O velho e errado costume do aumento de impostos
A elevação do PIS/Cofins dos combustíveis
repete a norma pela qual problemas fiscais são resolvidos com mais
arrocho tributário sobre pessoas e empresas
O Globo
Consumou-se ontem a tradição de aumentarem-se impostos quando as
contas não fecham. No caso, foi elevada a alíquota do PIS/Cofins sobre
gasolina, etanol e diesel, e feito um contingenciamento, para futuro
corte ou não, de R$ 5,9 bilhões, que se somam aos R$ 39 bilhões já
colocados na mesma rubrica no Orçamento.
A equação com que o governo se depara é de uma arrecadação longe de
chegar ao previsto, enquanto as despesas não param de subir,
impulsionadas pelo rombo previdenciário, principalmente. Pelas últimas
contas de Brasília, faltam R$ 18 bilhões para ser atingida a meta anual
de um déficit primário (sem os juros ) de R$ 139 bilhões. Da elevação do
tributo esperam-se R$ 11 bilhões, e o resto virá dos
contingenciamentos.
A aritmética tem fundamentação inabalável, e é lógico o aumento de
imposto. Mas, se for ampliada a questão, considerando-se certos
aspectos-chave das contas públicas e dos tributos, vê-se que elevar
gravames é a saída mais simples, porém, no Brasil, errada.
Por várias razões, como a existência de conhecidas gorduras no Estado
para ser fazerem economias no custeio. Como sempre, interesses
políticos e de corporações impedem que se avance sobre essas despesas
(cargos especiais de assessoria, mordomias e assim por diante), bem como
na privatização e fechamento de estatais. Várias enraizadas no Tesouro
como parasitas.
Pode-se entender as dificuldades, mas esta é uma história que se
repete: diante das resistências políticas, opta-se por sacrificar anda
mais a população e a própria economia. Devido a esta interdição, nunca
se faz qualquer trabalho sério e consequente para reformar este Estado
pantagruélico, a fim de reduzi-lo de tamanho. E agora, com um governo
politicamente frágil, em que o presidente Temer barganha votos no
Congresso para não ser processado no Supremo, é que infelizmente não se
fará mesmo.
De quando veio a estabilização do Plano Real até hoje, a carga
tributária elevou-se em cerca de dez pontos percentuais de PIB, e as
despesas, em mais do que isto, sem qualquer melhoria notável na
quantidade e qualidade dos serviços prestados à população. Do ponto de
vista da criação e elevação de impostos, bem como de aumento dos gastos,
PSDB e PT se equivalem.
Agora, com a economia ainda patinando, sem tração, na tentativa de se
recuperar de uma abissal recessão na faixa de 8%, mesmo assim parte-se
para um aumento de imposto, devido a esta tradição de sempre empurrar-se
a conta de apertos fiscais para a sociedade. Mais pressão numa carga
tributária de 35% do PIB, a mais elevada no grupo de países emergentes,
equivalente mesmo à de países desenvolvidos, com serviços públicos
incomparáveis aos brasileiros.
Quando assumiram, o presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda,
Henrique Meirellles, frisaram que não aumentariam impostos. Mas venceu a
tradição, outra vez.
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