Anne Barnard - NYT
Khaled al-Hariri/Reuters
28.abr.2014
- Apoiadores do presidente sírio, Bashar al-Assad, comemoram o anúncio
de que ele vai concorrer à reeleição para um terceiro mandato nas
eleições de junho no país, nesta segunda-feira (28). Assad submeteu
formalmente sua candidatura à corte constitucional da Síria
Os sírios que vivem no Líbano lotaram a embaixada de seu país aqui em Yarze na quarta-feira passada para votar antecipadamente em uma eleição presidencial fortemente contestada e que quase certamente manterá o presidente Bashar Assad no poder. O grande número de pessoas que compareceram para votar surpreendeu até mesmo os funcionários da embaixada e provocou um grande congestionamento em uma das principais estradas de Beirute durante grande parte do dia.
Nem uma única
pessoa entre os vários eleitores entrevistados disse ter votado em outro
candidato que não Assad, que, pela primeira vez nas quatro décadas em
que sua família está no poder, terá duas figuras pouco conhecidas como
adversários.Os sírios que vivem no Líbano lotaram a embaixada de seu país aqui em Yarze na quarta-feira passada para votar antecipadamente em uma eleição presidencial fortemente contestada e que quase certamente manterá o presidente Bashar Assad no poder. O grande número de pessoas que compareceram para votar surpreendeu até mesmo os funcionários da embaixada e provocou um grande congestionamento em uma das principais estradas de Beirute durante grande parte do dia.
Alguns eleitores declararam seu apoio entusiasmado a Assad. Outros disseram que se sentiram obrigados a votar nele por medo de serem impedidos de retornar para casa ou de terem que enfrentar represálias dos poderosos partidários de Assad que vivem no Líbano.
Outros sírios que moram nos arredores de Beirute disseram que não foram votar porque consideram a eleição uma farsa insultante.
Assad tem resistido a uma insurgência que começou com protestos três anos atrás e, posteriormente, explodiu e se transformou em uma guerra civil. Os oponentes do presidente sírio rejeitam a própria noção de uma eleição realizada por um governo sem histórico de tolerância à dissidência em meio a um conflito que já matou cerca de 160 mil sírios e obrigou mais de 9 milhões a deixarem suas casas – desses, 2,5 milhões atualmente estão refugiados fora do país.
Com a eleição na Síria marcada para próxima terça-feira, a votação para os sírios que vivem no exterior foi realizada na quarta-feira passada nas 43 embaixadas espalhadas pelo mundo, apesar de vários países, incluindo a França, terem se recusado a permitir a realização do pleito. A eleição serviu como uma espécie de ensaio geral e como um importante ponto de inflexão no conflito.
Os partidários de Assad disseram que o pleito renovou a legitimidade do presidente sírio e mostrou que muitos o apoiam livremente, apesar de as cenas observadas em algumas sessões de votação terem aprofundado os questionamentos sobre a credibilidade do processo, pois não havia cabines privadas, alguns eleitores eram menores de idade e o controle de quem recebia as cédulas de votação era aparentemente bastante frouxo.
Os opositores, que realizaram protestos em algumas cidades, admitiram jamais esperar que Assad sobrevivesse no cargo tempo suficiente para concorrer a um novo mandato de sete anos. Algumas pessoas disseram que os sírios, exaustos da guerra e com medo de que a alternativa a Assad pudesse envolver extremistas islâmicos, provavelmente votarão nele por acreditarem que o presidente está ganhando – e por pensarem que Assad é o menor de dois males.
Dentre todos os locais onde a eleição síria no exterior foi realizada, o dia foi mais dramático no Líbano, uma nação de 4 milhões de habitantes que abriga mais de 1 milhão de refugiados registrados oficialmente – mais do que qualquer outro país do mundo. Autoridades libanesas dizem que o país também abriga aproximadamente mais 1 milhão de sírios ilegais, entre os quais expatriados, trabalhadores e refugiados que temem se registrar.
A Síria ocupou o vizinho Líbano durante muito tempo e ainda exerce uma forte influência por aqui por meio de seu aliado Hezbollah – a milícia xiita que também é o partido político mais poderoso do país –, que envia combatentes para apoiar o governo sírio.
Centenas de milhares de refugiados foram excluídos das eleições devido às regras que exigiam que os eleitores residentes no exterior tivessem deixado a Síria através de postos de fronteira oficiais. Muitos refugiados cruzaram as fronteiras porosas localizadas nas montanhas por acharem melhor percorrer uma rota mais rápida e segura ou por temerem as autoridades.
Outros se recusaram a votar. Em Shatila, um campo de refugiados palestinos localizado no sul de Beirute e que hospeda milhares de sírios, Ahmed, 34, um carpinteiro da cidade síria de Raqqa, situada no nordeste do país, disse que nunca votaria no homem "que me transformou num refugiado humilhado". Ahmed não quis informar seu nome completo por temer represálias.
Mas bem perto desse campo de refugiados, Umm Mohammad, 50, que é de Aleppo, disse que tomou um ônibus providenciado pelo Hezbollah para votar. "Eu odeio Bashar, mas aqui somos apenas estranhos e não temos nenhuma força", disse ela, acrescentando que seu filho foi espancado quando um membro da milícia pró-Assad viu a bandeira da oposição em seu apartamento.
Outros exibiam um entusiasmo que não parecia fingido. Souad Abu Hilal, uma esteticista, usava uma camiseta com os dizeres "shabiha forever" ("shabiha para sempre"), em referência às milícias pró-governo detestadas pela oposição, e declarou: "todos os países têm coisas ruins. Bashar vai corrigir tudo que está errado na Síria".
Não obstante, a estrada que leva até a embaixada se tornou palco da maior reunião de sírios já vista por aqui, enquanto dezenas de milhares de pessoas – talvez mais – tentavam votar.
Recentemente, as autoridades libanesas proibiram manifestações políticas realizadas por sírios para evitar conflitos. Mas, ao longo da rodovia obstruída, vigiados por forças de segurança libanesas, homens se postaram ao lado dos carros enfeitados com retratos de Assad e bandeiras do governo sírio e do Hezbollah. Em nenhum lugar se viram as fotos dos outros candidatos, e muito menos a bandeira da oposição síria.
A multidão que foi até a embaixada – e que, ocasionalmente, cantava "com nossas almas, com nosso sangue, nós nos sacrificamos por ti, ó Bashar!" – lotaram a única sessão de votação, instalada em uma pequena sala e equipada com apenas quatro urnas. Os funcionários da embaixada estenderam o horário de votação até a meia-noite, mas afirmaram que não tinham certeza se seriam capazes de atender nem os 100 mil que tinham se registrado previamente para votar.
Os funcionários anotavam nomes e números de identidade dos eleitores. Sob retratos de Assad e de seus supostos adversários, Hassan al-Nuri e Maher al-Hajjar, voluntários distribuíam as cédulas de votação – que eram entregues até mesmo para os jornalistas estrangeiros – sem exigir o título de eleitor ou outra forma de identificação.
Ahmed al-Ali, 16, funcionário de um restaurante de Aleppo, marcou a cédula de votação com seu próprio sangue e, em seguida, esfregou seu rosto nela. Em seguida, ele declarou: "meu tipo sanguíneo é Bashar". A idade mínima para votar nas eleições sírias é 18 anos.
Em meio à confusão sobre o processo, muitos eleitores, alguns deles analfabetos, pediam aos funcionários das sessões eleitorais para que preenchessem suas cédulas de votação – e eles escreviam seus nomes nelas e não selavam os envelopes. No centro de Beirute, os opositores do governo Assad que pertencem à classe média disseram que podiam se dar ao luxo de não votar por terem meios seguros para se sustentar fora da Síria. Uma mulher disse que seu marido, que viaja constantemente para Damasco, planejava votar para evitar problemas e porque ele acredita que Assad tem mais chances de acabar com o caos na Síria. Mas ela afirmou que não votaria "de jeito nenhum" em alguém "que destruiu o país para manter-se no poder".
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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