António Lúcio Baptista - Público
Pensei que seria mais lógico expulsar a Europa, retirar-lhe o nome e até talvez mandar apreender as futuras notas…
O ex-ministro Varoufakis escreveu a certa altura, no jornal The Guardian, um interessante artigo explicando os motivos pelos quais a Europa está em crise desde 2009. Na Europa tem havido indefinições em questões que deviam unir - mutualização, solidariedade norte - sul, reinvestimento em países mais vulneráveis -, o que cria, na sua opinião, uma “grande e profunda angústia existencial”.
A Europa esteve estes dias mais
dividida sobre as propostas de Tsipras, sendo a França, por um lado,
mais tolerante e a Alemanha e os nórdicos, por outro lado, mais
exigentes, no cumprimento das regras europeias.
Nota-se que o norte e o sul da Europa têm culturas e modos de pensar e encarar a vida distintos. Mesmo nos estudos sobre o pensamento das populações essa diferença é flagrante. Enquanto a Suécia, Dinamarca e Finlândia embarcam com a Alemanha, a França e o Reino Unido são menos rígidos.
Vários parlamentos e parlamentares de diversos países da União, desde a Eslováquia à Finlândia, estão, neste momento, a debater o tema. As pessoas na rua, no café e nas redes sociais debatem também as suas ideias. Os líderes dos partidos são cautelosos com o assunto “Grécia”. Nunca mais o tema Europa será um tema adormecido, acomodados que estavam os cidadãos. A crise grega teve pelo menos uma virtude: a de colocar o debate sobre a União em cima da mesa.
Estive há poucos dias em Atenas, no âmbito do Congresso Laser & Aesthetics Europe, e aproveitei para falar com diversas pessoas de algum nível intelectual e constatei a má compreensão do problema. “A Grécia está a ser humilhada pela Europa”, “violentada” até, diziam. De visita à Praça Sintagma senti aquela energia revolucionária e em pouco tempo entrei em regressão hipnoterápica. Fui até ao 25 de Abril, às concentrações em frente ao Quartel-General gritando “Soares é fixe” e “Pires Veloso ao poder”, a luta para manter a liberdade. A Praça Sintagma tornou-se o símbolo da contestação ao imobilismo europeu.
Ainda na Praça Syntagma veio-me à memória uma questão fundamental: como será possível expulsar um país com seis mil ilhas, fundador da democracia e, ainda por cima, “dono” da própria Europa.
Voltei ao hotel, em frente ao templo de Zeus, Deus dos Deuses, e passei da revolução à meditação mitológica. Segundo a mitologia grega a Europa, filha do rei Agenor, rei de Tiro, era uma mulher de grande beleza e provocou a paixão de Zeus. Zeus desenvolveu então um estratagema para raptar Europa, transformando-se em touro. Zeus levou a Europa para a ilha de Creta. Aí nasceram Minor, futuro rei de Creta, Radamente e Sarpedão. Pensei, como seria possível expulsar um país que detém a marca, o nome, da própria Europa. A Europa é a nível internacional um “branding”, uma marca. Representa uma comunidade com perto de 400 milhões cidadãos de culturas diversas. A marca é tão forte que Mario Draghi foi ao Louvre para captar a face da princesa Europa que vai ser a marca de água visível em contra luz nas futuras notas de Euros.
Pensei que seria mais lógico expulsar a Europa, retirar-lhe o nome e até talvez mandar apreender as futuras notas… Fiquei até a pensar, com o dizia Fremint Ortiz, que se poderá “tratar de um caso de pirataria de direitos de autor e direitos conexos” que na OMPI se denomina “figura jurídica que atenta contra os direitos de autor de material impresso ou gravado.”
Mas à luz do templo de Zeus penso que felizmente nada disto vai acontecer. Na mitologia era Zeus, transformado em touro, que dizia: “Nada tema, bela Europa! – Eu sou Zeus e levo-a comigo para a ilha de Creta onde será honrada com uma ilustre descendência” e chegado à ilha o touro assumiu a “forma esplendorosa de um Deus”.
Nota-se que o norte e o sul da Europa têm culturas e modos de pensar e encarar a vida distintos. Mesmo nos estudos sobre o pensamento das populações essa diferença é flagrante. Enquanto a Suécia, Dinamarca e Finlândia embarcam com a Alemanha, a França e o Reino Unido são menos rígidos.
Vários parlamentos e parlamentares de diversos países da União, desde a Eslováquia à Finlândia, estão, neste momento, a debater o tema. As pessoas na rua, no café e nas redes sociais debatem também as suas ideias. Os líderes dos partidos são cautelosos com o assunto “Grécia”. Nunca mais o tema Europa será um tema adormecido, acomodados que estavam os cidadãos. A crise grega teve pelo menos uma virtude: a de colocar o debate sobre a União em cima da mesa.
Estive há poucos dias em Atenas, no âmbito do Congresso Laser & Aesthetics Europe, e aproveitei para falar com diversas pessoas de algum nível intelectual e constatei a má compreensão do problema. “A Grécia está a ser humilhada pela Europa”, “violentada” até, diziam. De visita à Praça Sintagma senti aquela energia revolucionária e em pouco tempo entrei em regressão hipnoterápica. Fui até ao 25 de Abril, às concentrações em frente ao Quartel-General gritando “Soares é fixe” e “Pires Veloso ao poder”, a luta para manter a liberdade. A Praça Sintagma tornou-se o símbolo da contestação ao imobilismo europeu.
Ainda na Praça Syntagma veio-me à memória uma questão fundamental: como será possível expulsar um país com seis mil ilhas, fundador da democracia e, ainda por cima, “dono” da própria Europa.
Voltei ao hotel, em frente ao templo de Zeus, Deus dos Deuses, e passei da revolução à meditação mitológica. Segundo a mitologia grega a Europa, filha do rei Agenor, rei de Tiro, era uma mulher de grande beleza e provocou a paixão de Zeus. Zeus desenvolveu então um estratagema para raptar Europa, transformando-se em touro. Zeus levou a Europa para a ilha de Creta. Aí nasceram Minor, futuro rei de Creta, Radamente e Sarpedão. Pensei, como seria possível expulsar um país que detém a marca, o nome, da própria Europa. A Europa é a nível internacional um “branding”, uma marca. Representa uma comunidade com perto de 400 milhões cidadãos de culturas diversas. A marca é tão forte que Mario Draghi foi ao Louvre para captar a face da princesa Europa que vai ser a marca de água visível em contra luz nas futuras notas de Euros.
Pensei que seria mais lógico expulsar a Europa, retirar-lhe o nome e até talvez mandar apreender as futuras notas… Fiquei até a pensar, com o dizia Fremint Ortiz, que se poderá “tratar de um caso de pirataria de direitos de autor e direitos conexos” que na OMPI se denomina “figura jurídica que atenta contra os direitos de autor de material impresso ou gravado.”
Mas à luz do templo de Zeus penso que felizmente nada disto vai acontecer. Na mitologia era Zeus, transformado em touro, que dizia: “Nada tema, bela Europa! – Eu sou Zeus e levo-a comigo para a ilha de Creta onde será honrada com uma ilustre descendência” e chegado à ilha o touro assumiu a “forma esplendorosa de um Deus”.
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