Gastos públicos excessivos e de má qualidade
A crise fiscal deveria inspirar os governos a
colocarem em suas agendas o cuidado com as despesas, para saber se o
dinheiro do contribuinte é bem aplicado
O Globo
O Brasil tem uma economia robusta — entre as dez maiores do mundo —,
mas que poderia ser ainda mais forte, em todos os sentidos, se não fosse
obrigada a gerar um volume de receita tributária equivalente a 35% do
PIB, para sustentar um Estado que gasta até mais do que isso — hoje,
algo acima de 40% do PIB. O contribuinte, pessoa física e jurídica, paga
muito e não recebe em troca serviços à altura ( educação, saúde,
segurança).
A diferença entre receita e despesa é coberta por endividamento, daí a
necessidade de reformas, como a da Previdência, para conter a expansão
desta dívida, imprescindível para evitar um colapso fiscal, que virá
acompanhado por hiperinflação e uma recessão certamente mais profunda
que as de 2015 e 2016.
O momento é adequado para se recolocar antiga questão — a péssima
qualidade dos altos gastos que o Estado brasileiro faz. Na base desta
custosa deformação, há outra grave deficiência do poder público, a de
não haver preocupação em avaliar os gastos.
O economista Marcos Lisboa, em entrevista à “Época Negócios”, cita
exemplos. Qual o grau de satisfação dos moradores de imóveis do Minha
Casa Minha Vida? Outro refere-se aos R$ 500 bilhões originados de dívida
pública que o Tesouro transferiu para o BNDES, a fim de financiar
projetos como os no âmbito da Petrobras e na petroquímica, entre outros
setores. São notórios os casos de fracasso patrocinados com este
dinheiro do contribuinte, também desviado para propinas.
Quanto o contribuinte perdeu ao certo, não se sabe. Lisboa diz que o
custo dessa transferência para a sociedade — pois se trata de dinheiro
que seria emprestado a taxas subsidiadas — é de R$ 323 bilhões, segundo
cálculos do Ministério da Fazenda. Tanto quanto os US$ 120 bilhões,
compara o economista, despendidos pelo Plano Marshall, na reconstrução
da Europa, no pós-Guerra.
Sabe-se apenas que a margem de economia potencial do dinheiro público
é enorme, caso houvesse atenção mínima com a qualidade das despesas
públicas
No início do governo Temer, diante dos déficits crescentes na
Previdência, fizeram-se algumas auditorias no âmbito do INSS, com
resultados nada surpreendentes, mas aterrorizantes dentro desta ótica da
má qualidade das despesas públicas. Em benefícios concedidos pelo INSS,
fora a aposentadoria propriamente dita, 20% deles foram obtidos por
força de decisão judicial. E quando examinaram-se 5 mil casos de
aposentadorias por invalidez e auxílios-doença, foram suspensos 80% dos
benefícios, por irregularidades.
Para onde se olhe, há, no Estado brasileiro, desvios, dinheiro mal
gasto. A crise fiscal precisa deixar registrada a necessidade imperiosa
de os governos, e a própria sociedade, fiscalizarem o destino e o
resultado do gasto público.
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