A omelete e os ovos da sucessão
Murillo de Aragão - Blog do Ricardo Noblat
O
governo Dilma Rousseff, por suas virtudes e por seus defeitos, fez o
que a oposição nunca conseguiu. Nem mesmo com a ajuda do mensalão. A
cinco meses das eleições, o patrimônio político construído por Lula está
sob ameaça.
Não é uma situação surpreendente. Em fevereiro do ano
passado, em artigo publicado aqui mesmo, dizíamos que o favoritismo de
Dilma estava ameaçado por conta de uma mistura de fatores econômicos,
políticos, gerenciais e sociais.
O meu vaticínio está se
concretizando. Porém, as pesquisas mostram uma admirável resistência de
Dilma aos insucessos de seu governo. Ela consegue ficar na dianteira e,
até mesmo, com chance de vencer no primeiro turno.
Isso significa
que a presidente está sendo beneficiada pela força de uma marca que se
impôs sem competidores por 12 anos: os programas sociais do PT e o
aplicativo eleitoral manejado por Lula, que governou o tempo inteiro em
cima do palanque.
Mas é preciso fazer mais, principalmente para
atender os cidadãos recém-integrados ao mercado interno e calibrar a
economia, departamento do governo que menos responde às expectativas de
ricos e remediados e já começa a desagradar aos pobres por conta da
inflação.
Os indicadores eleitorais, apesar da perda de pontos de
Dilma, mostram que o eleitorado ainda não comprou a ideia mudancista.
Mas, em um cenário altamente volátil e instável, tudo pode mudar
rapidamente.
A comunicação – arma de elevado sentido político e
grande dependência tecnológica – continua sendo operada com cabeça de
publicitário, quando o caminho não é este. O governo ainda não valoriza
as redes sociais como deveria. Nem consegue mostrar, pelos veículos
tradicionais, uma administração em movimento. Parece que funciona aos
trancos e barrancos. Segue ao contrário a máxima de Ricupero: o que é
ruim a gente mostra, o que é bom a gente esconde.
No entanto, o
crescimento do movimento “volta, Lula” é o fator que mais fragiliza
Dilma neste momento. Mais do que os soluços da inflação. Mais do que a
precária capacidade de comunicação do governo. Ambos fatores
aparentemente sem solução a curto prazo.
O manifesto de 20
deputados do PR pedindo a volta de Lula à Presidência é um pálido
sintoma do desejo ardente de muitos. A maioria esmagadora da base
governista prefere Lula a Dilma. A questão é como fazer a omelete sem
quebrar os ovos!
Substituir Dilma não fácil. Ela não vai tão mal a
ponto de poder ser simplesmente defenestrada. Nem tão bem a ponto de
ser querida por unanimidade.
O ideal para a base governista é que
Dilma e seu governo comecem a se comunicar mais e melhor e, sobretudo,
que apresentem melhores resultados no campo econômico. Além disso, que
ampliem as bases de diálogo e não abusem da paciência da maioria que
ainda apoia sua gestão.
Para a oposição, continuando do jeito que
está, o segundo turno parece ser inevitável. E, em acontecendo, haverá
briga de faca em quarto escuro.
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