sexta-feira, 2 de maio de 2014

Chinesa presa em 1989 está desaparecida a dias de aniversário de ato na Praça da Paz Celestial
Michael Forsythe e Chris Buckley - NYT
Gao Yu, uma proeminente jornalista chinesa que foi presa após a repressão aos protestos estudantis de 1989, ocorridos na Praça da Paz Celestial ou Tiananmen, desapareceu. Os amigos dela dizem que a jornalista pode ter sido detida antes do 25º aniversário da repressão armada.
Yao Jianfu, membro aposentado do partido oficial que comanda a China, pesquisador de políticas públicas em Pequim e amigo de Gao, disse que a jornalista deveria ter participado de uma reunião ocorrida no sábado passado em Pequim.
O encontro comemorou a publicação, em 26 de abril de 1989, de um editorial pelo Diário do Povo, de que classificou os protestos estudantis como "tumultos" e ampliou as divisões sobre como a liderança do país deveria lidar com os manifestantes que ocupavam a Praça Tiananmen. O encontro entre ex-membros do partido e estudiosos também serviu para prestar homenagem a Chen Yizi, ex-assessor do falecido secretário do Partido Comunista Zhao Ziyang e que se opôs à repressão, disse Yao. Chen, que era uma figura importante em 1989, morreu em Los Angeles no início deste mês.
"Ninguém consegue contatá-la há três dias", disse Yao em entrevista por telefone concedida a partir de Pequim. "Ela disse que iria (ao encontro), mas não apareceu. Logo depois, nós não conseguimos mais entrar em contato com ela". Ninguém atendeu as ligações feitas para o telefone dela, e o filho de Gao Yu também não atendeu nenhuma chamada, disse ele.
No domingo passado, Teng Biao, advogado e ativista da área de direitos humanos, disse em sua conta no Twitter que Gao Yu tinha desaparecido há quatro dias. A edição em língua chinesa da agência de notícias alemã Deutsche Welle, que publicava colunas de Gao, informou em comunicado que ela enviou o último e-mail na quarta-feira passada, e que a agência de notícias não conseguia contatá-la desde então. Gao, que era ativa nas mídias sociais, postou sua última mensagem no Twitter em 23 de abril passado.
Na China, os ativistas geralmente são presos antes de grandes comemoração, e o evento que marcará os 25 anos dos assassinatos de 4 junho de 1989 na Praça Tiananmen tem recebido muita atenção por parte de estudiosos e de ativistas que trabalham para preservar a memória do ocorrido diante dos esforços do governo para proibir as discussões sobre o tema. O desaparecimento de Gao pode ser o primeiro de muitos que devem ocorrer antes do evento de 4 de junho.
Gao passou anos encarcerada na China devido à indignação oficial relacionada a seus artigos. Em 1988, ela escreveu um artigo publicado no Mirror Monthly, de Hong Kong, que foi classificado pelo prefeito de Pequim como modelo perfeito para estimular "tumultos e rebeliões", e ela ficou detida durante 14 meses após a repressão aos manifestantes da Praça Tiananmen, de acordo com uma biografia divulgada no site da UNESCO, a agência cultural da Organização das Nações Unidas (ONU), que lhe concedeu o Guillermo Cano World Press Freedom Prize em 1997.
Posteriormente, ela foi presa e passou seis anos encarcerada entre 1993 e 1999 sob a acusação de vazar segredos de estado. Ela recebeu liberdade condicional por motivos médicos em 1999. Enquanto estava na prisão, ela também recebeu o prêmio Courage in Journalism, em 1995, da International Women's Media Foundation.
As colunas que Gao escrevia para a Deutsche Welle, que muitas vezes continham críticas mordazes à liderança do partido comunista chinês, que incluía o secretário-geral Xi Jinping, também expunham notícias e boatos – alguns deles em tom sombriamente conspiratório – sobre a elite política do país.
Gao tinha sido avisada pelas autoridades chinesas para não falar com os repórteres antes da comemoração de 4 de junho, disse Yao em entrevista concedida por telefone.
Centenas, se não milhares de pessoas morreram em 3 e 4 de junho de 1989, quando as tropas do exército entraram na capital chinesa para retirar à força os estudantes que se manifestavam na Praça Tiananmen. A sangrenta repressão às manifestações marcou o fim dos movimentos generalizados da sociedade e do governo da China que tinham como objetivo impulsionar a liberalização política no país.
Yao disse que Gao já tinha sido detida diversas vezes antes. Segundo Yao, alguns dos amigos de Gao especulavam que seus comentários sem rodeios e suas entrevistas com repórteres estrangeiros podem ter irritado as autoridades em um momento delicado.
"As autoridades provavelmente disseram a Gao que ela não deveria falar antes de 4 de junho – o que eles também disseram a outras pessoas, como Bao Tong e eu", disse Yao, referindo-se a um ex-assessor de Zhao que foi preso após a repressão de 1989.
Yao disse que tinha sido advertida pelo governo chinês para não publicar em livro seus ensaios sobre o dia 4 de junho.
"Eles exigiram que eu lhes desse garantias por escrito assegurando que eu não lançaria um livro sobre o 4 de junho, pois esse ano é comemorado o 25º aniversário dos protestos", disse ele. "E eu dei garantias por escrito de que eu não iria lançar um livro sobre o 4 de junho".
"Mas eu disse que, se outras pessoas compilassem meus ensaios, eu não teria nenhuma responsabilidade em relação a isso – nem antes nem agora nem no futuro. Da mesma maneira que Li Bai e Du Fu não têm nenhuma responsabilidade por aparecem em uma coletânea de poesia Tang", disse Yao, referindo-se a dois dos mais famosos poetas da China, que viveram no século 8.
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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