sexta-feira, 21 de abril de 2017

Nove verdades que parecem mentira sobre a crise financeira do Rio
Na cidade aconteceram fatos que, de tão surreais, são difíceis de acreditar
 
“Nove verdades e uma mentira”. Provavelmente, você já se deparou com essa frase nas suas redes sociais. Trata-se de um desafio que consiste em enumerar nove situações verdadeiras, mas aparentemente improváveis, e uma que jamais aconteceu com a pessoa que participa da brincadeira na internet. E no Rio de Janeiro não falta situação, que de tão surreal, é difícil de convencer a população, principalmente em relação à questão financeira do estado nos últimos anos. Com isso, resolvemos quebrar a corrente e fazer diferente. Listamos as nove verdades sobre a crise no Rio que parecem mentira. Confira: 
1 - Pernil congelado do Natal foi almoço de domingo de Páscoa
A servidora estadual Ana Pereira, de 54 anos, guardou o metade do pernil de Natal para garantir a ceia da Páscoa. Parece surreal, mas foi verdade. E a Semana Santa sem fartura na mesa da técnica de enfermagem foi um retrato da míngua no feriado de milhares de funcionários públicos do 
Rio.
Ana guardou metade do pernil do fim do ano para celebrar a Semana Santa - Antonio Scorza / Agência O Globo 
2 - Na Uerj, elevador só sobe no grito
"Ooooonze!" O grito vem em coro, logo após batidas na porta de ferro. Na Uerj, é preciso realmente “chamar o elevador”, aos berros. O problema é que não há botão para fazer com que os elevadores sigam até o andar onde o passageiro espera — um detalhe, entre as tantas precariedades que atualmente impedem, na avaliação dos professores da instituição, o retorno às aulas em 2017, auge da mais grave crise da história da universidade.
Na Uerj, as pessoas precisam chamar os elevadores no grito porque os botões não funcionam - Bruno Alfano / Agência O Globo 
3 - Servidora percorre 120 km de estrada para ganhar cesta básica
Às vésperas do Natal passado, a servidora Arlete Maria da Rosa teve que acordar cedo e percorrer, de carona, 120 quilômetros - de Cabo Frio (Região do Lagos) até o Centro do Rio - para pegar um saco com arroz, feijão, biscoito, macarrão, óleo, farinha, açúcar, café e leite. Seria sua ceia de Natal. A cesta básica foi distribuídas pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos (Muspe), que fazia uma campanha de arrecadação de alimentos e produtos de higiene para ajudar o funcionalismo do estado.
Arlete lamentou situação dos atrasos nos pagamentos dos salários: “De coração, nunca pensei que fosse passar por isso”. - Márca Foletto / Agência O Globo
4 - Uezo ainda 'sem teto'
Na última agenda pública do ex-governador Sérgio Cabral no cargo, em abril de 2014, ele não compareceu à inauguração das obras que dariam uma “casa própria” ao Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), às margens da Avenida Brasil. A obra, no entanto, nunca saiu do papel, e a instituição funciona até hoje dentro de um colégio de ensino médio em Campo Grande. As dívidas do estado com a universidade giram em torno de R$ 2,5 milhões, incluindo salários.
A fachada do Cerdej de Campo Grande, onde foi instalada a Uezo - Reprodução / Street View
5 - Semestre demora oito meses para começar na Uerj
Devido ao estado de paralisação de professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o segundo semestre de graduação da instituição, referente a 2016, só foi retomando em abril de 2017 - oito meses depois. Foram pelo menos cinco adiamentos, antes de se decidirem pela volta das atividades. No mesmo dia em que as aulas foram retomadas, houve uma assembleia dos docentes para decidir sobre uma greve. E enquanto a universidade parava as suas atividades, muitos outros episódios aconteciam no Rio, no país e no mundo. Relembre.
 Uerj entrou em estado de greve em agosto de 2016 e só retomou as atividades em abril deste ano - Domingos Peixoto - 29/08/2016 / Agência O Globo
6 - Prédios públicos às escuras
Em mais um capítulo da crise financeira do governo estadual do Rio, alguns prédios públicos tiveram a luz cortada por falta de pagamento. No dia 30 de março, técnicos da Light cortaram a energia de parte do Teatro Municipal do Rio. Segundo o colunista Lauro Jardim, a conta em atraso era de R$ 719 mil, relativo à contas não pagas entre junho e dezembro. No mesmo dia, a assessoria do espaço informou que pagou a conta e que o local estava funcionando normalmente.
Dois antes, no dia 28 de março, a Light também havia cortado o fornecimento de energia elétrica do prédio que foi alugado pela Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia, na Rua da Glória, Zona Sul do Rio. Em novembro de 2016, o prédio da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ havia passado pelo mesmo problema.
O Teatro Municipal - Rafael Andrade 
7 - Palácio Guanabara ficou sem telefone
Já o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, em Laranjeiras, teve os telefones cortados no início de abril. A Light confirmou que “suspendeu o fornecimento de parte das linhas telefônicas e links de dados do governo do Estado do Rio de Janeiro, incluindo linhas telefônicas do Palácio Guanabara, devido à falta de resultado de negociações a respeito de dívida acumulada com a companhia. Também há dois meses o ar-condicionado só funcionava em um andar do prédio anexo ao palácio.
Na ocasião, a assessoria de imprensa do governo estadual confirmou o corte no serviço de telefonia, mas afirmou que a internet no sede do Poder Executivo estadual estava “funcionando normalmente”.
A fachada do Palacio Guanabara, em Laranjeiras - Ana Branco / Agência O Globo
8 - Polícia para de fazer registro, e criminalidade ‘cai’
A greve da Polícia Civil derrubou a incidência de crimes registrados no estado. No entanto, entre janeiro e fevereiro de 2017, o Rio só teve indicadores criminais europeus no papel, mas não na prática, o que atrapalha a análise da violência no estado. Segundo um levantamento inédito feito pelo jornal Extra, a comparação com o mesmo período do ano passado mostra que os registros de roubo a pedestre caíram 78%; os de roubo de celular, 73%.
Nas delegacias que aderiram à greve, um aviso deixava claro: só são registrados casos de homicídios, sequestros, estupros e roubos de carros. Do início da paralisação, em 17 de janeiro, até o último dia 12, foram registrados 1.470 roubos a pedestres em todo o estado — quantidade quase cinco vezes menor do que a registrada no mesmo período de 2016 e 2015.
Sindicato decidiu paralisação para protestar contra salários atrasados - Fabiano Rocha / Agência O Globo
9 - Pedaços de caixões foram parar nas ruas de Cabo Frio
Em setembro do ano passado, funcionários dos cemitérios Santa Izabel e Jardim dos Eucaliptos, em Cabo Frio, entraram em greve. Isso provocou um caos na cidade da Região dos Lagos. Na ocasião, os 13 coveiros concursados dos dois cemitérios estavam se receber desde janeiro de 2016. Devido à paralisação, enterrar um ente querido virou um problema sério no balneário. Com a demora, a família de pelo menos um dos mortos fechou uma das principais vias da cidade com lixo e pedaços de caixões quebrados, que ficaram amontoados.
 Coveiros no Cemitério Santa Izabel: servidores têm feito greve para pressionar a prefeitura a pagar salários - Antônio Scorza / Antonio Scorza

Nenhum comentário: