram igualmente nocivos sobre as moradias da iniciativa privada dessas cidades, que precisam concorrer com a iniciativa pública, que é mais barata, muitas vezes com melhor manutenção, e que agora vai buscar clientes com campanhas de comunicação e anúncios na internet. "Isso porque nessas cidades onde os mercados são restritos, qualquer imóvel novo esvazia os antigos e a grande produção de moradias isentas de taxas produziu reações em cadeia devastadoras para todo o setor, seja privado, público, coletivo ou individual, central ou periférico", alerta Goyard, para quem uma regulação se tornou indispensável.
"A França não é o único país que tem enfrentado essa forma de êxodo, essas cidades em retração. Comparado com os Estados Unidos ou à ex-Alemanha Oriental, ela foi afetada mais tardiamente", analisa Sylvie Fol, geógrafa e professora na Universidade Paris-I Panthéon-Sorbonne. "É preciso reconhecer esse decrescimento demográfico, acompanhá-lo e melhorar as condições de vida daqueles que ficam", ela sugere.
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