Perna Curta
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA
- O pronunciamento de Dilma Rousseff para o Primeiro de Maio, a dois
dias da convenção de dilmistas e lulistas, que ocorre hoje em São Paulo,
foi um risco político com requintes de crueldade.
A mesma Dilma que
aumentou o IOF para viagens internacionais bem no início das férias
agora anuncia a correção de 4,5% na tabela do IR na fonte no último dia
para a entrega das declarações deste ano. O Leão lambia os beiços
enquanto os brasileiros ouviam a presidente anunciar um saco de bondades
--para o ano que vem e o próximo governo.
Alguém acredita que Dilma possa ganhar um só voto da classe média e da massa de contribuintes com essa jogada marqueteira?
Na outra ponta, a
presidente anunciou um aumento de 10% no Bolsa Família, que atinge em
torno de 36 milhões de pessoas de um universo de eleitores já
naturalmente de Dilma, ou melhor, de Lula.
Alguém acredita que Dilma possa ganhar um só voto a mais dos beneficiários do programa a partir do pronunciamento na TV?
Bem, então o capital adorou o discurso, certo? Pelo contrário, só viu mais gastos e mais inflação.
Assessores palacianos
julgam o pronunciamento capaz de estancar a queda na popularidade e nas
intenções de voto, vendendo Dilma como "boazinha" diante de Aécio e
Campos, "malvados" prontos para sacar medidas impopulares.
Parece pouca areia para o
caminhão de críticas à presidente, ao seu governo e ao seu partido. E,
além disso, o histórico de pronunciamentos de Dilma é meio
constrangedor.
Num, ela meteu o dedo na
cara dos bancos privados, jactando-se da queda dos juros. Mas... os
juros voltaram a subir e já são maiores do que quando ela assumiu.
Noutro, capitalizou
politicamente a redução na conta de luz. Mas... a conta já voltou a
subir e vem aí aumento impostos para cobrir medidas estabanadas no setor
elétrico.
Esperteza costuma ter perna curta.
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