quinta-feira, 30 de julho de 2015

Brasil fica mais próximo de perder selo de bom pagador
S&P vê piora do cenário político e econômico e põe nota em perspectiva negativa
Agência foi a primeira a tirar o país do chamado grau especulativo; Fitch e Moody's ainda dão rating melhor
THAIS BILENKY - FSP
A deterioração do cenário político e econômico, que tornou ainda mais difícil para o governo cumprir a sua meta fiscal, deixou o Brasil mais perto de perder o grau de investimento (selo de bom pagador) concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
Na escala da agência, o Brasil está no limite do grau de investimento, com a avaliação BBB-, mas a expectativa, antes neutra, passou a ser negativa –ou seja, cresceu a chance da redução da nota.
Segundo Lisa Schineller, diretora da agência americana, não há um prazo prefixado para a reavaliação da nota brasileira, e um eventual rebaixamento dependeria de uma nova piora significativa do cenário do país. "Se houver maior deterioração, poderemos reduzir a nota", disse.
No comunicado da decisão, a S&P não determina um prazo para reavaliar a nota. É comum que as agências estabeleçam um período, muitas vezes de 12 a 18 meses.
O rebaixamento poderia levar a um aumento de juros, e o governo Dilma Rousseff teme que isso eleve a pressão pela alta do dólar.
A S&P foi a primeira agência a conceder o grau de investimento ao Brasil, em 2008, em uma decisão que coincidiu com um período de alta na Bolsa de Valores.
No caso das concorrentes Fitch e Moody's, o país está dois degraus acima do grau especulativo, em que há chance maior de calote.
Para boa parte de grandes investidores internacionais, é preciso que ao menos duas agências de classificação concedam o selo de bom pagador para que eles possam manter o investimento em ações e títulos de um país.
No caso do Brasil, os estrangeiros detêm 20% dos títulos da dívida pública e participação de 25% na Bolsa de Valores atualmente.
Quanto melhor a classificação concedida por agências de classificação de risco a empresas e países, menor tende a ser o custo de sua dívida.
Após o anúncio da S&P (no início da tarde), o dólar teve sua quinta alta seguida e chegou a subir mais de 2% em comparação com o real, mas perdeu força no final do dia.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,56%, para R$ 3,415 –maior valor nominal desde março de 2003.
Na Bolsa, porém, o impacto da decisão da S&P foi menos sentido, e o Ibovespa, principal índice do mercado, subiu 1,78%, após sete pregões consecutivos de perda.
RECUPERAÇÃO
Para a S&P, a recuperação da economia é chave para a melhora da avaliação. Ela, no entanto, revisou para baixo a expectativa de crescimento do PIB brasileiro.
A agência prevê queda de 2% do PIB em 2015 e uma economia estagnada em 2016. Em março, na sua estimativa anterior, ela estimava retração de 1% da economia brasileiro neste ano e expansão de 2% no ano que vem.
A redução da meta do superavit primário anunciada pelo governo na semana passada de 1,1% do PIB para 0,15%, é mais uma evidência do enfraquecimento da economia, ainda que "mais realista", considera a S&P.
A agência citou escândalos de corrupção que atingem empresas e pessoas importantes do setor público e privado como um dos sinais da dificuldade para implementação da política fiscal.
Para ela, a relação conturbada do Poder Executivo com o Congresso, o estremecimento da aliança entre PT e PMDB, pedidos de impeachment da presidente e a queda de sua aprovação a menos de 10% aumentam as incertezas políticas a curto prazo.

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