sexta-feira, 30 de maio de 2014

Geólogos apontam risco de abalos sísmicos em extração submarina de gás na Espanha
Elena G. Sevillano - El País
Vincent Kessler/Reuters
Membros do Parlamento Europeu seguram cartazes contra a utilização da técnica de 'fracking' na exploração de gás natural, na França, método semelhante ao usado na Espanha Membros do Parlamento Europeu seguram cartazes contra a utilização da técnica de 'fracking' na exploração de gás natural, na França, método semelhante ao usado na Espanha 
Relatório do Instituto Geológico confirma que não foi estudado o risco sísmico das zonas de extração
Geólogos alertam sobre a "elevada incerteza" que apresenta o Projeto Castor, um depósito de gás submarino situado diante das costas de Vinaròs (Castellón), no leste da Espanha, cuja atividade foi relacionada, em vários relatórios oficiais, aos mais de 500 abalos sísmicos registrados na região em setembro passado.
O novo relatório, do Igme (Instituto Geológico e Mineiro Espanhol), indica a "elevada incerteza sobre o nível de risco concorrente" da instalação. E afirma que chegou a essa conclusão depois de comprovar a "sismicidade gerada até o momento" e a "grande presença constatada de falhas importantes no entorno do depósito, suscetíveis de gerar sismos de certa magnitude". Sua recomendação é concretizar esse risco "na medida do possível", fazendo novos estudos.
O Ministério da Indústria encomendou dois relatórios depois da crise sísmica do Castor. Um deles, do IGN (Instituto Geográfico Nacional), foi conhecido quatro meses após ter sido elaborado, quando o ministério decidiu atender ao pedido do deputado Ricardo Sixto, da IU, e enviá-lo ao Congresso. O outro, do Igme, está datado de 20 de dezembro passado, mas a indústria não o remeteu à Câmara até esta última segunda-feira (26), um dia depois das eleições europeias. Ambos os relatórios constatam a relação entre a injeção de gás em Castor e os tremores registrados na zona de Vinaròs.
O relatório do Igme afirma, a esse respeito: "A origem da sismicidade passada (...) está temporariamente relacionada às operações de injeção de 'gás colchão' [gás natural para tapar os furos da rocha]".
A crise do Castor se desencadeou no início de setembro passado, quando começaram a ocorrer pequenos terremotos na zona de Vinaròs. A empresa que administra a plataforma (Escal UGS, propriedade em 67% da ACS) havia começado em junho a injetar 'gás colchão', um volume mínimo de gás natural que deve existir em um armazém desse tipo para que se possa injetar e posteriormente extrair o gás útil.
Segundo o documento do Igme, a sismicidade está relacionada a essas operações de injeção de gás e "coincide com um aumento do volume injetado, assim como com o aumento da proporção de volume injetado por dia, em relação às etapas anteriores".
Em 24 de setembro ocorreu o primeiro abalo notado pelos habitantes de cidades próximas. O Ministério da Indústria ordenou o cancelamento da atividade em 26 de setembro. A instalação continua paralisada desde então, e o governo ainda não decidiu se será de forma definitiva. O PP rejeitou no Congresso, na quarta-feira (28), uma iniciativa da CiU para paralisar de forma definitiva e permanente o Projeto Castor.
Os geólogos descrevem dois grupos de tremores. O primeiro, principalmente de baixa magnitude, corresponde a "sismicidade induzida" e coincide com as atividades de injeção de 'gás colchão' durante o mês de setembro.
O segundo grupo, de "sismicidade disparada", ocorreu depois de paralisadas as atividades de injeção e registrou terremotos de magnitude mais elevada, entre 3,5 e 4,2. Ocorreram, acrescenta o relatório, "em reação à mudança de condições tensionais em algumas das falhas do entorno do depósito".
Nesse sentido, explica o texto, os terremotos de maior magnitude são provavelmente "consequência da interação dinâmica entre o movimento de pequenas falhas de sentido NW-SE e uma falha maior de sentido NE-SW". Esta, que chamam de falha Castor, como adiantou este jornal, era desconhecida até então.
A documentação enviada ao grupo da IU no Congresso confirma que o risco sísmico da região não foi estudado previamente. De fato, recomenda fazê-lo agora.
O relatório pede "que seja desenvolvido um estudo de periculosidade sísmica das falhas ativas ou potencialmente ativas no entorno do depósito e seus prováveis prolongamentos fora da área do estudo deste relatório". Esse estudo deveria propor diferentes "cenários de risco", acrescenta, sobre os quais "será estimado o nível provável de abalo do terreno nas populações costeiras e a possível variação nas condições de aptidão do armazenamento subterrâneo".
O Igme validou em 2007 os estudos técnicos apresentados ao Ministério da Indústria pela empresa que iria construir o projeto Castor. As propostas da companhia "são consideradas procedentes", conclui o informe, datado de 23 de janeiro de 2007, considerado de "caráter confidencial", mas ao qual este jornal teve acesso.
O Igme, que realizou o relatório a pedido da Direção Geral de Política Energética e Minas --então sob o governo socialista--, determinou que a possibilidade de que a falha de Amposta, sobre a qual se assenta o depósito, fosse reaberta pela pressão era "muito pequena". A Escal UGS acabava de apresentar o pedido de uma concessão administrativa para explorar o Castor.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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