Rodrigo Constantino - VEJA
É tanta coisa que quase deixei passar essa notícia: Projeto no Iraque reduz a idade mínima de casamento para xiitas mulheres para 9 anos
Aliados do
premiê xiita Nuri al-Maliki querem implementar um novo código da família
que vai na contramão da atual Lei do Status Pessoal, uma das mais
favoráveis à mulher em países árabes.
A proposta
se destina exclusivamente aos xiitas (60% da população), que passariam a
ter possibilidade de recorrer a tribunais religiosos em vez dos civis. O
pacote de mudanças é chamado de Lei Jaffari, em homenagem a Jaffar Al
Sadiq, santo do islã xiita.
A
tramitação, que já passou pelo Conselho de Ministros, está em pausa
devido à eleição legislativa de amanhã. Mas o favoritismo dos candidatos
islamitas gera temores de que a lei poderá ser aprovada pelo novo
Parlamento.
“Somos um
país islâmico, por isso devemos seguir a sharia [lei islâmica]. É melhor
que a lei civil”, diz Jamila Ali Kirani, 45, do partido xiita Dawa, o
mesmo de Maliki. “Passamos muito tempo sob lei sunita, queremos uma lei
para nós”, diz, numa referência ao fato de o Iraque ter sido governado
por sunitas por quase todo o século 20.
A Lei
Jaffari visa diminuir a idade mínima de casamento para mulheres de 18
para 9 anos de idade. O artigo 79 determina que uma mulher só pode pedir
divórcio se provar que o marido é impotente ou que seu pênis foi
amputado.
Xiitas
iraquianas, caso o texto seja aprovado, só poderão sair de casa com
autorização do marido e deverão estar sempre disponíveis para relações
sexuais. A lei incentiva a poligamia.
A iniciativa
também visa banir casamentos entre muçulmanos e pessoas de outra
religião – o que, para estudiosos, contraria o Alcorão.
Coisa de xiita mesmo! Esse tipo de
notícia coloca em xeque os ungidos multiculturalistas ocidentais. Como
não há culturas atrasadas segundo eles, apenas “diferentes”, e como a
democracia, entendida apenas como escolha da maioria, é um valor
absoluto, como condenar quando a maioria de um povo escolhe por voto a sharia?
Não custa lembrar que impor a sharia,
a lei islâmica, é o objetivo de muito muçulmano, não apenas uma minoria
insignificante. O Islã ainda não chegou a seu iluminismo, ainda não
sabe o que é estado laico, vive mergulhado no passado, sem separação
alguma entre religião e estado.
Escrevi aqui uma resenha do ótimo livro de Andrew McCarthy, Spring Fever,
em que ele derruba esse mito confortante aos ocidentais de que a ala
moderada é a mais forte dentro do Islã. Infelizmente, não é. Os
moderados precisam de apoio, claro, mas hoje são minoria. Escrevi:
McCarthy não
tem medo de concluir que, nos termos de Samuel Hutington, trata-se de
um “confronto de civilizações”. Não reconhecer isso é um perigo, pois o
outro lado avança de forma agressiva. A meta das lideranças islâmicas,
com o apoio da maioria do povo, é o “renascimento islâmico”, o resgate
de uma época de predominância do Islã.
Os que são
considerados “moderados” pela esquerda ocidental não escondem o mesmo
sonho, e simpatizam com os terroristas, retratados por eles como
“resistentes”. O ódio a Israel e aos Estados Unidos está presente
também, mas muitos fingem não ver. McCarthy resume sem rodeios: “Nesta
região antidemocrática, a democracia real não tem a menor chance contra a
supremacia islâmica”.
Como discordar quando vemos esse tipo de
notícia? Está certo que no Ocidente mulheres casavam com 13 anos às
vezes. Mas no mínimo há um século isso não ocorre. Eram outros tempos, a
expectativa de vida era bem menor. Crianças deixavam de ser criança
antes. Agora, em pleno século XXI, forçar uma criança de 9 anos a se
casar? Isso é monstruoso! E prova o atraso islâmico, não “apenas diferenças”.
O pior é que os muçulmanos contam com o
respaldo do profeta, e como não aprenderam a contextualizar as coisas,
não entenderam ainda que os hábitos evoluem, ficam presos no século VII,
como se os cristãos quisessem viver exatamente como se vivia há dois
mil anos (alguns fundamentalistas querem, mas são minoria). Em Esquerda Caviar eu disse:
Os
intelectuais de esquerda infantilizaram tanto a humanidade, com a crença
de que ninguém mais é responsável pelos seus atos, que chegaram ao
limite de tolerar ou mesmo até respeitar os pedófilos! São infantis
“inocentes” defendendo os infantis monstruosos. Será que a revolução
cultural marxista não tem mesmo limites? Até onde vai na confusão entre
liberdade e libertinagem?
A crescente
islamização do mundo ocidental tende a agravar o problema. Afinal,
apesar do tabu e de poucos falarem disso, consta que o próprio profeta
Maomé gostava de crianças, e inclusive se casou com uma. Alá o teria
autorizado a casar com a filha de seis anos de seu amigo Abu Bakr e a
consumar o matrimônio quando a menina Aisha tivesse apenas nove anos. A
esquerda caviar ocidental pretende tratar isso como algo normal?
Chegamos ao impasse dos
multiculturalistas: aceitam que cada cultura é “apenas diferente” e que
não há bárbaros, portanto, ou constatam o óbvio, que certas sociedades
ainda vivem presas a valores abjetos que ignoram completamente as
liberdades básicas dos indivíduos. Qual vai ser a opção?
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