Surto agudo de mau humor
Desânimo extra com a economia em maio era inédito desde a crise de 2008. É para tanto?
Vinícius Torres Freire - FSP
HÁ UMA CRISE de
confiança aguda na economia desde abril, sentimento ruim que, acabamos
de saber, piorou em maio numa intensidade inédita desde 2008, quando a
economia mundial parecia desmoronar devido à implosão da finança
americana.
Trata-se de um exagero temporário devido a tumultos
nas ruas, greves, protestos, tensão pré-campanha eleitoral? Trata-se de
uma reação mais fundamentada aos sinais concretos de esfriamento da
economia, porém nem assim tão intensos?
O desânimo de
consumidores e empresários da indústria e dos serviços assemelha-se ao
do ano recessivo de 2009. No caso de construção e comércio, o ânimo é um
dos menores desde os anos de início dessas estatísticas, em 2010 ou
2011.
A sensação é captada pelas pesquisas da FGV ou das entidades empresariais.
A
tendência de baixa da confiança é quase contínua desde meados de 2012,
declínio regular com exceção da piora extraordinária que ocorreu com os
protestos de junho de 2013 e a disparada do dólar de julho-agosto
daquele ano.
Temos vivido outro surto entre abril e maio deste 2014.
No
que diz respeito a fatos da economia, a novidade recente é que a frente
fria começou a chegar ao mercado de trabalho, ao menos nas metrópoles,
onde a população empregada parou de crescer faz uns seis meses e o total
dos salários pagos estagnou em março, abril.
No mais, o clima
era ainda de piora ou desmelhora gradual: crédito desacelerando, juros
altos, inflação resistente, vendas de varejo crescendo menos, produção
industrial no nível de 2008, com altas e baixas que se anulam. Há
notícias pontuais preocupantes, como as férias coletivas em montadoras
de veículos e, agora, em grandes produtores de eletrodomésticos, como a
Whirlpool.
No curtíssimo prazo, a perspectiva de interrupções e
empecilhos à produção e vendas devidas a protestos, tumultos e feriados
da Copa pode estar minando a confiança de parte do empresariado nos
negócios até julho, pelo menos. As notícias recentes de estagnação no
emprego não devem suscitar decerto expectativas de vendas maiores.
Deve
estar ficando mais intenso o sentimento de que 2015 deve ser muito
fraco, ao menos muito obscuro, devido à eleição. Mesmo na ausência de
"medidas impopulares" (ajuste econômico recessivo), no mínimo o efeito
dos juros altos e da penúria do governo, entre tantos outros problemas,
permite prognosticar um ano novo não muito diferente deste 2014, que
parece precocemente envelhecido.
Isto posto, ainda não conhecemos
com precisão o desempenho da economia nem no primeiro trimestre. O
resultado do PIB sai apenas amanhã, de resto com mudanças na metodologia
de cálculo.
Observadores ponderados esperam um desempenho pior
que o do trimestre final de 2014. Esses economistas, de grandes bancos e
consultorias, vinham estimando um crescimento em torno de 1,5% para o
ano. Se o resultado do PIB confirmar as análises baseadas nos dados
parciais, vão começar a revisão de suas estimativas para o ano na
direção de crescimento de 1%. Ou seja, de crescimento quase zero da
produção, do PIB, per capita.
Melhor que estejamos errados, na desconfiança e nas estimativas.
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