Febre nacionalista toma conta das ruas de Jerusalém e provoca palestinos
Laurent Zecchini - Le MondeO Dia de Jerusalém é celebrado todos os anos, mas fazia tempo que ele não provocava uma febre nacionalista como a que se manifestou na quarta-feira (28) nas ruas da Cidade Santa.
Sob uma floresta de bandeiras israelenses, com as quais se cobriam os ombros como se fossem capas, dezenas de milhares de manifestantes, alguns deles muito jovens, marcharam e dançaram nas principais artérias de Jerusalém Ocidental, bem como no bairro muçulmano da cidade antiga, sobretudo na entrada de Damasco, diante de turistas muitas vezes estupefatos por essa onda patriótica.
Com música e cânticos judaicos ao fundo, que podiam ser ouvidos em todo o centro da cidade, essas marchas fortemente vigiadas pela polícia comemoraram a "reunificação" de Jerusalém, após a anexação de sua parte oriental por Israel durante a guerra de 1967.
Elas são vistas como uma provocação pelos árabes de Jerusalém Oriental, impotentes em impedi-las: a polícia israelense havia ordenado a todos os lojistas que fechassem suas lojas antes da chegada da procissão. Como isso acontece de maneira recorrente, houve conflitos na esplanada das Mesquitas entre jovens palestinos e forças policiais.
Capital "indivisível"
Os israelenses, a começar pelo seu primeiro-ministro, como se tivessem se livrado de qualquer contenção desde o fracasso consumado das negociações de paz com os palestinos, no final de abril, reafirmaram sua determinação em não aceitar a divisão de uma cidade que eles consideram sua capital "indivisível", algo que a comunidade internacional nunca reconheceu."Há 47 anos Jerusalém foi unificada e ela nunca mais será dividida", disse Benjamin Netanyahu durante uma sessão especial da Knesset, o Parlamento israelense.
Nunca mais haverá congelamento da construção em Jerusalém e, "entre o Jordão e o mar [Mediterrâneo], haverá um único Estado, o Estado de Israel", disse Uri Ariel, ministro da Habitação e membro do partido nacionalista religioso Habayit Hayehoudi ("A casa judaica").
Como era de se esperar, Mahmoud Abbas, presidente palestino, reafirmou sua posição: "Jerusalém Oriental [a parte árabe] é a capital do Estado da Palestina, e não haverá nenhum acordo sem que essa verdade intangível seja reconhecida".
Essas manifestações nacionalistas não são aprovadas por toda a classe política israelense. Para o deputado Issawi Freij, do partido Meretz (esquerda), os manifestantes, longe de celebrarem Jerusalém, comungaram sobretudo na "beligerância, na arrogância e na provocação".
A "dança das bandeiras [israelenses] é um desfile do ódio nos bairros árabes, por parte de militantes radicais de extrema direita", ele ressaltou.
O Dia de Jerusalém se desenrolou enquanto Netanyahu começava a tirar suas próprias conclusões sobre o fracasso do processo de paz. O primeiro-ministro confirmou que vem estudando uma iniciativa política unilateral que consistiria em anexar certas partes da Cisjordânia, indo assim no sentido das teorias defendidas por Naftali Bennet, ministro da Economia e líder do partido Habayit Hayehoudi.
Se uma linha extremista como essa se confirmar, certamente provocará uma crise governamental.
Tzipi Livni, ministra da Justiça e líder do partido centrista Hatnouah ("O movimento"), ameaçou na quarta-feira deixar a coalizão: "Não haverá anexação enquanto eu estiver no governo", ressaltou Livni, que é encarregada do dossiê das negociações com os palestinos.
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