Denúncia aumenta pressão sobre ex-diretor ligado ao PT
Renato Duque, que já negociou delação, é réu em 4 ações penais da Lava Jato
Desta vez ele é acusado de receber dinheiro e quadros de empresa italiana que firmou contrato com a estatal
ESTELITA HASS CARAZZAI - FSP
O Ministério Público Federal ofereceu nesta quarta (29) mais uma
denúncia contra Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, sob
acusação de corrupção e lavagem de dinheiro. Com isso, aumenta a pressão
para que ele passe a colaborar com a Justiça e vire delator.
Preso desde março em Curitiba, Duque já é réu em quatro ações penais decorrentes da Operação Lava Jato.
Um advogado que negociou com os procuradores da Lava Jato dois acordos
de delação premiada visitou Duque pelo menos duas vezes na prisão nas
últimas semanas, segundo profissionais que acompanham as investigações.
Ele, porém, não teve até agora nenhum contato direto com os procuradores
para discutir o assunto.
Duque é tido como um ex-diretor da cota do PT na estatal. Sua indicação
ao cargo é atribuída ao ex-ministro José Dirceu, que também investigado e
nega a indicação.
Desta vez, Duque é acusado de receber cerca de R$ 4 milhões de propina
pela construção de gasodutos submarinos pela empresa italiana Saipem, em
2011, e outros R$ 577 mil em obras de arte –133 telas de pintores como
Volpi e Di Cavalcanti.
Também foram denunciados o empresário João Antônio Bernardi Filho e seu
filho, Antônio Carlos Bernardi, a advogada Christina Maria da Silva
Jorge e o lobista Julio Camargo, delator na Lava Jato.
O juiz Sergio Moro, responsável pelos processos, decidirá se acolhe ou
não a denúncia. Só após o acolhimento é que os denunciados passarão a
responder pelos crimes imputados.
Em 2011, a Petrobras fechou três contratos para a construção de
gasodutos com a Saipem ""cujo representante comercial no Brasil era
Bernardi Filho. As obras somavam R$ 686 milhões.
Segundo o Ministério Público, Bernardi Filho ofereceu o pagamento de
vantagem indevida a Duque, a quem chamava de "Mestre", a fim de garantir
o favorecimento da Saipem nas licitações.
Pelo menos US$ 1 milhão (ou cerca de R$ 3,4 milhões, em cotação atual)
foram pagos a Duque por meio da empresa Hayley S/A, uma offshore sediada
no Uruguai que tinha contas na Suíça. A Hayley estava em nome de
Bernardi Filho. E tinha como funcionários Christina Jorge e Antônio
Carlos Bernardi.
Ainda de acordo com a investigação, o dinheiro era depositado na Suíça e
voltava ao Brasil por meio de contratos de câmbio que simulavam
investimentos. Esses valores então eram sacados e repassados a Duque, em
espécie.
Outra parte dos pagamentos, segundo a Procuradoria, se deu com o repasse
de obras de arte da Hayley a Duque, no valor de R$ 577 mil: "Como
evidenciado no cumprimento de mandados de busca e apreensão, Renato
Duque tem grande fascinação por obras de arte, sendo apreendidos 133
quadros em sua residência, os quais continham pinturas, gravuras e fotos
de diversos autores, alguns renomados", escrevem.
ROUBO
Na denúncia apresentada nesta quarta, os procuradores ainda relatam que
Bernardi Filho foi assaltado no centro do Rio, quase em frente à sede da
Petrobras, onde faria um pagamento a Duque. Foram roubados R$ 100 mil,
às 11h30 de uma quarta-feira.
"O trajeto percorrido por Bernardi Filho deixa claro que ele se dirigia à
sede da Petrobras para entregar a vantagem indevida prometida a Duque",
acusam.
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