Pedro Ladeira - 06.jun.2017/Folhapress | ||
Composição do Tribunal Superior Eleitoral que julga nesta semana a chapa Dilma-Temer |
Caso seja confirmada em plenário a tendência de absolvição
por 4 votos a 3 da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral, o
presidente não terá muito tempo para abrir o champanhe. A lista de
problemas à espreita é grande e espinhosa.
Tudo começa com a nova palavra favorita de Brasília, o fato novo. Há consenso entre aliados de Temer de que o surgimento da nebulosa história do voo do presidente no jatinho da JBS é um aperitivo de novos constrangimentos que estão por vir.
A mudança de versão de Temer, de uma negativa peremptória para um "não sei de quem era o avião", fora as emendas no enredo testadas no modo "conversa com aliados", é o tipo de coisa que derrubaria político em nações mais civilizadas.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já deu sinais de que vai esvaziar o paiol de munição antes de ser substituído em setembro. Ele já errou antes, conseguindo colar na Lava Jato os malfadados termos da delação da JBS, mas isso não quer dizer que não possa ter tonelagem explosiva suficiente para influir na estabilidade política do governo —se ultrapassa ou não limites legais, isso é outra história.
O inquérito no Supremo certamente irá virar denúncia contra Temer, o presidente terá de usar sua ainda gorda base para impedir a autorização para torná-lo réu. Temer não é Dilma Rousseff, tem bem mais que um terço da Câmara, mas o desgaste público do engavetamento será enorme e novamente o cálculo eleitoral dos parlamentares entrará em cena.
Com isso vem o maior problema político para o presidente: o PSDB. Os tucanos estão em agonia, porque o grosso do partido deseja desembarcar do governo que apoiou no primeiro minuto, mas a cúpula segurou até onde pode a decisão.
Agora, irão reunir-se na segunda-feira para bater o martelo. Ainda há chão até lá, mas se fosse hoje a decisão seria um salomônico "saio, continuando apoiando no Congresso, e não impeço ministro tucano de ficar no cargo se quiser". Naturalmente, uma mudança inesperada no TSE, com a cassação de Temer, ou uma denúncia fatal que force sua renúncia, resolveriam o problema para o partido. Ninguém conta, contudo, com a primeira; sobre a segunda, um cardeal tucano resumiu o sentimento do partido ao dizer que "não entende a insistência do Michel".
A questão central para os tucanos é sua excelência, o fato novo. Como eles tendem a pipocar, a conta é antes de tudo eleitoral, mesmo que não surja nada que force uma renúncia. Candidatos a governo de Estado e ao Parlamento estão horrorizados com a hipótese de andar abraçados a um governo com popularidade ínfima, radioativo, tóxico, miasmático —o adjetivo é ao gosto do cliente. E a cúpula tucana já entendeu esse recado.
Curiosamente, o protagonismo do PSDB, ora como articulador de chapa para a indireta, ora como noiva indecisa, ofusca o papel do importantíssimo PSD e do estratégico DEM. O primeiro seguirá o PSDB em sua decisão, mas não está pagando o desgaste público do vaivém. O segundo teoricamente faria o mesmo, mas permanece quieto porque vislumbra assumir nada menos do que a Presidência via Rodrigo Maia, caso Temer venha a cair e haja o pleito no Congresso.
Por fim, ou no começo, está a economia e a agenda reformista. A decisão do BC de baixar o ritmo da queda da Selic parece um grave erro de sinalização pública, até porque há espaço técnico para a manutenção da redução. Os sinais de recuperação da economia ainda são tíbios, retardando planos de investimento, que é o que salva o que interessa no fim: o emprego, ainda combalido. Por outro lado, não há elementos de outros momentos tensos, como uma fuga de dólares, em cena.
Mercado e empresariado só estão interessados em ver avançar mudanças trabalhistas e na Previdência, como forma de garantir alguma estabilidade às expectativas e chegar a 2018. No caso trabalhista, o texto está encaminhado, mas a reforma previdenciária é um nó difícil de desatar também por causa da eleição: impopular, a proposta será desidratada a um mínimo, deixando para o próximo governo o abacaxi.
O cenário é tudo, menos de fácil resolução.
Tudo começa com a nova palavra favorita de Brasília, o fato novo. Há consenso entre aliados de Temer de que o surgimento da nebulosa história do voo do presidente no jatinho da JBS é um aperitivo de novos constrangimentos que estão por vir.
A mudança de versão de Temer, de uma negativa peremptória para um "não sei de quem era o avião", fora as emendas no enredo testadas no modo "conversa com aliados", é o tipo de coisa que derrubaria político em nações mais civilizadas.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já deu sinais de que vai esvaziar o paiol de munição antes de ser substituído em setembro. Ele já errou antes, conseguindo colar na Lava Jato os malfadados termos da delação da JBS, mas isso não quer dizer que não possa ter tonelagem explosiva suficiente para influir na estabilidade política do governo —se ultrapassa ou não limites legais, isso é outra história.
O inquérito no Supremo certamente irá virar denúncia contra Temer, o presidente terá de usar sua ainda gorda base para impedir a autorização para torná-lo réu. Temer não é Dilma Rousseff, tem bem mais que um terço da Câmara, mas o desgaste público do engavetamento será enorme e novamente o cálculo eleitoral dos parlamentares entrará em cena.
Com isso vem o maior problema político para o presidente: o PSDB. Os tucanos estão em agonia, porque o grosso do partido deseja desembarcar do governo que apoiou no primeiro minuto, mas a cúpula segurou até onde pode a decisão.
Agora, irão reunir-se na segunda-feira para bater o martelo. Ainda há chão até lá, mas se fosse hoje a decisão seria um salomônico "saio, continuando apoiando no Congresso, e não impeço ministro tucano de ficar no cargo se quiser". Naturalmente, uma mudança inesperada no TSE, com a cassação de Temer, ou uma denúncia fatal que force sua renúncia, resolveriam o problema para o partido. Ninguém conta, contudo, com a primeira; sobre a segunda, um cardeal tucano resumiu o sentimento do partido ao dizer que "não entende a insistência do Michel".
A questão central para os tucanos é sua excelência, o fato novo. Como eles tendem a pipocar, a conta é antes de tudo eleitoral, mesmo que não surja nada que force uma renúncia. Candidatos a governo de Estado e ao Parlamento estão horrorizados com a hipótese de andar abraçados a um governo com popularidade ínfima, radioativo, tóxico, miasmático —o adjetivo é ao gosto do cliente. E a cúpula tucana já entendeu esse recado.
Curiosamente, o protagonismo do PSDB, ora como articulador de chapa para a indireta, ora como noiva indecisa, ofusca o papel do importantíssimo PSD e do estratégico DEM. O primeiro seguirá o PSDB em sua decisão, mas não está pagando o desgaste público do vaivém. O segundo teoricamente faria o mesmo, mas permanece quieto porque vislumbra assumir nada menos do que a Presidência via Rodrigo Maia, caso Temer venha a cair e haja o pleito no Congresso.
Por fim, ou no começo, está a economia e a agenda reformista. A decisão do BC de baixar o ritmo da queda da Selic parece um grave erro de sinalização pública, até porque há espaço técnico para a manutenção da redução. Os sinais de recuperação da economia ainda são tíbios, retardando planos de investimento, que é o que salva o que interessa no fim: o emprego, ainda combalido. Por outro lado, não há elementos de outros momentos tensos, como uma fuga de dólares, em cena.
Mercado e empresariado só estão interessados em ver avançar mudanças trabalhistas e na Previdência, como forma de garantir alguma estabilidade às expectativas e chegar a 2018. No caso trabalhista, o texto está encaminhado, mas a reforma previdenciária é um nó difícil de desatar também por causa da eleição: impopular, a proposta será desidratada a um mínimo, deixando para o próximo governo o abacaxi.
O cenário é tudo, menos de fácil resolução.
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