Nove verdades que parecem mentira sobre a crise financeira do Rio
Na cidade aconteceram fatos que, de tão surreais, são difíceis de acreditar
Daniela de Paula - O Globo
“Nove verdades e uma mentira”. Provavelmente, você já se
deparou com essa frase nas suas redes sociais. Trata-se de um desafio
que consiste em enumerar nove situações verdadeiras, mas aparentemente
improváveis, e uma que jamais aconteceu com a pessoa que participa da
brincadeira na internet. E no Rio de Janeiro não falta situação, que de
tão surreal, é difícil de convencer a população, principalmente em
relação à questão financeira do estado nos últimos anos. Com isso,
resolvemos quebrar a corrente e fazer diferente. Listamos as nove
verdades sobre a crise no Rio que parecem mentira. Confira:
1 - Pernil congelado do Natal foi almoço de domingo de Páscoa
A servidora estadual Ana Pereira, de 54 anos, guardou o metade do pernil de Natal
para garantir a ceia da Páscoa. Parece surreal, mas foi verdade. E a
Semana Santa sem fartura na mesa da técnica de enfermagem foi um retrato
da míngua no feriado de milhares de funcionários públicos do
Rio.
Ana guardou metade do pernil do fim do ano para celebrar a Semana Santa - Antonio Scorza / Agência O Globo
2 - Na Uerj, elevador só sobe no grito
"Ooooonze!" O grito vem em coro, logo após batidas na porta de ferro. Na Uerj, é preciso realmente “chamar o elevador”,
aos berros. O problema é que não há botão para fazer com que os
elevadores sigam até o andar onde o passageiro espera — um detalhe,
entre as tantas precariedades que atualmente impedem, na avaliação dos
professores da instituição, o retorno às aulas em 2017, auge da mais
grave crise da história da universidade.
Na Uerj, as pessoas precisam chamar os elevadores no grito porque os botões não funcionam - Bruno Alfano / Agência O Globo
3 - Servidora percorre 120 km de estrada para ganhar cesta básica
Às vésperas do Natal passado, a servidora Arlete Maria da Rosa teve que acordar cedo e percorrer, de carona, 120 quilômetros
- de Cabo Frio (Região do Lagos) até o Centro do Rio - para pegar um
saco com arroz, feijão, biscoito, macarrão, óleo, farinha, açúcar, café e
leite. Seria sua ceia de Natal. A cesta básica foi distribuídas pelo
Movimento Unificado dos Servidores Públicos (Muspe), que fazia uma
campanha de arrecadação de alimentos e produtos de higiene para ajudar o
funcionalismo do estado.
Arlete lamentou situação dos atrasos nos pagamentos dos salários: “De coração, nunca pensei que fosse passar por isso”. - Márca Foletto / Agência O Globo
4 - Uezo ainda 'sem teto'
Na
última agenda pública do ex-governador Sérgio Cabral no cargo, em abril
de 2014, ele não compareceu à inauguração das obras que dariam uma
“casa própria” ao Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), às
margens da Avenida Brasil. A obra, no entanto, nunca saiu do papel,
e a instituição funciona até hoje dentro de um colégio de ensino médio
em Campo Grande. As dívidas do estado com a universidade giram em torno
de R$ 2,5 milhões, incluindo salários.
A fachada do Cerdej de Campo Grande, onde foi instalada a Uezo - Reprodução / Street View
5 - Semestre demora oito meses para começar na Uerj
Devido
ao estado de paralisação de professores da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (Uerj), o segundo semestre de graduação da instituição,
referente a 2016, só foi retomando em abril de 2017 - oito meses depois.
Foram pelo menos cinco adiamentos, antes de se decidirem pela volta das
atividades. No mesmo dia em que as aulas foram retomadas, houve uma
assembleia dos docentes para decidir sobre uma greve. E enquanto a
universidade parava as suas atividades, muitos outros episódios
aconteciam no Rio, no país e no mundo. Relembre.
Uerj entrou em estado de greve em agosto de 2016 e só retomou as atividades em abril deste ano - Domingos Peixoto - 29/08/2016 / Agência O Globo
6 - Prédios públicos às escuras
Em
mais um capítulo da crise financeira do governo estadual do Rio, alguns
prédios públicos tiveram a luz cortada por falta de pagamento. No dia
30 de março, técnicos da Light cortaram a energia de parte do Teatro Municipal do Rio.
Segundo o colunista Lauro Jardim, a conta em atraso era de R$ 719 mil,
relativo à contas não pagas entre junho e dezembro. No mesmo dia, a
assessoria do espaço informou que pagou a conta e que o local estava
funcionando normalmente.
Dois antes, no dia 28 de março, a Light também havia cortado o fornecimento de energia elétrica do prédio
que foi alugado pela Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia, na
Rua da Glória, Zona Sul do Rio. Em novembro de 2016, o prédio da
reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ havia passado
pelo mesmo problema.
O Teatro Municipal - Rafael Andrade
7 - Palácio Guanabara ficou sem telefone
Já o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, em Laranjeiras, teve os telefones cortados no início de abril.
A Light confirmou que “suspendeu o fornecimento de parte das linhas
telefônicas e links de dados do governo do Estado do Rio de Janeiro,
incluindo linhas telefônicas do Palácio Guanabara, devido à falta de
resultado de negociações a respeito de dívida acumulada com a companhia.
Também há dois meses o ar-condicionado só funcionava em um andar do
prédio anexo ao palácio.
Na ocasião, a assessoria de imprensa do governo estadual
confirmou o corte no serviço de telefonia, mas afirmou que a internet no
sede do Poder Executivo estadual estava “funcionando normalmente”.
A fachada do Palacio Guanabara, em Laranjeiras - Ana Branco / Agência O Globo
8 - Polícia para de fazer registro, e criminalidade ‘cai’
A greve da Polícia Civil
derrubou a incidência de crimes registrados no estado. No entanto,
entre janeiro e fevereiro de 2017, o Rio só teve indicadores criminais
europeus no papel, mas não na prática, o que atrapalha a análise da
violência no estado. Segundo um levantamento inédito feito pelo jornal
Extra, a comparação com o mesmo período do ano passado mostra que os
registros de roubo a pedestre caíram 78%; os de roubo de celular, 73%.
Nas delegacias que aderiram à greve, um aviso deixava claro:
só são registrados casos de homicídios, sequestros, estupros e roubos
de carros. Do início da paralisação, em 17 de janeiro, até o último dia
12, foram registrados 1.470 roubos a pedestres em todo o estado —
quantidade quase cinco vezes menor do que a registrada no mesmo período
de 2016 e 2015.
Sindicato decidiu paralisação para protestar contra salários atrasados - Fabiano Rocha / Agência O Globo
9 - Pedaços de caixões foram parar nas ruas de Cabo Frio
Em setembro do ano passado, funcionários dos cemitérios Santa Izabel e Jardim dos Eucaliptos, em Cabo Frio, entraram em greve.
Isso provocou um caos na cidade da Região dos Lagos. Na ocasião, os 13
coveiros concursados dos dois cemitérios estavam se receber desde
janeiro de 2016. Devido à paralisação, enterrar um ente querido virou um
problema sério no balneário. Com a demora, a família de pelo menos um
dos mortos fechou uma das principais vias da cidade com lixo e pedaços
de caixões quebrados, que ficaram amontoados.
Coveiros no Cemitério Santa Izabel: servidores têm feito greve para pressionar a prefeitura a pagar salários - Antônio Scorza / Antonio Scorza
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