Michael D. Shear e Julie Hirschfeld Davis- NYT
Zack Wajsgras/The New York Times
O presidente dos EUA, Barack Obama, responde a perguntas de jornalitas em entrevista coletiva de fim de ano, na Casa Branca, em Washington
Determinado a desafiar o estereótipo de um presidente enfraquecido em fim de mandato [chamado de "pato manco" nos EUA], o presidente Barack Obama termina 2015 com uma série de realizações, mais notavelmente um acordo nuclear com o Irã, um acordo climático internacional, um pacto comercial com 12 países do Pacífico e medidas há muito esperadas sobre orçamento, educação e transporte.
Ao iniciar seu último ano no cargo, porém, essas conquistas foram obscurecidas pela ansiedade dos americanos sobre os ataques terroristas e a ampliação da batalha com o Estado Islâmico, juntamente com uma percepção pública de que Obama é incapaz de ou não deseja canalizar os temores da nação.
Obama
tem a menor nota de sua presidência referente ao terrorismo: só 37%
aprovam o modo como ele lidou com a questão, segundo uma pesquisa
nacional do Centro de Pesquisas Pew; 57% desaprovam, enquanto o
terrorismo saltou para o topo da lista de preocupações do público.
Em uma entrevista coletiva na Casa Branca antes de partir para férias de duas semanas, Obama tentou pela quarta vez em 14 dias tranquilizar o país nervoso. Pediu que as pessoas continuem vigilantes e se recusem a ser aterrorizadas, permanecendo unidas "como uma só família americana".
"Apertar o coração do EI na Síria e no Iraque tornará mais difícil para eles bombear seu terror e sua propaganda para o resto do mundo", disse Obama, usando a sigla do Estado Islâmico. Ele acrescentou que "nossas comunidades de contraterrorismo, inteligência, segurança interna e policial estão trabalhando 24 horas por dia para proteger nossa pátria".
Horas depois, quando Obama e sua família partiram para o Havaí, ele fez uma escala em San Bernardino, Califórnia, onde, com a primeira-dama Michelle Obama, se reuniu com parentes dos mortos nos tiroteios de 2 de dezembro e muitos profissionais de emergência.
"Havia pessoas de todas as religiões, de todos os meios; algumas descreveram seus entes queridos que vieram para este país como imigrantes, outras tinham vivido nesta área toda a sua vida", disse Obama à imprensa depois de se reunir com as famílias em uma biblioteca no Colégio Indian Springs, dizendo que sua diversidade é "muito representativa deste país".
"Embora seja um tempo difícil para eles e para toda a comunidade", acrescentou Obama, "eles também são representantes da força, da união e do amor que existem nesta comunidade e neste país."
No caso do massacre em San Bernardino, o presidente teve de calibrar sua resposta com maior cuidado, falando em temas familiares como a importância do controle de armas, mas também sobre os temores dos americanos em relação à ameaça de terrorismo interno.
"Embora estejamos vigilantes para evitar que aconteçam ataques terroristas, enquanto insistimos que não podemos aceitar a noção de tiroteios em massa em locais públicos e locais de trabalho e culto, temos de nos lembrar do bem avassalador que existe por aí", disse Obama.
As famílias, acrescentou, "não poderiam ter sido mais inspiradoras e mais orgulhosas de seus entes queridos ou mais insistentes em que algo de bom sairá desta tragédia".
Em reuniões particulares há um ano, Obama prometeu extrair todo o progresso possível de seu fim de mandato e advertiu sua equipe para não desanimar com as vitórias republicanas no Congresso. Seu sucesso nos últimos 12 meses, tanto no exterior como em casa, desafiou as expectativas de que o entrave político em Washington e a campanha presidencial atrapalhariam seus planos.
Mas poucos parecem ter notado. A avaliação geral do trabalho do presidente quase não mudou no último ano, segundo a pesquisa Pew. A aprovação do trabalho do presidente é de 46%, mesmo enquanto Obama reivindicava o progresso em questões econômicas e internas, que hoje o público considera menos importantes.
"Elas não repercutiram lá fora de maneira nenhuma", afirmou William M. Daley, ex-chefe de gabinete de Obama, sobre as realizações do presidente neste ano.
Daley explicou que a maioria dos americanos considera negociar um acordo de orçamento ou uma lei de financiamento de transporte uma responsabilidade básica do governo. "É, não temos um apagão", disse ele, "mas isso é como pedir crédito por simplesmente fazer um serviço."
O presidente e seus assessores há muito estão frustrados com o ambiente político e de mídia, que consideram enfocado demais em questões triviais, de curto prazo.
Um membro graduado da Casa Branca disse que Obama e seus assessores atingiram a "fase de aceitação", reconhecendo que mesmo realizações significativas têm pouca probabilidade de fazer sucesso. Mas autoridades da Casa Branca afirmam que o presidente continua focado em ticar sua lista de prioridades no próximo ano.
Daley explicou que o presidente teve "dificuldade para mostrar emoção" sobre a ameaça do terror porque tentou evitar o tipo de retórica belicosa dos candidatos presidenciais republicanos.
Mas segundo o senador democrata Tim Kaine, da Virgínia, há um lado negativo nisso. Ele disse que enquanto Obama viajava pela Ásia logo depois dos ataques em Paris, o presidente e sua equipe perderam a oportunidade de se conectar com os americanos sobre seus temores do terrorismo, e em vez disso ele criticou os legisladores e outros por concentrarem a culpa nos refugiados sírios.
Carroll J. Doherty, diretor de pesquisa política no Centro Pew, disse que as conquistas de Obama não se traduziram em melhores notas de aprovação em grande parte porque eram obscuras demais para chamar a atenção do público, ou tão polêmicas --o acordo com o Irã, por exemplo-- que provocaram uma reação polarizada.
"Muitas das realizações que ele anuncia não são temas de alta visibilidade, ou são muito divisivas", disse Doherty.
Ao mesmo tempo, segundo ele, Obama não conseguiu afastar a percepção de que sua reação a ameaças à segurança nacional foi fraca. A parcela de americanos que acreditam que o governo está fazendo um bom trabalho reduzindo a ameaça do terrorismo caiu acentuadamente este ano, de 72% para 46%, o ponto mais baixo desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
"Ele recebe críticas bipartidárias sobre terrorismo, inclusive entre democratas conservadores e moderados", afirmou Doherty. "Esse é hoje o assunto principal para os americanos, e essa crítica de que ele não é duro o suficiente persistiu e cresceu."
Na Casa Branca, assessores se dizem contentes porque Obama pelo menos evitou a posição de "pato manco".
"Ele se concentra em implementar políticas e não se preocupa com pesquisas e o ciclo de notícias", disse Phil Schiliro, que serviu como principal assessor legislativo do presidente no primeiro mandato. A visão do presidente, acrescentou ele, "é de que a política se resolve sozinha".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Em uma entrevista coletiva na Casa Branca antes de partir para férias de duas semanas, Obama tentou pela quarta vez em 14 dias tranquilizar o país nervoso. Pediu que as pessoas continuem vigilantes e se recusem a ser aterrorizadas, permanecendo unidas "como uma só família americana".
"Apertar o coração do EI na Síria e no Iraque tornará mais difícil para eles bombear seu terror e sua propaganda para o resto do mundo", disse Obama, usando a sigla do Estado Islâmico. Ele acrescentou que "nossas comunidades de contraterrorismo, inteligência, segurança interna e policial estão trabalhando 24 horas por dia para proteger nossa pátria".
Horas depois, quando Obama e sua família partiram para o Havaí, ele fez uma escala em San Bernardino, Califórnia, onde, com a primeira-dama Michelle Obama, se reuniu com parentes dos mortos nos tiroteios de 2 de dezembro e muitos profissionais de emergência.
"Havia pessoas de todas as religiões, de todos os meios; algumas descreveram seus entes queridos que vieram para este país como imigrantes, outras tinham vivido nesta área toda a sua vida", disse Obama à imprensa depois de se reunir com as famílias em uma biblioteca no Colégio Indian Springs, dizendo que sua diversidade é "muito representativa deste país".
"Embora seja um tempo difícil para eles e para toda a comunidade", acrescentou Obama, "eles também são representantes da força, da união e do amor que existem nesta comunidade e neste país."
No caso do massacre em San Bernardino, o presidente teve de calibrar sua resposta com maior cuidado, falando em temas familiares como a importância do controle de armas, mas também sobre os temores dos americanos em relação à ameaça de terrorismo interno.
"Embora estejamos vigilantes para evitar que aconteçam ataques terroristas, enquanto insistimos que não podemos aceitar a noção de tiroteios em massa em locais públicos e locais de trabalho e culto, temos de nos lembrar do bem avassalador que existe por aí", disse Obama.
As famílias, acrescentou, "não poderiam ter sido mais inspiradoras e mais orgulhosas de seus entes queridos ou mais insistentes em que algo de bom sairá desta tragédia".
Em reuniões particulares há um ano, Obama prometeu extrair todo o progresso possível de seu fim de mandato e advertiu sua equipe para não desanimar com as vitórias republicanas no Congresso. Seu sucesso nos últimos 12 meses, tanto no exterior como em casa, desafiou as expectativas de que o entrave político em Washington e a campanha presidencial atrapalhariam seus planos.
Mas poucos parecem ter notado. A avaliação geral do trabalho do presidente quase não mudou no último ano, segundo a pesquisa Pew. A aprovação do trabalho do presidente é de 46%, mesmo enquanto Obama reivindicava o progresso em questões econômicas e internas, que hoje o público considera menos importantes.
"Elas não repercutiram lá fora de maneira nenhuma", afirmou William M. Daley, ex-chefe de gabinete de Obama, sobre as realizações do presidente neste ano.
Daley explicou que a maioria dos americanos considera negociar um acordo de orçamento ou uma lei de financiamento de transporte uma responsabilidade básica do governo. "É, não temos um apagão", disse ele, "mas isso é como pedir crédito por simplesmente fazer um serviço."
O presidente e seus assessores há muito estão frustrados com o ambiente político e de mídia, que consideram enfocado demais em questões triviais, de curto prazo.
Um membro graduado da Casa Branca disse que Obama e seus assessores atingiram a "fase de aceitação", reconhecendo que mesmo realizações significativas têm pouca probabilidade de fazer sucesso. Mas autoridades da Casa Branca afirmam que o presidente continua focado em ticar sua lista de prioridades no próximo ano.
Daley explicou que o presidente teve "dificuldade para mostrar emoção" sobre a ameaça do terror porque tentou evitar o tipo de retórica belicosa dos candidatos presidenciais republicanos.
Mas segundo o senador democrata Tim Kaine, da Virgínia, há um lado negativo nisso. Ele disse que enquanto Obama viajava pela Ásia logo depois dos ataques em Paris, o presidente e sua equipe perderam a oportunidade de se conectar com os americanos sobre seus temores do terrorismo, e em vez disso ele criticou os legisladores e outros por concentrarem a culpa nos refugiados sírios.
Carroll J. Doherty, diretor de pesquisa política no Centro Pew, disse que as conquistas de Obama não se traduziram em melhores notas de aprovação em grande parte porque eram obscuras demais para chamar a atenção do público, ou tão polêmicas --o acordo com o Irã, por exemplo-- que provocaram uma reação polarizada.
"Muitas das realizações que ele anuncia não são temas de alta visibilidade, ou são muito divisivas", disse Doherty.
Ao mesmo tempo, segundo ele, Obama não conseguiu afastar a percepção de que sua reação a ameaças à segurança nacional foi fraca. A parcela de americanos que acreditam que o governo está fazendo um bom trabalho reduzindo a ameaça do terrorismo caiu acentuadamente este ano, de 72% para 46%, o ponto mais baixo desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
"Ele recebe críticas bipartidárias sobre terrorismo, inclusive entre democratas conservadores e moderados", afirmou Doherty. "Esse é hoje o assunto principal para os americanos, e essa crítica de que ele não é duro o suficiente persistiu e cresceu."
Na Casa Branca, assessores se dizem contentes porque Obama pelo menos evitou a posição de "pato manco".
"Ele se concentra em implementar políticas e não se preocupa com pesquisas e o ciclo de notícias", disse Phil Schiliro, que serviu como principal assessor legislativo do presidente no primeiro mandato. A visão do presidente, acrescentou ele, "é de que a política se resolve sozinha".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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