sexta-feira, 31 de julho de 2015

Cameron diz que deportará 'enxame' vindo do Eurotúnel
Segundo premiê, Reino Unido não abrigará milhares de imigrantes que tentam cruzar canal a partir da França
Na cidade francesa de Calais, Folha presencia dezenas perambulando perto de terminal para tentar invadir acesso
LEANDRO COLON  - FSP
Por volta das 2h desta sexta (31) –21h de Brasília nesta quinta (30)–, dezenas de imigrantes, sozinhos ou em grupos, perambulavam em Calais pelo gramado e por ruas de acesso à entrada do Eurotúnel, que liga a cidade do extremo norte da França ao Reino Unido. Ao mesmo tempo, alguns policiais franceses, em minoria, tentavam dispersá-los pela escuridão da mata. Um dos imigrantes se identificou à reportagem da Folha como Abram, 20, nascido na Eritreia, país do leste da África.
Caminhava sozinho, monitorando os poucos caminhões que passavam pelo local neste horário–a principal estratégia é tentar invadir as traseiras desses veículos para chegar escondido ao Reino Unido. "Quero só ir à Inglaterra, onde a vida é melhor", limitou-se a dizer.
É isso que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, quer evitar de todas as formas. Ele indicou nesta quinta-feira (30) que os imigrantes que tentam atravessar o Eurotúnel ilegalmente da França para o Reino Unido podem ser deportados. Segundo Cameron, o Reino Unido não será um "refúgio seguro" para eles.
O premiê provocou críticas da oposição ao classificar de "enxame" os milhares de pessoas que cruzam o mar Mediterrâneo para viver na cidade portuária de Calais, lado francês da saída do canal da Mancha, à espera de uma brecha para atravessar o túnel em direção ao território britânico.
Segundo a administração do Eurotúnel, entre terça (28) e quinta (30), pelo menos 3.800 tentaram fazer esse trajeto –um deles morreu.
"Há um enxame de pessoas vindo pelo Mediterrâneo em busca de uma vida melhor, porque o Reino Unido tem bons empregos, a economia está crescendo, mas precisamos proteger nossas fronteiras", afirmou o premiê ao canal ITV News, durante viagem ao Vietnã.
"Nós temos de proteger as fronteiras para ter certeza de que os turistas britânicos poderão ir para as suas férias", afirmou, referindo-se aos recentes transtornos causados na região aos veículos que tentam cruzar o Eurotúnel para o lado francês.
A Comissão de Refugiados do Reino Unido classificou de "desumana" a declaração.
Líderes dos partidos Trabalhista e Liberal-Democrata também repudiaram as palavras de Cameron.
TENSÃO EM CALAIS
Ao ser abordado pela reportagem em Calais, o imigrante Abram saiu depressa, pediu para não ser fotografado nem disse o sobrenome.
Logo depois dele, outros três passaram pelo mesmo local. Apenas contaram que eram da Síria, mas não quiseram conversa.
A maioria é jovem, entre 20 e 30 anos. Homens são maioria, mas há mulheres.
Muitos imigrantes estão assustados com o aumento da presença de jornalistas nos últimos dias e, sobretudo, com o reforço no efetivo francês de segurança –ao menos 120 policiais de uma tropa especial foram deslocados para conter a onda migratória.
É incerto quantos imigrantes vivem hoje na região –estima-se que haja entre 3.000 e 5.000. Praticamente todos chegaram à Europa pelo mar Mediterrâneo, e a maioria mora em acampamentos, chamados de "jungles".
Também não há um dado oficial sobre a quantidade de pessoas que concluíram com sucesso a travessia para o Reino Unido nos últimos anos.
Segundo relato do parlamentar trabalhista Keith Vaz, 148 foram detidas na terça-feira (28) ao chegar à cidade inglesa de Folkestone. 

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