Suprema Corte dos EUA libera parte do decreto anti-imigração de Trump
ISABEL FLECK - FSP
Numa decisão comemorada pelo presidente Donald Trump como uma vitória, a
Suprema Corte dos EUA liberou, nesta segunda-feira (26), uma parte do decreto
que veta a entrada de cidadãos de seus países de maioria muçulmana,
enquanto os magistrados discutem se a ordem executiva deve ser
autorizada ou barrada na sua totalidade.
Os nove juízes decidiram que a proibição de entrada poderá ser aplicada
apenas aos cidadãos de Síria, Líbia, Iêmen, Irã, Somália e Sudão que não
conseguirem provar nenhuma "relação autêntica com uma pessoa ou
entidade nos Estados Unidos". A mesma regra será usada para os
refugiados.
O decreto não tinha chegado a entrar em vigor, após ter sido suspenso
por um juiz federal do Havaí na véspera de sua aplicação. A ordem
executiva foi contestada em dois tribunais federais, e o governo perdeu
os dois recursos em cortes de apelações diferentes. Os dois casos foram
levados à Suprema Corte no último dia 3, e as partes só serão ouvidas em
outubro.
Trump comemorou a decisão, dizendo ser uma "clara vitória para a
segurança nacional" dos EUA. "Ela permite que a suspensão de viagem para
os seis países com inclinações terroristas e a suspensão [de entrada]
dos refugiados seja aplicada amplamente", disse em comunicado.
"Como presidente, não posso permitir que pessoas entrem no nosso país
para nos fazer mal. Quero [que entrem] pessoas que possam amar os EUA e
todos os seus cidadãos, e que serão trabalhadoras e produtivas", afirmou
Trump, que também destacou o fato de a decisão da Suprema Corte ter
sido unânime.
O argumento do governo para determinar o bloqueio, por 90 dias, da
entrada dos cidadãos desses países –e por 120 dias a de refugiados– é
que eles representam "risco elevado" para a segurança nacional dos EUA.
Uma das cortes de apelação decidiu que a suspensão do texto deveria ser
mantida por não haver justificativa suficiente, do ponto de vista de
segurança nacional, para vetar esses imigrantes ou visitantes. O outro
tribunal julgou que a proibição violaria a Constituição ao discriminar
muçulmanos.
A defesa jurídica, feita pelo Departamento de Justiça, tenta tirar o
foco declarações ofensivas feitas por Trump durante a campanha eleitoral
contra os muçulmanos e sustentar que o decreto não estabelece um veto
ao grupo.
Este é o segundo decreto assinado por Trump sobre o tema -e que ele,
recentemente, chamou de "versão diluída e politicamente correta" do primeiro.
O presidente chegou a criticar o Departamento de Justiça por ter levado
esse e não o primeiro texto (também barrado em primeira e segunda
instâncias) à Suprema Corte.
O segundo decreto foi redigido de forma a ter menor potencial de
questionamento na Justiça, determinando, por exemplo, que quem tivesse o
green card ou um visto válido no dia da assinatura do decreto, não
seria afetado. Isso já evitaria que imigrantes fossem barrados nos
aeroportos e afetaria apenas a emissão de vistos.
Com a decisão da Suprema Corte, poderão ter o documento negado todos os
cidadãos dos seis países que não conseguirem comprovar que têm relação
com algum familiar ou instituição -como uma universidade- nos EUA.
"Para indivíduos, uma relação próxima é exigida. Um estrangeiro que
queira entrar nos EUA para viver com ou visitar um familiar ()
claramente terá essa relação", diz o texto da decisão da Suprema Corte.
Ele ainda explica que as relações com instituições devem ser "formais,
documentadas e formadas não com o propósito de evitar" o decreto.
Os magistrados deixaram claro, inclusive, que um grupo de defesa dos
direitos dos imigrantes, por exemplo, não poderá forjar uma relação com
um refugiado ou um cidadãos desses seis países para livrá-lo da
proibição.
Para o diretor do projeto de direitos dos imigrantes da American Civil
Liberties Union (ACLU), Omar Jadwat, a decisão da Suprema Corte não pode
ser vista como uma vitória de Trump.
"É importante reconhecer que, apesar da autorização para que uma pequena
parte da proibição avance, em termos práticos, a maioria das pessoas
que foram afetadas pela proibição ainda poderão entrar", disse Jadwat à
rede pública de rádio NPR.
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