Reinaldo Azevedo - VEJA
Eu
e todo mundo estamos muito curiosos para saber o que se passa com a
advogada Beatriz Catta Preta, que teve ascensão meteórica como advogada
na área penal, que celebrou nada menos de 9 dos 18 acordos de delação
premiada e que, de súbito, anunciou que está deixando todos os seus
clientes para se mudar para a Miami, onde abriu um escritório.
Ninguém
renuncia, assim, por nada, a uma mina de ouro, como são os corruptos
brasileiros, especialmente depois de tão invulgar sucesso. Muito bem! A
CPI da Petrobras já a havia convocado a prestar depoimento. Especula-se
sobre a origem dos seus proventos. Beatriz foi advogada de algumas
personagens explosivas do escândalo, como Paulo Roberto Costa, Pedro
Barusco e Julio Camargo.
Hugo Motta
(PMDB-PB), presidente da CPI, manteve a convocação de Catta Preta,
apesar dos protestos da OAB e de despacho contrário do juiz Sergio Moro.
Disse ele: “Respeito o doutor Sergio Moro e a OAB, mas a nós cabe
seguir o que o plenário decidiu em sua maioria”.
Motta apelou
à legislação americana e considerou: “A pessoa rouba R$ 100 milhões e
deixa R$ 10 milhões para pagar advogado. Não pode, isso é absurdo”. Ele
lembrou ainda que cabe também à CPI recuperar dinheiro e ativos
roubados.
Há um
pequeno pulo, que pode ser um grande retrocesso para o Estado de
Direito, em especular sobre os ganhos dos advogados. Para que isso vire
obstrução do direito de defesa, falta pouco. De resto, não tenho como
deixar de fazer esta anotação: políticos costumam contratar os mais
renomados penalistas do país, não é mesmo? Será que os honorários são
pagos apenas por seus respectivos vencimentos?
Catta Preta
era o quarto braço da Operação Lava Jato. Segundo apurei, os
investigados eram gentilmente encaminhados para a doutora, que se
encarregava, então, de formatar as delações premiadas. Define-se a sua
abordagem da questão nos meios jurídicos como, no mínimo, polêmica.
Mas daí a
convocar a advogada para a CPI, bem, aí não. Sou um formalista nessa
área. Abrir essa porta pode abrir outras tantas, o que não seria útil ao
estado de direito e ao direito de defesa.
De todo
modo, a minha curiosidade permanece enorme. Por que alguém renuncia,
assim, a uma mina de ouro da noite para o dia? Achar que é tudo culpa de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, descontente com a
mudança de versão de Julio Camargo (ex-cliente de Beatriz), corresponde a
só culpar o malvado predileto da imprensa.
Que tem
caroço nesse angu, ah, isso tem. E há o risco de ele estar relacionado à
proximidade que, tudo indica, pode ter sido bastante heterodoxa entre a
doutora Beatriz e a força-tarefa. Não sei não… Acho que Cunha não tem
nada com isso.
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