Como conter o brasilicídio?
Zero Hora
O Brasil está diante de
um retrato sem retoques de uma de suas mazelas históricas. É o estudo
sobre homicídios no país, segundo o qual a taxa de assassinatos em 2012 é
a mais alta desde 1980. Foram mortas 56,3 mil pessoas, uma taxa de 29
vítimas por 100 mil habitantes. É a comprovação da falência das
políticas públicas na área da segurança e das deficiências dos planos de
prevenção contra a delinquência e até mesmo da insuficiência de
programas de transferência de renda. O estudo do Sistema de Informações
de Mortalidade, do Ministério da Saúde, confronta os brasileiros com uma
realidade que avanços econômicos e sociais não conseguem mascarar e que
está a exigir abordagem urgente não só das autoridades, mas de todos os
que se dedicam à compreensão dos fenômenos relacionados com a
violência.
Não há, no entanto, com o que se surpreender. A pesquisa
consolida dados alarmantes, que se repetem ano a ano, e refletem uma
realidade que está nas ruas. A sensação de insegurança amplia-se na
medida em que o Brasil se transforma num país violento, com índices de
homicídio comparáveis aos de cenários de guerra. Somente entre 2011 e
2012, o número de assassinatos cresceu 7,9%. De cada três crimes, em
dois as vítimas são negras. A crueldade que leva a morte, às vezes em
circunstâncias aparentemente banais, passa a crescer num ritmo maior em
cidades do Interior. As migrações fortalecem e, ao mesmo tempo, degradam
novos polos regionais. O tráfico, o acesso a armas, a impunidade e a
banalização da resolução de conflitos com mortes são apenas parte das
explicações.
Tudo fica ainda mais assustador, para quem tenta
compreender a desconexão entre melhorias sociais e aumento de
homicídios, quando as taxas de assassinatos do Brasil são confrontadas
com as de outros países. No Japão, o índice é de apenas 0,3 assassinatos
por 100 mil, ou seja, temos aqui uma taxa cem vezes maior. Na
comparação com vizinhos, como o Uruguai, também ficamos em situação
vexatória. Os uruguaios têm um índice de nove por 100 mil, mesmo que
também venham enfrentando aumento da criminalidade. Os gaúchos não têm
com o que se consolar _ a taxa no Estado é de 21,9 por 100 mil.
O
estudo não se propõe a indicar soluções, e são conhecidas as análises
sobre o esgotamento das ações na área de segurança, incapazes de
contemplar as mudanças estruturais no perfil da criminalidade. O Brasil
deve admitir, a partir de análises como essa, que suas polícias estão
superadas, que o sistema penitenciário faliu e que as instituições,
inclusive a Justiça, estão com a imagem abalada junto à sociedade. As
estatísticas sobre homicídios também desafiam os candidatos a formular
propostas concretas, e não mensagens vagas e genéricas, para que o país
enfrente uma situação degradante para uma nação que aspira ser potência
mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário